A eleição na Turquia será decidida em segundo turno, no dia 28, entre o presidente, Recep Tayyip Erdogan, e seu principal opositor, Kemal Kilicdaroglu. Embora a disputa tenha sido apertada e seja o maior desafio em 20 anos de governo, Erdogan chega em vantagem, principalmente em razão das posições do terceiro colocado, o nacionalista Sinan Ogan, mais alinhadas com ele.
Erdogan teve 49,5% dos votos. Kilicdaroglu, 45%, segundo informou ontem Ahmet Yener, chefe do Conselho Eleitoral Supremo. Ogan ficou com 5% - bem atrás, mas o suficiente para ser o fiel da balança. De acordo com analistas, há duas formas de interpretar os resultados do fim de semana.
Primeiro, o fato de Erdogan ter sido mais votado do que previam as pesquisas, que indicavam o segundo turno, mas com Kilicdaroglu à frente. Para o governo, a votação foi recebida com alívio, principalmente em razão da insatisfação com a economia e a resposta lenta ao terremoto de fevereiro, que matou mais de 50 mil pessoas e deixou um rastro de US$ 120 bilhões em prejuízos.
Erdogan perdeu capital político
Ao mesmo tempo, Erdogan perdeu capital político, quando o resultado é comparado a eleições anteriores - ele obteve 51,8% dos votos, em 2014, e 52,6%, em 2018, e pela primeira vez desde que a república foi proclamada, em 1923, haverá segundo turno na Turquia. O ponto em comum entre as duas análises é que o presidente, mesmo sem carta branca, ainda é um nome forte.
Erdogan sai das urnas com maioria no Parlamento e precisando de poucos votos para assegurar mais um mandato de quatro anos. Mais do que isso, suas posições nacionalistas e conservadores convergem com as ideias de Ogan, líder de uma aliança de quatro pequenos grupos de direita que fez campanha contra os imigrantes e em favor de enviar milhões de refugiados de volta à Síria.
"O fato de a eleição não ter terminado não muda o fato de que a nação nos escolheu", disse Erdogan. Já a oposição parecia surpresa com o resultado. Ontem, Kilicdaroglu estava sob pressão para se adaptar rapidamente à retórica nacionalista de Ogan. "Aqui estou!", gritou o opositor, batendo na mesa, em um vídeo curto, divulgado ontem. "Juro por Deus que vou lutar até o fim "
Mais do que a continuidade da era Erdogan, o segundo turno da eleição da Turquia determinará se o país, estrategicamente localizado entre Ocidente e Oriente, membro da Otan, terá um direcionamento independente ou se voltará a ser mais alinhado com a política externa americana.
Erdogan se aproximou de Rússia e China
Nos últimos anos, Erdogan se aproximou de Rússia e China, endureceu a repressão aos curdos e se envolveu na guerra civil da Síria. Kilicdaroglu pretende se reaproximar dos EUA e da Otan, prometeu mais direitos e liberdades, além de um retorno a um sistema mais convencional de políticas econômicas.
Além de uma aliança com cinco partidos - um de centro-direita, um nacionalista, um islâmico e dois que romperam com o governo -, Kilicdaroglu também teve o apoio dos prefeitos de Ancara e de Istambul, duas das cidades mais importantes do país, e do partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos - e pode acabar sendo o seu calcanhar de aquiles no segundo turno.
Howard Eissenstat, professor de história e política do Oriente Médio da St. Lawrence University, em Nova York, disse que os resultados dão a Erdogan uma vantagem no segundo turno por ter obtido maioria no Parlamento. "Os eleitores turcos não gostariam de um governo dividido".
Seja como for, a eleição mostrou que a Turquia é um país polarizado. Erdogan domina as zonas rurais, cidades médias, mais conservadoras e religiosas. Kilicdaroglu teve mais votos nas grandes cidades, entre um eleitorado cosmopolita, secular e progressista - uma divisão que deve se repetir no segundo turno.