ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Massa vota e fala em 'nova etapa' na Argentina; Milei critica 'campanha suja' e menciona fraude

Mais de 86 mil membros das Forças Armadas e de segurança nacionais e provinciais foram mobilizados para este segundo turno

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Estadão Conteúdo

Publicado em 19/11/2023 às 17:33
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A Argentina celebra neste domingo, 19, o segundo turno das eleições presidenciais, que opõem o peronista Sergio Massa e o libertário Javier Milei. A jornada ocorre tranquilamente, embora em um clima de ansiedade pelos resultados que só devem sair depois das 21 horas. Também há reforço de segurança, especialmente nos locais de votação dos candidatos e seus entornos.

Sergio Massa votou um pouco antes das 12h em sua cidade Tigre, acompanhado de sua esposa e ex-candidata nas primárias para a prefeitura de Tigre, Malena Galmarini. Ao sair, o candidato citou uma nova etapa no país. "Hoje iniciamos uma nova etapa na Argentina e essa etapa requer, além de boa vontade, inteligência e capacidade, o diálogo e o consenso necessários para que nosso país percorra um caminho muito mais virtuoso no futuro".

Milei voltou a provocar tumulto na hora de seu voto, um pouco depois das 12h30, embora desta vez tenha atraído uma multidão menor. A segurança foi reforçada na Universidade Tecnológica Nacional (UTN) no bairro de Almagro, em Buenos Aires, com cordão de isolamento da polícia e grades formando um corredor por onde o libertário precisava passar.

Da última vez, uma multidão se aglomerou do lado de fora do colégio eleitoral e cantou "parabéns" para Milei, já que era seu aniversário de 53 anos. Ao sair, Milei criticou a "campanha de medo" do seu adversário. "Esperemos que amanhã haja mais esperança e não tanta continuidade de decadência. Que esta noite tenhamos um novo presidente eleito".

"Estamos muito satisfeitos apesar da campanha de medo e de toda campanha suja que nos foi feita. Estamos muito bem, fizemos todo o esforço que podíamos fazer. Agora é a hora de as urnas falarem, é o momento em que o povo se expressa", completou.

O libertário acusa seu adversário de promover uma campanha de medo, inclusive utilizando aparato estatal, contra ele. Durante o único debate presidencial deste turno, Milei citou "os brasileiros" em referência aos marqueteiros ligados ao PT que se uniram à campanha de Massa, como os autores da dita campanha.

Mais de 86 mil membros das Forças Armadas e de segurança nacionais e provinciais foram mobilizados para este segundo turno. O reforço também é para que a jornada eleitoral possa transcorrer sem maiores questionamentos de problemas e, principalmente, fraude.

Desde que terminou em segundo lugar no primeiro turno, a coalizão libertária A Liberdade Avança vem pavimentando um cenário de questionamento da lisura das eleições caso perca o pleito de hoje, embora não apresente provas.

Neste domingo, membros da coalizão de Milei denunciaram supostas irregularidades. Karina Milei, irmã do candidato, disse em uma carta dirigida à Justiça que nas províncias de Buenos Aires e Chaco circulariam cédulas da época das primárias, e pediu para que estas sejam consideradas válidas na contagem do segundo turno. Na semana passada, a comissão eleitoral alertou o A Liberdade Avança de que haviam sido entregues menos cédulas do que as necessárias em Buenos Aires.

As eleições na Argentina são feitas por meio de cédulas em papel e é de inteira responsabilidade das coalizões entregar o número adequado delas.

As urnas ficam abertas durante 10 horas, das 8h às 18h. O resultado não deve ser conhecido antes das 21h. A ansiedade se dá principalmente pelo clima desta segunda-feira, 20. Nas eleições primárias, o resultado favorável a Milei levou a uma desvalorização do peso argentino de mais de 20% e um choque no mercado financeiro. O primeiro turno foi menos turbulento no seu dia seguinte, mas para este segundo se espera algum tipo de reação ao resultado.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral, 45% do eleitorado já havia votado até as 14 horas, um número bastante semelhante ao mesmo horário no primeiro turno. A cifra surpreende, pois este fim de semana é feriado prolongando, já que na segunda-feira se celebra o Dia da Soberania.

Os candidatos a vice-presidente, Agustín Rossi e Victoria Villarruel, também votaram já pela manhã, assim como o atual presidente Alberto Fernández e sua vice Cristina Kirchner. O ex-presidente Maurício Mauricio Macri também votou pela manhã.

"É mais um dia em que os argentinos votam e escolhem o nosso futuro. É um dia importante para a democracia. Espero que seja um dia de felicidade para todos porque vamos decidir sobre o nosso futuro em ordem e em paz, sem dúvidas e com tranquilidade", afirmou Alberto Fernández ao votar na Universidade Católica Argentina, em Buenos Aires.

Ibeth Tejena, 32, foi acompanhar a votação de Javier Milei na UTN. De origem equatoriana, ela mora na Argentina já há 8 anos e deseja ver uma melhora na situação econômica do país. "Espero que o futuro presidente conserte a situação econômica, porque cada vez mais pessoas se tornam pobres", afirmou. "O que espero do fundo do coração é poder construir um futuro aqui, tranquila que meu salário hoje chega até amanhã."

Voto a voto

Os candidatos disputam uma eleição apertada. As pesquisas de intenção de votos publicadas há uma semana, antes da proibição, mostravam uma disputa voto a voto entre Milei e Massa, com leve vantagem para o libertário. As pesquisas, porém, não têm bom histórico na Argentina. Nas primárias elas não previram a vitória de Milei, e o mesmo se repetiu no primeiro turno, quando não pegaram a virada de Massa.

Seja quem vencer neste domingo, vai receber uma dura missão de consertar uma Economia cuja inflação ultrapassou os 140%, com a taxa de pobreza em torno de 42% e sem reservas em dólares para circulação e produção econômica.

Entre outros, o grande tema em disputa nessas eleições é o tamanho do Estado argentino. Massa, enquanto peronista, é a favor de um Estado mais forte e provedor para uma população de 21 milhões que dependem das ajudas do governo, de um universo de 47 milhões. Já Milei, como um libertário, quer passar a motosserra nos gastos do Estado, que já consomem 42% de seu Produto Interno Bruto (PIB).

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