NA RÚSSIA

Líder do grupo Wagner diz que ordenou fim de motim e recua para evitar 'banho de sangue'

"Agora é a hora em que o sangue pode correr. Por isso, nossas colunas recuam, para retornarem aos acampamentos", declarou Prigozhin

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Publicado em 24/06/2023 às 16:56 | Atualizado em 24/06/2023 às 17:00
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Um membro do grupo Wagner em Rostov-on-Don neste sábado (24) - FOTO: ROMAN ROMOKHOV/AFP

O líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, anunciou, neste sábado (24), que seus homens, que se dirigiam a Moscou a partir do sudoeste da Rússia, retornam aos acampamentos, para evitar um banho de sangue.

"Agora é a hora em que o sangue pode correr. Por isso, nossas colunas recuam, para retornarem aos acampamentos", declarou Prigozhin em mensagem publicada no aplicativo Telegram.

Desde o anúncio da rebelião, na véspera, os homens do Wagner estavam presentes em três regiões russas: Rostov, Voronej e Lipetsk.

Antes do anúncio de Prigozhin, o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, aliado de Putin, declarou que havia negociado com o líder paramilitar para "deter os movimentos" de seus homens e evitar uma nova escalada, e que este havia aceito a proposta.

O presidente russo, Vladimir Putin, prometeu punir a "traição" do líder do Wagner, que se rebelou contra o comando militar de Moscou.

Diante de seu maior desafio desde que chegou ao poder, no fim de 1999, Putin se dirigiu em tom marcial à nação, para afirmar que a rebelião do líder do Wagner, Yevgeny Prigozhin, que ele nunca mencionou explicitamente, representava uma "punhalada" na Rússia.

"O que enfrentamos é exatamente uma traição. Uma traição provocada pela ambição desmedida e os interesses pessoais" de um homem, acrescentou, prometendo uma "punição".

Em mensagem de áudio, Prigozhin reagiu, afirmando que Putin "está profundamente equivocado" em sua acusação de traição, descartando uma rendição. "Nós somos patriotas", afirmou Prighozin. "Ninguém planeja se render a pedido do presidente, dos serviços de segurança ou de quem quer que seja", acrescentou.

Nas redes sociais, espalharam-se rumores de que Putin teria abandonado Moscou, mas seu porta-voz afirmou que ele estava trabalhando no Kremlin.

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, anunciou que Putin havia lhe agradecido por seu "trabalho", depois que o líder da milícia Wagner ordenou que seus homens interrompessem sua marcha para Moscou e retornassem aos seus acampamentos.

"O presidente de Belarus informou o presidente da Rússia em detalhes sobre os resultados das negociações com a liderança do grupo Wagner", destacou Minsk, acrescentando que Putin "agradeceu" a seu aliado "pelo trabalho realizado".

O líder do grupo Wagner havia anunciado, anteriormente, a ocupação do quartel-general do Exército russo em Rostov, centro nevrálgico das operações na Ucrânia, e assegurado que controlava várias instalações militares, incluindo o aeródromo.

Autoridades regionais de Rostov e Lipetsk (400 km ao sul de Moscou) pediram que a população permaneça em casa. À tarde, combatentes do Wagner foram vistos na região de Lipetsk.

Em seu discurso, Putin afirmou que a situação em Rostov era "difícil". No meio do caminho entre Rostov e Moscou, o governador da região russa de Voronezh disse que o Exército estava executando operações de "combate" no âmbito de uma "operação antiterrorista" para combater o levante. Um depósito de combustíveis pegou fogo, afirmou.

Autoridades reforçaram as medidas de segurança em Moscou, onde foi instaurado um "regime de operação antiterrorista."

"Todos nós estamos prontos para morrer. Todos os 25.000 e depois mais 25.000", afirmou Prigozhin pelo Telegram. "É preciso frear quem tem responsabilidade militar no país", afirmou o líder do grupo Wagner, pedindo que os russos se unam a suas forças e não oponham resistência.

Para apoiar Putin, o líder da república russa da Chechênia (no Cáucaso), Ramzan Kadirov, anunciou que enviaria seus combatentes às "zonas de tensão" para "preservar a unidade da Rússia".

O presidente da Câmara baixa, Viacheslav Volidin, pediu que a população apoie o "presidente Vladimir Putin, comandante-em-chefe" russo, e sua colega da Câmara Alta, Valentina Matvienko, reforçou que a força da Rússia reside na "unidade [...] e na nossa intolerância histórica às traições e às provocações".

O patriarca Kirill, líder da igreja ortodoxa russa e aliado de Putin, também pediu "unidade" frente às "tentativas de semear a discórdia".

Os responsáveis pela ocupação russa nas regiões ucranianas de Donetsk e Luhansk (leste) e de Zaporizhzhia e Kherson (sul) também manifestaram apoio a Putin.

Em meio à situação na Rússia, o Exército da Ucrânia lançou ofensivas em várias direções contra as forças russas na frente leste, e realizou novos avanços, anunciou o Ministério da Defesa. O Exército russo, por sua vez, anunciou que repeliu nove ataques no sul e leste da Ucrânia nas últimas 24 horas.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a rebelião dos mercenários mostra "a fragilidade evidente" da Rússia, e que seu país "é capaz de proteger a Europa de uma contaminação do mal e do caos russos".

O Ministério Público russo abriu uma "investigação criminal em relação à tentativa de organizar um motim armado", anunciou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Em várias mensagens de áudio transmitidas na quinta-feira, o líder do grupo Wagner afirmou que seus homens foram bombardeados pelo Exército russo perto da linha de frente com a Ucrânia e acusou o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, de ter ordenado estes ataques.

As acusações "não correspondem à realidade e são uma provocação", reagiu, em nota, o Ministério da Defesa.

As forças de segurança russas (FSB) pediram que os combatentes do grupo Wagner detenham seu líder. Um influente general russo, Sergei Surovikin, instou os milicianos do Wagner a renunciar à rebelião.

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