A cúpula organizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 11 líderes sul-americanos terminou sem medidas concretas, apesar das promessas de integração. Nesta terça, Lula defendeu uma moeda comum, a retomada da Unasul e elogiou a democracia na Venezuela.
Chamado de "Consenso de Brasília", o documento final traz uma breve menção à defesa da democracia e dos direitos humanos, um final modesto para uma cúpula marcada pelos elogios do presidente brasileiro ao venezuelano Nicolás Maduro, que provocaram críticas de Uruguai e Chile.
O fim da cúpula mostrou que o continente continua dividido, especialmente quando se trata de mecanismos de integração. O presidente brasileiro, que tenta assumir o papel de timoneiro da América do Sul, defendeu a Unasul, um bloco que começou no governo Itamar Franco e se consolidou no seu primeiro mandato, mas que foi abandonado nos últimos anos.
"A Unasul é um patrimônio coletivo", disse Lula. "Ela está em vigor e sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção. Mas, ao fazê-lo, é essencial avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta essas lições."
Seguindo as críticas internacionais ao domínio do dólar nas transações financeiras, Lula também sugeriu a adoção de uma moeda comum na América do Sul. A proposta seria a criação de uma "unidade de referência" para o comércio, reduzindo a dependência de outras moedas.
"A iniciativa é uma forma de aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária", afirmou o presidente brasileiro. A ideia, porém, não é trocar o real ou as demais moedas nacionais, mas instituir uma outra apenas para pagamentos de importações e exportações. A questão, no entanto, foi mencionada discretamente no texto final.
O esforço de Lula esbarra ainda nas divisões e assimetrias regionais. Como esperado, não houve acordo sobre o relançamento da Unasul, ainda muito identificada como um projeto de governos de esquerda que fica vulnerável sempre que ocorre alguma alternância de poder no continente.
De avanço prático, quase nada. Um grupo de contato composto pelos chanceleres dos 12 países sul-americanos será criado para discutir o caminho para a integração. As propostas devem ser encaminhadas para os presidentes, que se reunirão novamente, em data e local ainda não determinados, para definir os próximos passos.
Clima
Outro ponto do documento, os presidentes concordaram em trabalhar por mecanismos inovadores de financiamento de ações climáticas com os países desenvolvidos, entre eles a troca de dívida por ações concretas. Os chefes de Estado ainda defenderam uma gestão ordenada, segura e regular da questão migratória, um problema regional agravado pela crise na Venezuela.
A cúpula, no entanto, acabou marcada pelos elogios de Lula a Maduro - um exagero, até mesmo segundo alguns de seus aliados. O presidente brasileiro, no entanto, deu de ombros e dobrou a aposta.
Em entrevista após a reunião com os presidentes, Lula voltou a defender Maduro. "Não é possível que não tenha o mínimo de democracia na Venezuela", disse. "O chavismo disputou 29 eleições e perdeu 2."
Desde que Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999, o regime perdeu o referendo para retirar os limites à reeleição, em 2007, e foi derrotado nas legislativas de 2015.
O que Lula não mencionou, porém, foram os malabarismos políticos do chavismo para justificar a cassação de candidaturas, o sequestro do Judiciário, o controle total sobre o Parlamento e a repressão aos protestos populares.