O economista e engenheiro Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, que reúne a nata do capitalismo todo ano em Davos (Suíça), esteve no Brasil esta semana e disse acreditar que o País pode ganhar mais influência em temas como transição energética, pois será palco nos próximos dois anos de eventos como a reunião do G20, grupo dos países mais ricos.
Schwab ponderou que a economia brasileira precisa elevar o nível de investimento, o que requer a participação do setor privado. Em Brasília, ele se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e participou de evento sobre competitividade. Em São Paulo, falou com exclusividade ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O sr. tem dito que o mundo ruma para uma economia verde. Qual papel o Brasil pode ter neste processo?
O Brasil tem o potencial para se tornar uma ecopower (potência ecológica). Há enorme oportunidade para energia eólica e a energia solar. Isso sem falar na Amazônia e seu potencial de absorção do carbono, mas que também é importante como fonte de biodiversidade, e o mundo está mais e mais consciente sobre isso. Com a presidência do G20 em 2024 e da COP (a conferência das Nações Unidas para o meio ambiente) em 2025, o Brasil pode influenciar a agenda de uma forma importante.
Pode também influenciar a agenda econômica?
O Brasil tem seus próprios problemas na economia, como inflação ainda alta, juros altos e um baixo nível de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), abaixo de 20%. O Brasil precisa investir mais. Outro ponto é que o Brasil tem uma dívida de 75% do PIB, um nível alto, mas há muitos países com nível ainda mais elevado.
A economia mundial caminha para uma recessão?
Estamos indo para um nível de crescimento muito baixo. O mundo está crescendo, com exceções, em uma base baixa. Temos de buscar os níveis sustentáveis de antes da pandemia.
A inflação vai permanecer alta por muito tempo?
Não. Normalmente, no passado, a inflação era causada pelo aumento do consumo, o que criava um desequilíbrio entre oferta e demanda. Agora, temos choques de ofertas, com redução da capacidade de produção por causa da pandemia, além da alta dos preços de energia por causa da guerra da Ucrânia. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda pode ser corrigido relativamente rápido.
Então os juros não devem subir mais?
Acho que já atingimos o pico de alta, falando da economia global Temos visto declarações nesse sentido do Federal Reserve (o banco central americano) e do Banco Central Europeu que indicam que as elevações em breve podem parar.
Como o ambiente de juros altos afeta as empresas?
No Brasil, para uma empresa captar com títulos privados, precisa pagar ao menos 15%. Na Suíça e na Comunidade Europeia, é 5%, o que afeta a competitividade, porque o custo de capital é muito maior (no Brasil).
Sobre a inteligência artificial, o sr. está mais esperançoso ou temeroso?
Como qualquer nova tecnologia, ela traz tremendas oportunidades. Há 25 anos, teve a revolução com as mídias sociais, o que reduziu custos de distribuição e afetou muitas indústrias, como a da mídia. A inteligência artificial vai fazer o mesmo para a produção de bens não materiais, vai destruir muitos empregos e criar outros. É uma oportunidade, com impacto até maior do que as mídias sociais, vai deslocar milhões de pessoas.
As empresas estão abordando de forma adequada a questão ESG (compromissos sociais, ambientais e de governança)?
É uma mudança fundamental de filosofia dos negócios. Empresários precisam criar prosperidade, mas também olhar as pessoas e o planeta.
Qual é a sua visão do governo Lula?
Acho que o Lula conseguiu criar uma nova atenção ao Brasil. E, na presidência do G20, terá uma grande oportunidade de trazer o Brasil de volta ao mapa.