RECONSTRUÇÃO

Macron anuncia lei de urgência para reparar danos de distúrbios

Perante mais de 300 prefeitos, o presidente da França também se disse aberto a "cancelar" as cobranças sociais e fiscais dos comércios atacados

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 04/07/2023 às 21:33
Ludovic MARIN / POOL / AFP
Emmanuel Macron, anunciou nesta terça-feira (4), perante mais de 300 prefeitos, uma lei de urgência para acelerar os reparos de milhares de estabelecimentos comerciais e edifícios danificados - FOTO: Ludovic MARIN / POOL / AFP

Da AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta terça-feira (4), perante mais de 300 prefeitos, uma lei de urgência para acelerar os reparos de milhares de estabelecimentos comerciais e edifícios danificados durante o surto de violência desencadeado na semana passada pela morte de um jovem pelas mãos da polícia.

Ao receber os prefeitos, o presidente centrista afirmou que estava "prudente" em relação ao risco de uma nova escalada de violência, embora tenha considerado que "o pico que vimos nos últimos dias já passou".

O encontro ocorreu em um momento em que parece haver uma redução da violência. Na noite de segunda-feira para terça-feira, ocorreram danos em 24 edifícios e 159 carros incendiados. As forças de segurança detiveram 72 pessoas e nenhum agente ficou ferido.

Os distúrbios começaram na noite de terça-feira, 27 de junho, após a morte de Nahel, um jovem de 17 anos que foi baleado à queima-roupa por um policial durante uma abordagem de trânsito em Nanterre, um subúrbio de Paris. Um vídeo registrou o momento dramático.

Desde então, ocorreram incêndios em delegacias, escolas e prefeituras, saques a lojas e lançamento de artefatos explosivos contra as forças de segurança.

E o ataque com um carro durante o fim de semana contra a residência do prefeito de L'Haÿ-les-Roses (ao sul de Paris), o político de direita Vincent Jeanbrun, também deixou evidente a crescente violência enfrentada pelos funcionários públicos.

Lei de urgência

Embora a análise do cenário e a resposta sejam complicadas, Macron antecipou aos prefeitos que vai apresentar uma lei de urgência para reparar os danos causados.

O governo também se disse aberto a "cancelar" as cobranças sociais e fiscais dos comércios atacados. A federação francesa de seguradoras France Assureurs informou que foram registrados 5.800 sinistros por pessoas físicas e jurídicas.

Para além dos danos materiais, a classe política continua sem chegar a um consenso sobre as causas e como responder à violência, como constatou Macron durante a reunião com os prefeitos em Paris.

A direita e a extrema direita defendem a linha dura contra os autores dos distúrbios, enquanto a oposição de esquerda também critica o polêmico papel desempenhado pela polícia nas periferias e a situação nestes locais, entre os mais pobres da França.

"A República não tem que se desculpar. Já fez muito por esses bairros", disse o prefeito direitista de Meaux (a nordeste de Paris), Jean-François Copé. Seu colega de Nanterre, Patrick Jarry (esquerda), avaliou que abordar a missão da polícia é "inevitável".

As primeiras propostas evocadas por Macron durante uma visita na noite de segunda aos policiais apontam para a primeira opção. O presidente defendeu "sanções econômicas" às famílias dos jovens que participarem dos distúrbios.

O ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti, lembrou ao Ministério Público a "responsabilidade criminal" daqueles que não exercem a autoridade parental, o que pode resultar em penas de até dois anos de prisão e multa de 30.000 euros (R$ 156.000, na cotação atual).

Resposta repressiva

"Se a solução para todos os conflitos sociais é um resposta repressiva do Estado para restabelecer a ordem, muito provavelmente a violência vai continuar aumentando", disse à AFP o sociólogo Denis Merklen, especialista em protestos nos subúrbios.

Este professor da Universidade Sorbonne Nouvelle explicou que, há mais de 40 anos, os moradores destes bairros se sentem "menosprezados" e que, "se não se rebelam, chamam muito pouca atenção da imprensa".

Desde a terça-feira passada, 3.486 pessoas foram detidas e 808 membros das forças de segurança ficaram feridos, segundo o Ministério do Interior. Além disso, 5.892 veículos foram incendiados e 1.105 edifícios e 269 postos de polícia, ou da gendarmaria, foram danificados.

Em Marselha, no sul do país, o Ministério Público anunciou a abertura de uma investigação pela morte de um homem de 27 anos no sábado à noite, ao suspeitar que ele pode ter sido vítima de uma parada cardíaca após ser atingido no peito por uma bala de borracha, um projétil usado pela polícia.

Coleta da vergonha

Um líder da extrema direita organizou uma arrecadação de fundos para o policial que atirou em Nahel, conseguindo mais de 1,5 milhão de euros (R$ 7,8 milhões na cotação atual) até terça-feira à noite.

A iniciativa foi chamada de "coleta da vergonha" por representantes da esquerda, e a família do jovem abatido apresentou uma denúncia contra essa iniciativa.

Outra arrecadação de fundos, destinada à mãe de Nahel, havia conseguido 395.600 euros (cerca de R$ 2 milhões na cotação atual).

A raiva de muitos jovens dos subúrbios já havia explodido em 2005, após a morte de dois adolescentes que fugiam da polícia.

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