GUERRA EM ISRAEL

Por que os brasileiros continuam presos em Gaza?

A ideia de que a posição brasileira teria atrasado a retirada de brasileiros se espalhou pelas redes sociais nos últimos dias

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Estadão Conteúdo

Publicado em 06/11/2023 às 20:27
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Passado um mês desde o início da guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas, brasileiros continuam presos na Faixa de Gaza e relatam dificuldade para encontrar itens básicos, como água e alimentos. O governo tem dito que está em negociação constante para repatriar o grupo de 34 pessoas, mas sem sucesso até agora: os brasileiros estavam fora de todas as listas de estrangeiros autorizados a seguir para o Egito pela passagem de Rafah até esta segunda-feira (6).

Israel já disse ao Brasil que a liberação deve sair até a quarta-feira, 8, compromisso que voltou a ser relatado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta segunda-feira. Até agora, a ampla maioria dos estrangeiros que passaram pelo posto de Rafah é composta por americanos e europeus, principalmente britânicos, franceses e alemães.

Até agora, no entanto, Israel e Egito não tornaram públicos os critérios adotados para escolha dos 1.400 estrangeiros contemplados nas primeiras listas. Após o acordo, selado na semana passada por intermediação do Catar e dos EUA, cerca de 500 pessoas por dia deixaram Gaza até o fim de semana, quando o processo foi interrompido, depois de suspeitas de que o Hamas embutia combatentes feridos entre os palestinos que deixavam Gaza para atendimento médico no Egito. As saídas foram retomadas nesta segunda-feira.

DIPLOMACIA

O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, destacou a complexidade do processo diante do número de pessoas que tenta sair do enclave em guerra e rejeitou as especulações de que a relação do Brasil com Israel possa ter influenciado. "Não é uma questão de relação bilateral", disse ele ao citar como exemplo a Indonésia que não reconhece o Estado de Israel e foi contemplada na primeira lista.

O diplomata de carreira Rubens Ricupero, ex-embaixador brasileiro em Washington, que acompanha à distância, sem envolvimento na negociação, também diz não ver indícios de retaliação. "O Brasil não tem uma postura que se destaque pela agressividade", apontou Ricupero.

A tese também foi rechaçada ainda pelo embaixador israelense no Brasil, Daniel Zohar: "Israel não está decidindo quem será incluso na lista, não estamos impedindo ninguém de sair", disse ele ao apontar a responsabilidade do grupo terrorista Hamas, que controla Gaza. "O Hamas está impondo diversas condições para liberar a saída dos palestinos com dupla nacionalidade e isso está prejudicando a saída", enfatizou.

Na mesma linha, a embaixada de Israel, em sua posição oficial, aponta o Hamas e afirma que tem feito "absolutamente tudo que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rápido possível". Ainda de acordo com a representação diplomática de Tel-Aviv em Brasília, qualquer informação diferente disso "está errada ou é fruto de desinformação".

A ideia de que a posição brasileira teria atrasado a retirada de brasileiros se espalhou pelas redes sociais nos últimos dias, alimentada pela esquerda e pela direita. Isso porque, no momento em que Israel declarou guerra aos terroristas do Hamas, o Brasil ocupava a presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU e insistiu para aprovar a resolução que previa pausas humanitárias no conflito. Mais uma vez, sem sucesso. O texto foi vetado pelos Estados Unidos porque, segundo a diplomacia americana, não mencionava o direito de defesa israelense.

'BRASIL DEIXADO PARA DEPOIS'

A tese de que o Brasil teria sido deixado para depois foi reforçada por um diplomata de carreira, que pediu para não ser identificado. "O governo superestimou a capacidade do Brasil quando estava no Conselho de Segurança, não só na tentativa de aprovar as resoluções, mas também quando achou que tinha peso para liberar os brasileiros assim que a passagem de Rafah foi aberta para estrangeiros", disse.

A fonte aponta que além do "erro de avaliação sobre a capacidade de influência brasileira no processo", algumas declarações podem ter atrapalhado. Esse seria o caso, por exemplo, do discurso em que o presidente Lula chamou a resposta israelense ao ataque terrorista do Hamas de "insana".

"Fico lembrando que 1500 crianças já morreram na Faixa de Gaza, 1500 crianças que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel. Mas também não pediram para que Israel reagisse de forma insana e matasse eles", declarou o presidente no mês passado.

Essa mesma fonte acredita que falas como essa foram interpretadas por Tel-Aviv como contrárias a Israel, que pode não admitir isso publicamente mas estaria "dando um troco no Brasil".

O embaixador do Brasil em Ramallah, Alessandro Candeas, não respondeu ao pedido de entrevista para esta reportagem. Mais cedo, ele confirmou ao Estadão que a passagem de Rafah foi reaberta e que os brasileiros ainda esperam por autorização para cruzar a fronteira.

 

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