GUERRA

GUERRA: chefe da diplomacia dos EUA pede 'pausas' humanitárias em Gaza

Há quase um mês, os 2,4 milhões de habitantes da Faixa vivem sob bombardeios constantes e sob um cerco imposto por Israel, que cortou o fornecimento de água, comida, eletricidade e combustível

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AFP

Publicado em 04/11/2023 às 9:05
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O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, tentou sem sucesso em Tel Aviv nesta sexta-feira (3) obter "pausas humanitárias" para proteger civis na Faixa de Gaza, onde o movimento islamista palestino Hamas denunciou ataques israelenses a uma ambulância e uma escola.

O Ministério da Saúde deste território palestino controlado pelo Hamas disse que o ataque à ambulância ocorreu em frente ao hospital Al-Shifa e causou 15 mortes e 60 feridos.

Um porta-voz do movimento islamista afirmou que a ambulância fazia parte de um comboio para transportar "vários feridos para serem hospitalizados no Egito", mas o Exército israelense disse que era "usada por uma célula terrorista do Hamas".

Um repórter da AFP testemunhou muitos corpos e várias pessoas feridas perto de uma ambulância atingida pelo ataque.

DESABAFO DO DIRETOR DA OMS NAS REDES SOCIAIS

O diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na rede social X, antigo Twitter, estar "totalmente chocado com os relatos de ataques a ambulâncias que evacuavam pacientes perto do hospital Al-Shifa em Gaza".

As autoridades de saúde do Hamas em Gaza também denunciaram um ataque "direto" de Israel contra uma escola no norte do território que resultou em "20 mártires e dezenas de feridos".

Esses eventos coincidem com a visita de Antony Blinken a Tel Aviv, que saiu de mãos vazias depois de pedir "pausas humanitárias" neste conflito que entra em sua quinta semana.

Thiago Lucas
Gaza, Palestina, Israel e a guerra sem fim - Thiago Lucas

Blinken se encontrará no sábado em Amã com os ministros das Relações Exteriores de cinco países árabes, preocupados com o saldo de mortes na Faixa de Gaza e com as repercussões do conflito.

A guerra começou quando comandos do Hamas penetraram em Israel e mataram mais de 1.400 pessoas e capturaram cerca de 240 como reféns, de acordo com o balanço israelense.

Segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007, os bombardeios israelenses lançados desde então deixaram mais de 9.200 mortos, incluindo mais de 3.800 crianças, no território palestino, que tem 362 km² e cerca de 2,4 milhões de habitantes.

Durante sua reunião com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, Blinken pediu para "fazer mais" para proteger a população e "pausas humanitárias" para permitir "uma distribuição mais eficaz e sustentada da ajuda".

No entanto, Netanyahu rejeitou qualquer "trégua temporária sem a libertação dos reféns" capturados pelo Hamas.

Um alto funcionário da Casa Branca disse na noite desta sexta-feira de Washington que a libertação dos reféns exigirá uma "pausa muito significativa no conflito" e informou que discussões a respeito estavam em andamento, mas admitiu que não havia "garantia" de que "isso vá acontecer".

Coincidindo com a visita de Blinken, o Pentágono admitiu que estava usando drones desarmados para ajudar em possíveis missões de resgate dos reféns.

Na França, o presidente Emmanuel Macron anunciou uma "conferência humanitária" em 9 de novembro em Paris e também pediu uma trégua "porque a luta contra o terrorismo não justifica sacrificar civis".

UM MÊS DE BOMBARDEIROS CONSTANTES

Há quase um mês, os 2,4 milhões de habitantes da Faixa vivem sob bombardeios constantes e sob um cerco imposto por Israel, que cortou o fornecimento de água, comida, eletricidade e combustível.

Mais de 420 caminhões de ajuda humanitária entraram neste território desde 21 de outubro, de acordo com a ONU, que considera essa quantidade muito insuficiente.

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Netanyahu fala em guerra longa e diz que ação por terra é segunda fase - NE10

Esses comboios entram do Egito pelo ponto de fronteira de Rafah, o único em Gaza não controlado por Israel, de onde também centenas de feridos e pessoas com passaporte estrangeiro foram evacuados.

O Ministério da Saúde do Egito disse na sexta-feira que 17 feridos e 448 estrangeiros ou pessoas com dupla nacionalidade deixaram o território sitiado.

Em contrapartida, pelo ponto de fronteira vizinho de Karem Abu Salem, Israel começou a enviar de volta milhares de trabalhadores de Gaza que estavam bloqueados em seu território desde o ataque do Hamas no início de outubro.

"Há 25 dias estamos na prisão e hoje nos trouxeram aqui, não sabemos nada do que está acontecendo em Gaza, não temos ideia da situação", contou à AFP Nidal Abed.

Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, iniciou na última semana uma operação terrestre na Faixa que permitiu cercar completamente a cidade de Gaza, segundo informou seu exército na quinta-feira.

Netanyahu celebrou os "impressionantes sucessos" no terreno, mas reconheceu "perdas dolorosas", com até 341 soldados mortos desde o ataque do Hamas no início de outubro.

O porta-voz do braço armado do Hamas advertiu que Gaza "será uma maldição na história de Israel" e muitos de seus soldados "voltarão em sacos negros".

Os temores de uma escalada regional aumentaram com a multiplicação dos duelos de artilharia entre Israel e o Hezbollah, no sul do Líbano.

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou em seu primeiro discurso desde o início da guerra que a possibilidade de "uma escalada adicional ou uma guerra total" era "realista" e poderia "ocorrer".

"Quem quiser evitar uma guerra regional deve deter rapidamente a agressão em Gaza", afirmou Nasrallah, responsabilizando os Estados Unidos pelo conflito.

A guerra também piorou a situação na Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, onde na sexta-feira oito palestinos morreram em uma série de incursões do exército israelense.

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