O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, adiou nesta segunda-feira (27) o processo de adoção da reforma judiciária em análise no Parlamento, após protestos em massa nas ruas contra o governo.
"Quando há uma chance de impedir uma guerra civil através do diálogo, como primeiro-ministro eu faço uma pausa para o diálogo", declarou Netanyahu em um discurso televisionado.
O primeiro-ministro anunciou que a adoção dos distintos projetos de lei da reforma foi adiada para a próxima sessão parlamentar, após o feriado da Páscoa judia (5-13 de abril), cedendo assim em parte às exigências da oposição.
Imediatamente após o anúncio, a Histadrut, principal confederação sindical do país, proclamou o fim da greve feral convocada horas antes.
O líder da oposição israelense, Yair Lapid, disse estar "disposto a iniciar um verdadeiro diálogo", mas somente se o projeto de lei for "totalmente" interrompido.
Benny Gantz (centro-direita), outra das principais figuras da oposição, também comemorou a decisão de Netanyahu. "Melhor tarde do que nunca", afirmou.
Os Estados Unidos, principais aliados de Israel, aplaudiram a medida, que "dá mais tempo para que um compromisso seja encontrado", segundo a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
No domingo, milhares de pessoas foram às ruas de Tel Aviv depois que Netanyahu destituiu o ministro da Defesa, Yoav Gallant, por pedir uma suspensão de um mês do processo legislativo da aprovação da reforma.
Após os confrontos entre a população e as forças de segurança, o presidente israelense, Isaac Herzog, fez um chamado para "deter imediatamente o processo legislativo".
"Reforma de loucos"
Na segunda-feira, uma multidão -cerca de 80 mil manifestantes, segundo a mídia local- saiu às ruas de Jerusalém para protestar contra a reforma. À noite, uma contramanifestação, com milhares de participantes, segundo um jornalista da AFP, aconteceu não muito longe da primeira.
Também houve mobilizações contra a reforma em Tel Aviv e Haifa (norte).
"Pedimos ao governo que detenha esta reforma de loucos", disse à AFP Keren Mimran, uma manifestante de 57 anos que trabalha no setor de alta tecnologia.
Nesta segunda-feira, a comissão parlamentar de leis votou a favor de um dos elementos da reforma: o projeto de lei pelo qual modifica-se o processo de indicação dos juízes.
A reforma promovida pelo governo de Netanyahu, um dos mais à direita da história de Israel, busca aumentar o poder dos políticos sobre os juízes e diminuir o papel da Suprema Corte.
Netanyahu e seus aliados ultraortodoxos e de extrema direita defendem a mudança sob o argumento de que é preciso equilibrar a correlação de forças entre os cargos eleitos e a Suprema Corte, que consideram politizada.
Seus detratores consideram que a reforma ameaça a separação de poderes e o caráter democrático do Estado de Israel.
A rejeição ao projeto provocou nos últimos três meses um dos maiores movimentos populares de protestos da história do país.
Na segunda-feira, as principais organizações patronais se afastaram das convocações de greve, mas pediram diálogo para interromper o processo.
Muitas empresas privadas --bancos, seguradoras, redes de confecções e restaurantes-- aderiram à greve, algo incomum no país.
A paralisação afetou também os voos no aeroporto Ben Gurion, perto de Tel Aviv.
Em um discurso televisionado na quinta-feira, Netanyahu comprometeu-se "a acabar com a divisão", mas reiterou sua determinação em aprovar a reforma.
No dia seguinte, o primeiro-ministro foi chamado à ordem pelo tribunal, que considerou "ilegal" a sua intervenção pública sobre a reforma judicial, uma vez que está implicado em processos por corrupção, fraude e abuso de confiança, acusações que ele nega.
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