GUERRA

Tomada de reféns pelo Hamas apresenta um dilema conhecido a Israel

Cerca de 150 homens, mulheres e crianças estão detidos, incluindo civis e forças de segurança

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AFP

Publicado em 13/10/2023 às 12:37
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O seu número exato e a sua identidade são desconhecidos, mas estão no centro da crise. Os reféns detidos pelo grupo islamita Hamas trazem de volta uma memória dolorosa a Israel e representam um ponto sensível na sua opinião pública.

Cerca de 150 homens, mulheres e crianças estão detidos, incluindo civis e forças de segurança. As redes sociais divulgam imagens, autênticas ou não, de rostos, sorrisos e vidas de bebês por um fio.

O Hamas ameaçou executar reféns sempre que o seu “povo” fosse atacado sem aviso prévio e, nesta sexta-feira, indicou que 13, “incluindo estrangeiros”, morreram nos bombardeios israelenses em Gaza.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmam estar discutindo com o grupo islâmico sobre esta questão, que traz lembranças dolorosas a Israel.

Mas esta tomada maciça de reféns é uma situação "sem precedentes no seu alcance e natureza", avalia Étienne Dignat, especialista em reféns do Centro de Investigações Internacionais (CERI).

“Israel tem o hábito de lidar com homens e soldados”, mas agora há “civis, incluindo muitas mulheres, o que constitui uma verdadeira mudança simbólica”, acrescenta.

Em 1972, durante os Jogos Olímpicos de Munique, um comando palestino matou 11 atletas israelenses. Quatro anos depois, no aeroporto ugandense de Entebbe, um ataque israelense libertou os reféns de um avião sequestrado por milicianos palestinos.

Linhas vermelhas israelenses

Mais recentemente, Israel libertou quase 450 prisioneiros em 2004 em troca de um empresário israelense e dos corpos de três dos seus soldados.

Dois anos depois, o sequestro do soldado Gilad Shalit desencadeou cinco meses de operações militares em Gaza. Shalit foi libertado cinco anos mais tarde em troca de 1.027 prisioneiros palestinos, tornando-se o primeiro soldado israelense a retornar vivo em 26 anos.

Mas o caso gerou “um debate muito forte na sociedade israelense sobre concessões” para libertar os reféns, diz Étienne Dignat, citando a comissão Shamgar, encarregada de estabelecer as linhas vermelhas.

“Em particular, a troca de pessoas vivas por corpos teve que parar. Até a família de Ron Arad [um oficial que desapareceu após uma missão no Líbano em 1986] recusou publicamente permitir que fossem feitas concessões para recuperar” o seu corpo.

A situação que Israel enfrenta atualmente é, portanto, sem precedentes. O seu exército e os serviços de inteligência falharam, mais de 1.200 pessoas morreram e o governo está sob pressão para libertar os reféns.

A dupla nacionalidade de alguns complica a equação. As famílias dos americanos e franceses possivelmente mantidos como reféns pelo Hamas pediram há dias aos seus respectivos presidentes que ajudassem a libertá-los.

Exigências do Hamas

Jon B. Alterman, diretor para o Oriente Médio da instituição americana CSIS, lembra que Israel disse que a questão dos reféns não afetaria seus planos, mas "isso é provavelmente falso".

"Estrategicamente, Israel provavelmente agirá sem se preocupar com os reféns, enquanto taticamente tentará libertá-los por todos os meios", acrescenta.

O Hamas tentará jogar esta carta ultrassensível para obter compensação.

“O principal objetivo do ataque do Hamas [era] capturar o maior número de prisioneiros e reféns”, afirma Eva Koulouriotis, especialista independente sobre Oriente Médio.

O grupo islâmico espera conseguir libertar cerca de 5.000 palestinos presos em Israel, mas também tentará obter “o levantamento do bloqueio econômico a Gaza” e “maior liberdade administrativa” no futuro, estima.

O governo de emergência de Israel anunciou que não iria negociar antes do fim da guerra, “mas na prática já começou, através da mediação egípcia, a negociar a entrada de combustível e alimentos em Gaza em troca da libertação de prisioneiros”, afirma Koulouriotis.

No entanto, “é pouco provável que o Hamas aceite sem obter privilégios (...) para si e para os seus aliados na região”.

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