Saque a ajuda humanitária faz ONU alertar para colapso social em Gaza
Israel reforçou seus pedidos de retirada dos civis do norte da Faixa de Gaza
A ONU alertou que a "ordem social" na Faixa de Gaza dava sinais de declínio após episódios de saques a ajuda humanitária no enclave. Em comunicado, o braço da organização para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) afirmou que milhares invadiram os seus centros de distribuição e roubaram artigos básicos de sobrevivência como farinha e itens de higiene pessoal. O Programa Alimentar Mundial também relatou saques em seus fornecimentos.
De acordo com a agência, o armazém de ajuda humanitária da cidade de Deir al Balah, no centro da Faixa de Gaza, que recebe suprimentos vindos do Egito, foi invadido no sábado, dia em que não entrou novo carregamento no enclave em razão do apagão nas comunicações.
"Este é um sinal preocupante de que a ordem civil está começando a ruir depois de três semanas de guerra e de um cerco apertado a Gaza. As pessoas estão assustadas, frustradas e desesperadas", disse Thomas White, diretor de assuntos da UNRWA na Faixa de Gaza.
A organização ainda destacou que o deslocamento do norte para o sul de Gaza, após sucessivos pedidos de retiradas de Israel, tem causado pressão social e colocado os serviços públicos em ruínas.
"A tensão e o medo são agravados pelos cortes nas linhas telefônicas e de internet", disse White, referindo-se ao apagão quase total das comunicações no enclave dos dois dias anteriores. "Eles sentem que estão sozinhos, isolados das suas famílias em Gaza e do resto do mundo".
AVANÇO
O alerta da ONU ocorreu no mesmo dia que Israel reforçou seus pedidos de retirada dos civis do norte da Faixa de Gaza, após expandir com sua incursão terrestre no território no que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu chamou de "fase dois" da guerra.
No quarto dia de incursões terrestres em Gaza, Israel intensificou seus ataques aéreos e fez avanços por terra. O braço armado do Hamas reportou combates com metralhadoras e armas anti-tanques no noroeste de Gaza.
Aviões de guerra israelenses bombardearam uma área próxima ao Hospital Shifa, maior unidade de saúde na Faixa de Gaza, onde dezenas de milhares estão abrigados. Israel alegou que a liderança do grupo terrorista Hamas tinha um posto de comando sob o hospital, embora não tenha fornecido provas substanciais.
O Crescente Vermelho Palestino afirmou que os ataques de ontem danificaram partes do superlotado Hospital Al-Quds na Cidade de Gaza, após receberem dois telefonemas do Exército israelense orientando a retirada total dos civis.
DESCULPAS
Netanyahu pediu desculpas após afirmar que as forças de inteligência de Israel deveriam assumir responsabilidade pelas falhas de segurança no dia 7 de outubro, quando terroristas do Hamas cruzaram as fronteiras entre Israel e a Faixa de Gaza.
"Em nenhum momento foi dado um aviso ao primeiro-ministro sobre a intenção do Hamas de iniciar uma guerra", escreveu ele na rede social X, antigo Twitter.
Depois de sofrer críticas de opositores e membros de seu governo, como Yair Lapid e Benny Gantz, Netanyahu se retratou em outra publicação. "Eu cometi um erro. O que eu disse após a entrevista coletiva não deveria ter sido dito e peço desculpas por isso."
Enquanto isso, os números de mortos no conflito já passam de 8 mil do lado palestino, sendo a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, e mais de 1,4 mil do lado israelense. Estas são as maiores cifras em décadas de conflito entre israelenses e palestinos. (Com agências internacionais)