Rússia e Ucrânia não chegam a acordo sobre nova troca de presos em negociações na Turquia
Combates mais ferozes e mais intensos continuam em Soledar
Rússia e Ucrânia não chegaram a um acordo sobre uma nova troca de prisioneiros durante as recentes negociações na Turquia — disse a representante de Moscou à AFP nesta quinta-feira (12).
A comissária de Direitos Humanos da Rússia, Tatiana Moskalkova, manteve essas negociações em Ancara na quarta-feira (11) com seu homólogo ucraniano, Dmytro Lubinets.
Mais tarde, foi citada pela imprensa turca, afirmando que havia sido acordado trocar "mais de 40 prisioneiros" de cada lado. Moskalkova explicou que esses comentários se referiam a prisioneiros trocados no passado.
"Alguém entendeu mal as coisas. Estávamos conversando sobre o resultado do nosso trabalho anterior. Essas trocas já aconteceram", disse Moskalkova, à margem de uma conferência internacional na capital turca.
Moskalkova acrescentou que ela e Lubinets trocaram listas de soldados feridos, visando a uma possível troca futura. "Esses acordos são fechados entre exércitos, e trabalhamos de mãos dadas com eles", destacou.
Moscou e Kiev tiveram pouco contato direto desde que a Rússia invadiu seu vizinho há 11 meses. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tentou aproveitar suas boas relações com ambas as partes para buscar promover negociações de paz.
Na quarta-feira, Erdogan disse que apoia a ideia de abrir um corredor humanitário permanente na zona de conflito. Moskalkova considerou que se trata de uma "proposta muito importante", que deve ser discutida e acordada com o presidente russo, Vladimir Putin.
"O retorno dos feridos é um tema constante de conversa, e o senhor Erdogan propôs uma nova maneira de resolver este assunto", declarou a representante russa.
Soledar
O Exército ucraniano lutou nesta quinta-feira (12) em Soledar, apesar de a situação ser "difícil", e os combates, "ferozes", nesta pequena cidade do leste do país, que as forças russas tentam conquistar para dar uma virada favorável em sua campanha militar. "Os combates mais ferozes e mais intensos continuam na área de Soledar", disse a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Ganna Malyar, à imprensa.
A vice-ministra acrescentou que, "apesar da situação difícil, os soldados ucranianos lutam sem descanso", para não permitir que as forças russas, compostas principalmente por mercenários do grupo paramilitar Wagner, ataquem em seguida a cidade vizinha de Bakhmut.
Conhecida por suas grandes minas de sal, Soledar fica a apenas 15 quilômetros a nordeste de Bakhmut, a grande cidade da região, que as forças russas tentam tomar desde o verão, até agora sem sucesso.
"Cada vitória é importante, especialmente porque não há vitórias há algum tempo" do lado russo, disse o analista militar Alexander Khramchijin, referindo-se a Soledar, uma cidade de 10.000 habitantes antes da guerra e agora devastada.
Na quarta-feira (11), o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, apressou-se em anunciar que seus homens controlavam Soledar, mas o Ministério da Defesa da Rússia e Kiev rapidamente negaram.
Nesta quinta-feira, o Kremlin destacou "o trabalho gigantesco" e as "ações heroicas" dos homens de Wagner na linha de frente. "Há muito trabalho a ser feito. Não há tempo para parar e esfregar as mãos", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, à imprensa.
"A Rússia envia milhares de seus cidadãos para o matadouro, mas estamos aguentando", insistiu a vice-ministra Ganna Malyar nesta quinta-feira, elogiando a "resiliência e heroísmo" das forças ucranianas.
Desde o verão passado, a Rússia tenta assumir o controle desta área da região de Donetsk, depois de ter sofrido vários reveses que levaram seu presidente, Vladimir Putin, a mobilizar centenas de milhares de reservistas e a lançar uma campanha de bombardeios contra as infraestruturas energéticas.
Sem fornecer números, Malyar disse hoje à imprensa que as tropas russas que combatem em Soledar "estão sofrendo grandes perdas" em sua tentativa "malsucedida" de romper a linha de defesa ucraniana.
Kiev não estimou o número de soldados mortos e feridos na região. Em entrevista à AFP na quarta-feira, o conselheiro da Presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, citou "perdas significativas".
Em Bakhmut, a médica Elena Molchanova, de 40 anos, continua tratando os últimos pacientes civis que permaneceram na cidade, apesar dos bombardeios.
"Não temos seringas, nem agulhas suficientes para insulina. Os estoques de medicamentos para o coração acabam muito rápido. Temos paracetamol, mas isso não vai curar os pacientes", disse à AFP.