Do Estadão Conteúdo
Israel bombardeou na quinta-feira (6) o sul do Líbano e a Faixa de Gaza, três dias depois que uma operação da polícia israelense na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, local sagrado dos muçulmanos, aumentou a tensão entre o governo do premiê, Binyamin Netanyahu, com países vizinhos e grupos militantes, como o Hamas e o Hezbollah.
A mais recente onda de violência na região segue um padrão comum. Os ataques israelenses de quinta foram uma resposta ao lançamento de 34 foguetes do território libanês, na quinta-feira - o maior número de disparos feitos por militantes libaneses desde a guerra entre Israel e Hezbollah, em 2006.
Grupos militantes palestinos e o Hezbollah libanês, por sua vez, ficaram furiosos com operações violentas da polícia israelense, na quarta-feira, na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, o terceiro local mais sagrado do Islã. Apesar das críticas generalizadas, o governo de Israel disse que o objetivo era deter jovens arruaceiros que estavam escondidos dentro da mesquita.
Os ataques ocorrem em um cenário de violência crescente na Cisjordânia, além da sobreposição do Ramadã, o mês sagrado muçulmano, com o início do feriado da Pessach (a Páscoa judaica) e a formação do governo mais direitista e antiárabe da história de Israel, em dezembro.
Violência
Ontem, na Cisjordânia, um palestino matou duas israelenses e deixou uma gravemente ferida em um atentado. À noite (meio da tarde no Brasil), um homem avançou com o carro no centro de Tel-Aviv matando uma pessoa e deixando outras cinco feridas, em um ato que a polícia israelense classificou como ataque terrorista contra civis.
Todas as vítimas eram turistas, incluindo o morto, um italiano de 30 anos. Segundo os jornais israelenses, o ataque foi feito por um homem árabe-israelense, que foi executado por policiais.
Nenhum grupo reivindicou os ataques mais recentes. Em comunicado, os militantes da Jihad Islâmica, no entanto, disseram que a onda de atentados seria uma "resposta natural e legítima aos crimes da ocupação contra o povo palestino".
RETALIAÇÃO
Em resposta, Netanyahu disse que "instruiu a polícia israelense a mobilizar todas as suas unidades de reserva nas fronteiras e (o Exército) convocar forças adicionais para lidar com ataques terroristas".
A crise detonada pela operação na mesquita ocorre uma semana depois de Netanyahu desistir de pôr em votação uma reforma do sistema judicial que levou milhares de pessoas a protestar em Israel por enfraquecer a democracia do país. O primeiro-ministro vinha enfrentado resistência dentro do Exército e de sua própria coalizão ao projeto de lei.
Pressionado por aliados de sua aliança de extrema direita, após retirar a votação da pauta legislativa, o premiê concordou em dar mais poder ao Ministro do Interior, Itamar Ben-Gvir, um ultranacionalista que supervisiona os serviços de segurança em Israel e defende uma menor autonomia do Judiciário.
Como pano de fundo do cenário político, o próprio Netanyahu se beneficiaria de um Judiciário submisso, já que é alvo de várias investigações e processos movidos pelo Ministério Público, incluindo casos de corrupção, fraude e abuso de poder.
CAUTELA
O Exército de Israel adotou ontem um tom cauteloso para não atrair ainda mais o Hezbollah para um conflito que nenhum dos dois lados deseja, especialmente neste momento. Até agora, o comando do grupo libanês negou veementemente qualquer papel no lançamento de foguetes - uma justificativa que os israelenses acham pouco provável.
O Hamas é um grupo palestinos que atua principalmente na Faixa de Gaza. O Hezbollah é a principal organização não estatal do Líbano, uma espécie de conglomerado que envolve partido político, milícia paramilitar, trabalhos sociais e, segundo Israel e EUA, uma rede terrorista. Ambos são apoiados pelo Irã. Recentemente, Hezbollah e Hamas anunciaram um núcleo de operações conjuntas.
O Ministério de Relações Exteriores do Líbano prometeu ontem apresentar uma queixa às Nações Unidas contra os ataques israelenses, considerados por Beirute uma violação da soberania libanesa. Segundo a chancelaria, os bombardeios violaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que encerrou a guerra de 2006 entre Israel e Hezbollah.
ESCALADA
O general espanhol Aroldo Lázaro, comandante militar da missão de paz da ONU no Líbano, disse ontem que os bombardeios de Israel arriscam uma escalada grave no conflito. Ele afirmou que estava em contato direto com autoridades libanesas e israelenses para tentar evitar uma guerra.
A mobilização de tropas e a movimentação militar, no entanto, dão a impressão de que o conflito já começou. Israel enviou brigadas de infantaria para o norte e o sul do país. O porta-voz do Exército, Daniel Hagari, poupou o Hezbollah, mas acusou o Hamas pelos disparos no Líbano e pelos foguetes lançados por militantes da Faixa de Gaza.
No enclave palestino, houve ataques pontuais a túneis e locais de produção de armas. Na Cidade de Gaza, um hospital infantil também foi atingido pelas bombas israelenses, sem deixar vítimas. Netanyahu prometeu uma resposta dura. "Golpearemos os nossos inimigos. Eles pagarão o preço por cada agressão", disse o premiê.
FERIADO SAGRADO
Ontem, dia sagrado de oração para os muçulmanos, a Mesquita de Al-Aqsa amanheceu lotada, com um forte esquema de segurança e sob forte tensão. Na cidade velha de Jerusalém, a procissão cristã da Sexta-Feira Santa ocorreu sem maiores problemas e fiéis acenderam velas na Igreja do Santo Sepulcro. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)