Premiê israelense diz que guerra contra Hamas em Gaza será 'longa e difícil'
O "objetivo é claro: destruir as capacidades militares e a direção do Hamas e trazer os reféns para casa", disse o premiê israelense
A guerra contra o Hamas será "longa e difícil", afirmou, neste sábado (28), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, três semanas depois do início do conflito, desencadeado pelo ataque do movimento islamista palestino a Israel, que bombardeia dia e noite o território e trava batalhas em solo contra seus milicianos.
O braço militar do Hamas propôs, por sua vez, trocar os reféns que sequestrou no ataque de 7 de outubro contra Israel em troca da libertação de todos os presos palestinos em prisões israelenses.
SEGUNDA ETAPA DA GUERRA
Após uma intensa noite de bombardeios e combates na Faixa de Gaza, Netanyahu anunciou o início da "segunda etapa da guerra" e assegurou que esta será "longa e difícil".
O "objetivo é claro: destruir as capacidades militares e a direção do Hamas e trazer os reféns para casa", disse o premiê israelense, acrescentando que derrotar o grupo islamista é um "desafio existencial" para Israel.
Segundo um comunicado militar, "desde a noite de sexta-feira, uma força combinada de tanques, engenheiros e infantaria opera no terreno no norte da Faixa de Gaza".
O sitiado território de 362km², onde vivem precariamente 2,4 milhões de habitantes privados de tudo, está desde a sexta-feira praticamente isolado do mundo pelo corte da maioria das redes de telecomunicações e de internet.
"Entramos em uma nova fase da guerra. Ontem, a terra tremeu em Gaza", afirmou o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant.
"Atacamos na superfície e no subsolo, atacamos os terroristas em todos os níveis, em todos os lugares", continuou.
O exército israelense alertou que considera a Cidade de Gaza um "campo de batalha" e instou a população a "evacuar imediatamente" a localidade rumo ao sul da Faixa.
É "um fracasso catastrófico que o mundo não deve tolerar", disse Mirjana Spoljaric, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, depois que Israel anunciou a nova fase da guerra.
O Exército iniciou sua campanha de bombardeios em 7 de outubro, em represália à inédita ofensiva dos milicianos do Hamas que deixou 1.400 mortos, entre eles 300 militares e o restante civis de todas as idades, segundo as autoridades israelenses.
O ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza, afirmou em seu último balanço de sábado que 7.703 pessoas, principalmente civis, morreram nos bombardeios israelenses e que 3.500 são crianças.
As Nações Unidas alertaram que uma incursão militar terrestre israelense em larga escala poderia provocar "outros milhares de civis mortos".
Após os últimos bombardeios israelenses e "uma noite de imensa angústia", as famílias dos reféns, em sua maioria israelenses, disseram estar "preocupadas" com seu destino e exigiram explicações ao governo.
Netanyahu aceitou recebê-las e afirmou estar disposto a examinar “todas as opções” para libertar as pessoas sequestradas e levadas para Gaza, sem dar maiores detalhes.
O braço armado do movimento islamista disse na quinta-feira que “quase 50” reféns foram mortos em bombardeios israelenses desde 7 de outubro. A AFP não pôde verificar essa informação.
MORTE EM TODA A PARTE
Desde o início da guerra, há três semanas, quase 1,4 milhão de pessoas foram deslocadas para o sul da Faixa de Gaza, fugindo dos bombardeios israelenses, segundo a ONU.
“O fedor da morte está em toda parte, em todos os bairros, em todas as ruas e em todas as casas”, disse à AFP Raed al Astal, médico em Khan Yunis, no sul do território.
No norte, Israel disse ter atingido “150 alvos subterrâneos”, onde afirma que o Hamas conduz as suas operações a partir de uma gigantesca rede de túneis.
Os ataques noturnos, de intensidade sem precedentes desde o início da guerra, também destruíram centenas de edifícios e “alteraram a paisagem” do norte da Faixa, segundo o serviço de proteção civil do enclave.
A Faixa de Gaza está submetida a um bloqueio israelense terrestre, marítimo e aéreo há 16 anos, ao qual se soma, desde 9 de outubro, um "cerco total" ao território.
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, pediu uma “pausa nas hostilidades” para permitir o acesso de ajuda humanitária.
Desde 21 de outubro, apenas 84 caminhões de ajuda humanitária chegaram a Gaza vindos do vizinho Egito, segundo a ONU, que estima que seriam necessários pelo menos cem por dia.
ACUSAÇÃO DA TURQUIA
A guerra em Gaza prejudicou as relações internacionais, aumentando o receio de que possa desencadear um conflito regional.
Netanyahu denunciou o apoio do Irã ao movimento islamista, embora tenha admitido que não pode demonstrar a participação de Teerã na organização da sangrenta incursão do Hamas em Israel.
"O Irã apoia o Hamas. Acho que 90% do orçamento militar do Hamas provêm do Irã, (que) o financia, o organiza e o guia", disse o premiê.
Os países árabes do Golfo advertiram contra uma nova incursão terrestre em Gaza. A Arábia Saudita denunciou uma violação "injustificada" do direito internacional e Omã acusou Israel de cometer "crimes de guerra".
A Turquia, membro da Otan, denunciou os "massacres" em Gaza e responsabilizou as potências ocidentais, fazendo Israel chamar de volta os seus diplomatas em Ancara.
"Com exceção de algumas consciências que levantaram a voz, estes massacres são inteiramente obra do Ocidente", declarou o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, num "comício em apoio à Palestina".
As tensões são igualmente elevadas na fronteira de Israel com o Líbano, onde um projétil atingiu a sede da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) no sábado.
Na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967, mais de cem palestinos morreram nas mãos de soldados ou colonos israelenses desde 7 de outubro.