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Governo da Flórida não declarou vacina contra a covid-19 uma arma biológica, ao contrário do que diz post

É enganoso um post que afirma que o estado da Flórida, nos Estados Unidos, declarou que as vacinas mRNA contra a covid-19 são armas biológicas

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Publicado em 28/07/2023 às 10:48
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É enganoso um post que afirma que o estado da Flórida, nos Estados Unidos, declarou que as vacinas mRNA contra a covid-19 são armas biológicas. Na verdade, elas foram classificadas dessa forma pelo comitê-executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, que pede, em carta, que a aplicação dos imunizantes passe a ser considerada ilegal.

Conteúdo investigado: Post nas redes sociais apresenta uma reportagem televisiva em inglês e afirma na legenda: “Flórida declara vacina de mRNA contra Covid uma ‘Bio-Arma’. Legislação a ser aprovada torna ILEGAL a administração de qualquer vacina mRNA a qualquer pessoa no estado”.

Onde foi publicado: Telegram e Twitter.

Conclusão do Comprova: Publicação que circula nas redes sociais engana ao sugerir que o governo da Flórida, nos Estados Unidos, declarou a vacina mRNA (RNA mensageiro) contra a covid-19 uma “bio-arma”. O post, que reproduz uma notícia veiculada em inglês por emissora de TV americana, acrescenta que a administração do imunizante no estado americano passará a ser considerada ilegal.

As alegações, porém, não correspondem ao conteúdo da reportagem, exibida em 13 de julho. Segundo o noticiário, quem classificou os imunizantes como uma “arma biológica” foi o comitê-executivo do Partido Republicano de Brevard, um dos 67 condados da Flórida, e não o governo estadual. A afirmação foi feita por líderes do grupo político em carta, na intenção de pedir a autoridades que proibissem a aplicação e o recebimento de vacinas no estado. Resoluções semelhantes já foram aprovadas por comitês partidários de outros condados, mas não avançaram no Legislativo.

Os imunizantes contra a covid-19 e seus efeitos colaterais são investigados pela Suprema Corte da Flórida, a pedido do governador Ron DeSantis (Republicanos), desde o fim do ano passado, mas a apuração no estado não tem relação direta com a carta elaborada pelo comitê-executivo do partido. Além disso, as conclusões ainda não foram divulgadas.

As vacinas de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna, aplicadas nos Estados Unidos, não se valem de vírus vivos, como muitas das vacinas tradicionais. Em vez de inserir o vírus atenuado ou inativo no organismo da pessoa vacinada, esse tipo de imunizante ensina as células a produzirem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo.

De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, evidências de centenas de milhões de vacinas contra o coronavírus já administradas no país e de bilhões de vacinas administradas globalmente demonstram que elas são seguras e eficazes. Ainda conforme a agência, os efeitos graves à saúde relacionados a elas são raros.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de julho, posts no Twitter somavam mais de 1,2 milhão de visualizações, 34,4 mil curtidas e 13,9 mil compartilhamentos. Já a publicação no Telegram alcançava 6,7 mil visualizações.

Como verificamos: Primeiramente, pesquisamos no Google pelo título exibido pelo noticiário de TV reproduzido pela peça investigada: “County GOP: ‘Covid Vax a Bioweapon?’”. A busca retornou link para reportagem com o vídeo original, publicada em 13 de julho pela emissora WPEC, de West Palm Beach (Flórida). Em seguida, transcrevemos o áudio da notícia veiculada, por meio da ferramenta Transkriptor, e traduzimos o conteúdo.

Depois, fizemos buscas por termos como “vacina”, “mRNA”, “covid-19”, “arma biológica”, “Brevard” e “Flórida”, em português e inglês. Encontramos checagens e outras notícias sobre o tema abordado (Florida Today, Boatos.org, Estadão, PolitiFact e Tampa Bay Times).

Na sequência, enviamos e-mail ao governo e ao Departamento de Saúde da Flórida. Por fim, procuramos o responsável pela publicação.

Comitê do Partido Republicano em Brevard condena vacina em carta

A notícia, cujo sentido foi distorcido pela peça de desinformação, foi apresentada por telejornal da WPEC, emissora afiliada à CBS, em 13 de julho. Conforme a reportagem, a ideia de que a vacina mRNA contra a covid-19 é uma “arma biológica” é defendida em carta por líderes do Partido Republicano do Condado de Brevard.

