Milei corre contra o tempo para reconfigurar governo argentino
Em destaque está o cargo de Ministro da Economia, tendo em conta o enorme déficit orçamentário, as reservas em dólares esgotadas e um programa de crédito com o FMI
O recém-eleito presidente da Argentina, Javier Milei, prometeu reinventar o governo, mas tem três semanas até sua posse, em 10 de dezembro, e corre contra o tempo em busca de aliados no país que tem um dos menores períodos de transição presidencial na América Latina.
Em destaque está o cargo de Ministro da Economia, tendo em conta o enorme déficit orçamentário, as reservas em dólares esgotadas e um programa de crédito com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que deve continuar a ser pago. Quatro em cada 10 argentinos vivem na pobreza, a inflação anual é de 143% e é provável que continue a acelerar, pelo menos no curto prazo.
A Casa Branca informou que o presidente dos EUA, Joe Biden, manteve uma conversa telefônica com Milei na quarta-feira sobre "a forte relação entre os Estados Unidos e a Argentina em questões econômicas, na cooperação regional e multilateral e em prioridades comuns, incluindo a proteção dos direitos humanos, abordando insegurança alimentar e investimento em energia limpa".
SITUAÇÃO CRÍTICA
Durante seu discurso de vitória na noite de domingo, Milei disse que "a situação na Argentina é crítica. As mudanças que o nosso país precisa são drásticas, e não há espaço para gradualismo".
Milei ganhou fama como analista de televisão que chamou a elite política de corrupta e interesseira. Há dois anos, ele traduziu essa notoriedade num assento no Congresso com o seu partido político recentemente fundado. A vitória eleitoral de Milei no último domingo destruiu quase todas as previsões de analistas.
O fato de ser um populista libertário num país onde o Estado tem uma presença desproporcional tornou-o ainda mais uma novidade. Ele disse que reduzirá para metade o número de ministérios do governo, cortará gastos públicos com o seu "plano de motosserra" e privatizará todas as empresas estatais que puder. Ele também disse que vai acabar com o Banco Central.
REDUÇÃO DO ESTADO
A ambição de Milei de reduzir o Estado requer pessoal com um profundo conhecimento da sua agenda, a fim de tomar decisões que são ao mesmo tempo burocráticas e políticas, disse Sergio Berensztein, analista político que vive em Buenos Aires. Sua proposta oficial do governo carece de detalhes.
Pelo menos por enquanto, o mercado parece dar a Milei o benefício da dúvida. Os preços das ações e dos títulos soberanos da Argentina têm subido e o peso perdeu valor, mas não entrou em colapso como muitos previam.
"O grande mérito de Milei é que o mercado parece acreditar nele um pouco mais do que parecia acreditar nele antes da eleição", comentou Javier Timerman, sócio-gerente da AdCap Asset Management em Nova York.
SEM NOMEAÇÕES ATÉ DEZEMBRO
Milei disse em comunicado que não divulgará nenhuma de suas nomeações até 10 de dezembro, embora tenha divulgado alguns nomes durante suas primeiras entrevistas como presidente eleito, incluindo as escolhas para chefiar o Ministério da Justiça e um novo Ministério do Capital Humano.
Um dia após sua vitória, o presidente eleito disse que trabalhou a noite toda sem dormir. No dia 21 de novembro, declarou em entrevista transmitida no YouTube que, depois de empossado, não perderá tempo nem em viagens de helicóptero de ida e volta ao palácio presidencial. Em vez disso, ele será o primeiro chefe de estado a trabalhar totalmente em casa.