AFP
O presidente da França, Emmanuel Macron, permaneceu firme nesta terça-feira (21) em suas posições sobre a impopular reforma da Previdência, depois que a adoção da lei por decreto enfraqueceu o governo e radicalizou os protestos há quase uma semana.
O chefe de Estado liberal quebrará o silêncio na quarta-feira em entrevista à televisão às 12h GMT (9h no horário de Brasília).
Em reunião com seus aliados, Macron já antecipou que não reformará seu governo, não dissolverá o Parlamento, nem submeterá sua reforma a referendo, segundo relato de um dos participantes.
Desde meados de janeiro, Macron enfrenta forte oposição na França ao seu plano de adiar a idade de aposentadoria de 62 para 64 até 2030 e antecipar para 2027 a exigência de contribuir por 43 anos (e não 42 como agora) para se ter direito à pensão integral.
Sua adoção definitiva na segunda-feira, depois que o governo sobreviveu a duas moções de censura, inaugurou uma nova fase da política de atrito com um governo impassível diante das acusações da oposição de "repressão" policial aos manifestantes.
"Seu governo se comporta como um governo sitiado", disse a deputada ambientalista Cyrielle Chatelain à primeira-ministra Élisabeth Borne, enquanto sindicatos de advogados, magistrados e políticos de esquerda denunciavam a violência policial.
A decisão de Macron e Borne de impor seu plano sem submetê-lo à Assembleia Nacional (Câmara Baixa), onde temiam perder, desencadeou uma onda de protestos espontâneos, às vezes violentos, desde a última quinta-feira. As autoridades registraram mais de 1.200.
Na noite de segunda-feira, cerca de "2.000 manifestantes", segundo o chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, percorreram as ruas da capital queimando latas de lixo em seu caminho, em uma afronta às forças de segurança que os esperavam.
"Dizem que os jovens não se mobilizam. Aqui estamos. É pela aposentadoria e pelo restante. É um todo", declarou na segunda-feira à AFP uma estudante que pediu anonimato, durante o protesto em Paris. Quase 300 pessoas foram detidas na França nesta noite.
A primeira-ministra defendeu as forças de segurança durante uma tensa sessão na Assembleia, embora tenha alertado que "devem ser exemplares e ter consciência disso".
A situação também foi tensa na refinaria de Fos-sur-Mer (sul), onde as requisições de pessoal ordenadas para atenuar a escassez de combustível causada por greves desde o início de março deixaram três agentes feridos.
A contestação se dá de formas diferentes: cortes ocasionais de energia, cerca de 9.000 toneladas de lixo nas ruas de Paris, paralisação de universidades e escolas de ensino médio, bloqueio de estradas, invasões de estações de trem.
Na quinta-feira, os sindicatos - que já haviam alertado o governo de que temiam perder o controle dos protestos, caso não recuasse em sua reforma - convocaram o nono dia de manifestações, na sequência dos protestos maciços e pacíficos realizados desde janeiro.
Além da lei para aumentar uma das menores idades de aposentadoria da UE, Macron, reeleito em abril do ano passado no segundo turno com a candidata de extrema direita Marine Le Pen, enfrenta muitas dificuldades para aplicar seu programa reformista durante o segundo mandato, que vai até 2027.
Os observadores consideram que ele está enfraquecido. A agência de classificação Mody's disse, na segunda-feira, que, ao impor seu projeto de lei por decreto, "tornaria mais difícil a adoção de futuras reformas".
A imprensa avaliou que a vitória do governo na moção de censura por nove votos "tem gosto de derrota", e o jornal de esquerda Libération chegou a garantir que mergulhou em uma "crise política".
Enquanto aguarda que o Conselho Constitucional anuncie as decisões sobre os recursos apresentados pela oposição contra a reforma, o que adia sua promulgação, e o pedido por um referendo, Macron defende que o governo se concentre no futuro e em refletir sobre como mudar sua criticada forma de governar, sem maioria absoluta.
Educação, saúde, clima, migração e instituições são alguns temas que o presidente já citou. De acordo com um participante de uma reunião nesta terça-feira, ele pediu "propostas" nas próximas "duas a três semanas" sobre sua agenda de reformas e um cronograma.