O comitê executivo do partido em Brevard escreveu o documento, de quatro páginas, na intenção de encaminhá-lo ao governo do estado. Nele, afirma, entre outras coisas, que “evidências fortes e confiáveis foram recentemente reveladas de que a covid-19 e as vacinas de covid-19 são armas biológicas e tecnológicas”. O grupo ainda questiona a segurança e eficácia dos imunizantes e pede que a aplicação e o recebimento de vacinas mRNA passem a ser ilegais na Flórida.

As alegações são falsas. Evidências científicas comprovam que os imunizantes que utilizam a tecnologia de mRNA ampliaram a resposta imunológica da população e foram responsáveis pela desaceleração de contágios. As vacinas atualmente disponíveis tiveram seus dados de segurança atestados pelas principais agências sanitárias do mundo.

Outros condados, como o de Lee, capitanearam iniciativas semelhantes; a proposta, porém, não ganhou apoio do Legislativo.

Depois que a reportagem foi ao ar, o conteúdo da carta foi aprovado em votação por membros do partido, e, posteriormente, o documento foi enviado ao governador Ron DeSantis, ao procurador-geral Ashley Moody, aos senadores Scott e Rubio, e a outras autoridades, exigindo que as vacinas fossem proibidas no estado.

O Comprova solicitou posicionamento sobre o caso ao governo e ao Departamento de Saúde da Flórida, mas não obteve retorno.

Vacinas são investigadas pela Suprema Corte da Flórida

Após solicitação do governador do estado Ron DeSantis (Republicanos), em 13 de dezembro de 2022, a Suprema Corte da Flórida passou a investigar as vacinas contra a covid-19, conforme noticiou o The Guardian.

A justificativa de DeSantis para a apuração é, em parte, liberar mais informações das farmacêuticas sobre as vacinas e possíveis efeitos colaterais. Ele ainda argumenta que as empresas tinham interesse financeiro em criar um clima no qual as pessoas acreditassem que a imunização garantiria que não pudessem espalhar o vírus a outras pessoas.

O governador é pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, assim como Donald Trump, e, durante a pandemia, adotou discurso negacionista semelhante ao do ex-presidente.

Em 22 de dezembro, foi noticiado pela AP News que um grande júri será convocado para a investigação. Esses júris estaduais, geralmente compostos por 18 pessoas, podem investigar atividades criminosas e emitir indiciamentos, mas também examinar problemas sistêmicos na Flórida e fazer recomendações.

O grande júri estadual se reunirá por um ano. Assim, não há, até o momento, nenhum resultado dos trabalhos divulgado pela imprensa profissional. A investigação das vacinas, que deve ser concluída no fim deste ano, não tem relação direta com a carta elaborada por líderes do Partido Republicano no condado de Brevard.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato por e-mail com o perfil responsável pela publicação no Telegram, mas não obteve retorno até a conclusão desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: O conteúdo apresenta características típicas de peças de desinformação, como caráter vago e alarmista. Repare que o post enganoso usa termos como “bio-arma” e ILEGAL, em letras maiúsculas, e cita a proibição da administração de “qualquer vacina” mRNA a “qualquer pessoa” no estado.

A publicação também se aproveita de uma matéria jornalística, apresentada em inglês, para conferir credibilidade à alegação, mas acaba por distorcer seu sentido.

Ao se deparar com conteúdos suspeitos como esse, busque pela reportagem original para conferir se ela foi alterada, e, depois, traduza ou busque auxílio de alguém para traduzir o texto. Além disso, pesquise sobre o tema junto à imprensa profissional e a órgãos oficiais de saúde.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A mesma publicação foi alvo de checagem do Boatos.org e PolitiFact.

O Comprova já investigou conteúdos com alegações similares envolvendo vacinas contra a covid-19. Recentemente, mostrou ser falso que Parlamento Europeu tenha classificado os imunizantes como arma biológica, que elas não foram proibidas e que a OMS não admitiu que bebês de mães vacinadas estão nascendo com problemas no coração.

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