Os conservadores do Partido Popular (PP) saíram das urnas como os mais votados na eleição espanhola. Mas não conseguiram formar uma maioria para governar o país, mesmo com o apoio do Vox, de extrema direita. Ambos tiveram um desempenho abaixo do que previam as pesquisas.
Alberto Núñez Feijóo, líder do PP, reivindicou o direito de negociar uma coalizão, mas ele parece ter menos alternativas que Pedro Sánchez, atual premiê espanhol e chefe do Partido Socialista (PSOE). Para formar um governo, o bloco de esquerda precisaria do apoio dos nacionalistas bascos, catalães e galegos As negociações devem se arrastar por um bom tempo.
PODER EXECUTIVO É ALCANÇADO MEDIANTE UMA MAIORIA NO CONGRESSO
Como qualquer sistema parlamentar, o poder executivo da Espanha é alcançado graças a uma maioria no Congresso, que é de 176 assentos. O PSOE e a coalizão progressista Sumar, juntamente com partidos bascos, catalães e minoritários regionais, chegam a 172 assentos. PP e Santiago Abascal, do Vox, obtiveram 171.
A política espanhola agora dependerá da decisão de Juntos pela Catalunha, que tem sete deputados. Este é o partido do ex-presidente catalão Carles Puigdemont, autoexilado em Waterloo, na Bélgica, desde que foi deposto em 2017 por tentativas de declarar a independência.
CATALÃES SÃO POUCO COOPERATIVOS COM SÁNCHEZ
Os catalães são os menos cooperativos com Sánchez dos três partidos separatistas catalães. A Esquerda Republicana votou pela posse do governo em janeiro de 2020 e tem um pacto orçamentário com o PSOE na Catalunha, enquanto a CUP (assembleia trotskista) votou por algumas leis progressistas, mas ficou sem suas duas cadeiras.
Incrivelmente, depois de alguns anos de estabilização da política na Catalunha e com o declínio do poder do separatismo, Puigdemont e seu grupo mais radical voltam a ser protagonistas da política espanhola, apesar da perda de um deputado em relação a 2019.
ATUAL PRESIDENTE CONQUISTOU A LIDERANÇA DO PSOE
Sánchez construiu um mito sobre si mesmo como sobrevivente de situações em que foi dado como derrotado. Quando em 2016 teve de renunciar ao PSOE devido a uma revolta interna da velha guarda partidária que preferiu apoiar os conservadores a repetir as eleições, o atual presidente voltou a concorrer e conquistou a liderança do partido.
Desde que o PSOE e os aliados perderam as eleições regionais e municipais no fim de maio, a mídia, a oposição de direita e as pesquisas consideraram sua carreira política encerrada. Mas, com uma campanha feroz que tentou atiçar o fantasma da extrema direita em Moncloa (o Planalto espanhol), Sánchez ressurgiu.
Minutos antes da meia-noite de ontem, o ainda primeiro-ministro deixou a sede do seu partido, na Calle Ferraz, em Madri, e fez um discurso perante milhares de militantes que bloquearam o trânsito no meio de um processo eufórico, com música e dança.
"Graças aos eleitores, mostramos ao mundo que somos uma democracia limpa e forte, uma grande democracia. Obtivemos mais votos e mais assentos do que há quatro anos. É um orgulho e uma enorme responsabilidade", disse Sánchez, exultante. É tão verdadeiro quanto surpreendente: os sociais-democratas espanhóis melhoraram seus resultados em relação a 2019 e têm mais votos e mais assentos.
De um palco montado na rua, acompanhado por sua esposa e pelos principais dirigentes do partido, Sánchez disse: "Falhou o bloco regressivo de retirada que propunha a revogação total de tudo o que foi conquistado nesses quatro anos. Há mais de nós que querem que a Espanha avance".
NÚÑEZ FEZ DISCURSO AOS APOIADORES NO CENTRO DE MADRI
Núñez Feijóo também falou da porta da sua festa, no exclusivo bairro de Salamanca, no centro de Madri. O PP obteve 33% dos votos e seu líder reivindicou o direito de formar governo, já que essas são as primeiras eleições que os conservadores vencem desde 2015.
"Meu dever é abrir conversa para liderar esse diálogo e tentar governar nosso país. Que ninguém seja tentado a cair na anomalia de que o partido mais votado não pode governar. Peço ao Partido Socialista que não bloqueie o novo governo da Espanha. Cabe-me tentar e é isso que farei a partir de amanhã", assegurou Feijóo, que nas suas palavras parece esquecer que a Espanha não tem um regime presidencialista, como muitos dos seus rivais costumam lembrar.
O aviso claro de Núñez Feijóo é porque ele sabe que os números são indefinidos. Os separatistas catalães jamais votariam no PP e os 172 deputados que o outro bloco obteve são impossíveis de desertar. A única opção seria a rendição do PSOE.