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Líder norte-coreano Kim Jong-un vai à Rússia para reunião com Putin

O encontro entre ambos deve acontecer na cidade de Vladivostok, no extremo leste da Rússia e perto da Coreia do Norte

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Filipe Farias

Publicado em 11/09/2023 às 21:36
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Da AFP

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, deixou Pyongyang no domingo com destino à Rússia para se reunir com o presidente Vladimir Putin, noticiou a agência oficial KCNA nesta terça-feira (noite de segunda, 11, em Brasília), em meio a especulações de um acordo de venda de armas entre os dois países.

Kim "partiu no domingo à tarde com seu trem [blindado] para visitar a Federação da Rússia", assinalou a KCNA, que ontem já havia noticiado que o líder visitaria "em breve" o país vizinho.

Especialistas sugerem que o encontro entre ambos, provavelmente em Vladivostok, no extremo leste da Rússia e perto da Coreia do Norte, será concluído com um acordo de venda de armas.

Essas fontes afirmam que Putin está buscando projéteis de artilharia e mísseis antitanque norte-coreanos para a guerra de Moscou na Ucrânia, em troca de tecnologia avançada para satélites e submarinos nucleares, assim como ajuda alimentar, para a Coreia do Norte.

Na segunda-feira, a KCNA informou que Kim visitaria "em breve a Federação da Rússia a convite de [...] Putin". O Kremlin também confirmou que a viagem ocorreria "nos próximos dias".

O anúncio pôs fim a dias de especulações, depois que fontes oficiais americanas afirmaram ao jornal The New York Times que Kim viajaria em um trem blindado para a cidade russa de Vladivostok para se encontrar com Putin.

O líder norte-coreano, que não costuma viajar para o exterior, não sai da Coreia do Norte desde o início da pandemia da covid-19.

A emissora sul-coreana YTN disse que Seul "espera que o presidente Kim se reúna com o presidente Putin da Rússia depois de amanhã", quarta-feira.

A Rússia, um aliado histórico de Pyongyang, foi um apoio crucial desse país isolado durante décadas, com laços que remontam à fundação da Coreia do Norte, há 75 anos. Kim apoiou fortemente a invasão da Ucrânia por Moscou, o que teria incluído, segundo Washington, o fornecimento de foguetes e mísseis.

Em julho, Putin elogiou o "firme apoio de Pyongyang à operação militar especial contra a Ucrânia".

Vladivostok, que sedia o Fórum Econômico Oriental até quarta-feira, já foi palco de uma cúpula entre Putin e Kim em 2019.

Em Washington, o Departamento de Estado disse que a visita mostra que Putin está "suplicando por ajuda".

"Ter que viajar por todo o seu próprio país para se encontrar com um pária internacional e pedir ajuda em uma guerra que ele esperava vencer no primeiro mês, eu descreveria como se estivesse suplicando por ajuda", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, aos jornalistas.

Pagar 'um preço'

Na semana passada, os Estados Unidos advertiram que Pyongyang pagaria "um preço" se fornecesse armas à Rússia para sua guerra na Ucrânia.

De acordo com Washington, a Rússia poderá usar armas norte-coreanas para atacar o fornecimento de alimentos por parte da Ucrânia, assim como a infraestrutura de calefação, já pensando no inverno (verão no Brasil), para "tentar conquistar um território que pertence a outra nação soberana".

Andrei Lankov, especialista em Coreia do Norte da Universidade Kookmin, de Seul, disse que a reunião Putin-Kim faz parte de uma "chantagem diplomática suave" da Rússia sobre a Coreia do Sul, já que Moscou não quer que Seul entregue armas a Kiev.

Seul é um grande exportador de armas e vendeu tanques para a Polônia, aliada de Kiev, mas sua política nacional proíbe a venda de armas envolvendo conflitos ativos.

"A principal preocupação do governo russo agora é um possível envio de munição sul-coreana para a Ucrânia, não apenas um envio, mas muitos", acrescentou Lankov.

Cheong Seong-chang, pesquisador do Instituto Sejong, disse à AFP que, se a Coreia do Norte ampliar sua cooperação militar com a Rússia, isso "aumentará a probabilidade de um conflito prolongado na Ucrânia".

Segundo o pesquisador, a recompensa a Pyongyang por ajudar Moscou poderia contribuir para acelerar o desenvolvimento de submarinos nucleares e satélites de reconhecimento norte-coreanos.

Kim demonstrou, repetidamente, sua preferência por trens para viagens internacionais. Seu pai e antecessor, Kim Jong Il, era conhecido por seu medo de voar.

Aparentemente, o atual líder não confia em seu jato particular, preocupado "com a possibilidade de bombardeios aéreos por parte de Washington", afirmou Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos Norte-Coreanos, em Seul.

Em 2019, Kim fez uma viagem de 60 horas de ida e volta de trem, de Pyongyang a Hanói, no Vietnã, após uma cúpula com o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

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