Donald Trump planeja viajar, nesta segunda-feira (3), de sua residência na Flórida para Nova York, onde se tornará, amanhã, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a depor em um tribunal na condição de réu.
Na semana passada, um grande júri indiciou o bilionário de 76 anos por crimes relacionados a um pagamento para comprar o silêncio de uma atriz pornô durante a campanha eleitoral de 2016.
O ex-presidente republicano, que lançou sua campanha para voltar à Casa Branca em 2024, deixará sua mansão na Flórida, em Mar-a-Lago, para sua cidade natal, nesta segunda-feira ao meio-dia, como divulgou em sua rede Truth Social. "Eu vou, acreditem ou não, ao tribunal. A América não deveria ser assim!", escreveu ele.
"O procurador corrupto não tem caso", disse ele sobre o homem que lidera o caso contra ele. "O que tem é uma jurisdição onde é IMPOSSÍVEL que eu tenha um Julgamento Justo", acrescentou.
Na terça-feira, como parte de seu comparecimento, ele passará pelo procedimento padrão de tomada da impressão digital e fotografia, o que provavelmente será uma das fotos mais famosas de ficha policial da era moderna.
Trump, que deve fazer um discurso na terça-feira às 20h15 (21h15 de Brasília) após seu retorno à Flórida, chamou o processo de "caça às bruxas" e "perseguição política" e atacou o juiz designado para ouvir sua declaração.
"No ar"
A polícia de Nova York está em alerta máximo ante a possibilidade de protestos de apoiadores e opositores de Trump nas ruas. Cerca de 36.000 agentes estarão prontos para serem mobilizados, informou a NBC News, citando fontes oficiais.
O comparecimento é um ritual já bem estabelecido, mas não há um roteiro para a entrega de um ex-presidente às autoridades judiciais.
"Está tudo no ar", disse o advogado de Trump, Joe Tacopina, à rede CNN no domingo (2).
Um "desfile do acusado" (tradução literal da expressão "prep walk"), na qual um réu é escoltado algemado diante das câmeras da imprensa, é improvável para um ex-presidente sob proteção do Serviço Secreto.
Mas o advogado antecipa que a Promotoria tentará "obter toda a publicidade" do caso. “Esperamos que seja o mais indolor e o mais elegante possível para uma situação como esta”, acrescentou.
Embora as acusações específicas ainda permaneçam sob sigilo, o caso apresentado pelo promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, gira em torno da investigação de US$ 130.000 (cerca de R$ 660.000 nos valores atuais) pagos à estrela pornô Stormy Daniels antes das eleições de 2016.
Michael Cohen, o ex-advogado de Trump, testemunhou no Congresso que providenciou o pagamento a Daniels, em troca de seu silêncio sobre uma encontro que ele diz ter tido com o bilionário em 2006.
Trump, que já era casado com Melania à época, nega o caso. Mas o caso Daniels é apenas uma das várias investigações que ameaçam o ex-presidente.
Um promotor independente está investigando o possível papel de Trump na invasão ao Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, assim como seu manuseio e custódia de documentos confidenciais após deixar a Casa Branca.
No estado da Geórgia, ele está sob investigação por pressionar funcionários a anularem a vitória de Joe Biden em 2020 lá, com um telefonema gravado pedindo ao secretário de Estado estadual que "encontrasse" votos suficientes para reverter o resultado.
Consciente de que qualquer declaração sua poderia alimentar as queixas de Trump sobre um sistema judicial politicamente "instrumentalizado", o presidente Biden é um dos poucos democratas que permanecem em silêncio sobre a acusação de seu rival político.
A maioria dos republicanos cerrou fileiras em torno do ex-presidente, incluindo seu provável grande adversário nas primárias presidenciais do partido, o governador da Flórida, Ron DeSantis, que chamou a acusação de "antiamericana".
Outros membros do partido manifestaram sua preocupação ante a perspectiva de que um presidente que sobreviveu a dois processos de impeachment no Congresso e enfrenta várias investigações busque a indicação do partido.
O ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson, que anunciou no domingo que disputará a indicação republicana, questionou abertamente essa estratégia e pediu a Trump que desista da corrida.
“Acho que é show secundário demais e uma distração, e ele precisa poder se concentrar em seu devido processo”, disse Hutchinson.
"O cargo é sempre mais importante do que a pessoa", completou.