Israel intensifica ofensiva em Gaza após fracasso da resolução da ONU para cessar-fogo
No sul de Gaza, um bombardeio israelense em Khan Yunis deixou seis mortos e outras cinco pessoas morreram em outro ataque em Rafah
Israel intensificou, neste sábado (9), a sua ofensiva contra o movimento islamista palestino Hamas em Gaza, depois de os Estados Unidos terem vetado uma resolução na ONU que pedia um cessar-fogo nos combates após mais de dois meses de guerra.
O Hamas e a Autoridade Palestina, que governam Gaza e a Cisjordânia, respectivamente, condenaram o veto dos EUA em um momento em que, segundo o movimento islamista, 17.487 pessoas morreram pela ofensiva israelense, a maioria mulheres e menores.
No sul de Gaza, um bombardeio israelense em Khan Yunis deixou seis mortos e outras cinco pessoas morreram em outro ataque em Rafah, informou neste sábado o Ministério da Saúde do Hamas.
Israel bombardeia Gaza desde 7 de outubro, em resposta ao ataque lançado pelos combatentes do Hamas contra o seu território, no qual mataram cerca de 1.200 pessoas, na sua maioria civis, e raptaram cerca de 240, segundo as autoridades israelenses. Do número total de reféns, cerca de 138 permanecem cativos.
A ofensiva israelense, que desde 27 de outubro incluiu operações terrestres, reduziu este pequeno território palestino a escombros.
Segundo a ONU, mais de metade das casas foi destruída ou danificada e 1,9 milhão de pessoas, 85% da população, estão deslocadas.
"Está muito frio e a barraca é muito pequena. A única coisa que temos são as roupas do corpo", disse Mahmoud Abu Rayan, um deslocado de Beit Lahia, no norte de Gaza.
A resolução para pedir um cessar-fogo apresentada na ONU foi vetada pelos Estados Unidos, membro do Conselho de Segurança e principal aliado de Israel.
Para o vice-representante dos Estados Unidos na ONU, Robert Wood, a resolução estava dissociada da "realidade" e "não teria movido nem uma agulha no terreno".
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, afirmou que um cessar-fogo "poderia evitar o colapso da organização terrorista Hamas, que comete crimes de guerra e crimes contra a humanidade e teria permitido que continuasse governando a Faixa de Gaza".
O Hamas condenou energicamente a posição dos EUA neste sábado, chamando-a de "imoral e desumana", e disse que constitui "participação direta" nos "massacres".
O primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohamed Shtayyeh, afirmou que a decisão é "uma vergonha" e que "dá mais um cheque em branco à ocupação para massacrar, destruir e deslocar".
O Irã alertou neste sábado que o veto dos EUA expõe o Oriente Médio ao risco de uma "explosão incontrolável" da situação.
Pesadelo humanitário
Desde 9 de outubro, Israel impôs um cerco quase total à Faixa, impedindo a chegada de água, alimentos, medicamentos e eletricidade.
Os bombardeios israelenses só cessaram durante a trégua de uma semana que entrou em vigor em 24 de novembro, negociada com a mediação do Catar, do Egito e dos Estados Unidos.
Durante o cessar-fogo, Israel e o Hamas trocaram reféns por prisioneiros palestinos detidos em prisões israelenses.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, invocou na quarta-feira o artigo 99 do estatuto da organização para convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança e aliviar a situação catastrófica na Faixa de Gaza.
Guterres afirmou na sexta-feira que a população de Gaza está perto de um "abismo" e que vive um "pesadelo humanitário".
Com o aumento do número de mortos, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, reiterou que Washington pensa que Israel tem que fazer mais para proteger os civis.
"Temos a certeza de que todos reconhecemos que mais pode ser feito (...) para reduzir as mortes de civis. Continuaremos trabalhando com os nossos parceiros israelenses para atingir esse objetivo", acrescentou.
Israel estima que ainda há 138 reféns detidos em Gaza. Na sexta-feira, informou que uma operação para libertar os reféns fracassou e que dois soldados ficaram feridos na tentativa.
O Hamas declarou que um refém foi morto e divulgou um vídeo mostrando um corpo, mas esta afirmação não pôde ser verificada de forma independente.
A guerra também reacendeu as tensões na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967. A Autoridade Palestina disse na sexta-feira que as forças israelenses mataram a tiros seis palestinos em um campo de refugiados.
Além disso, um bombardeio israelense no sul da Síria matou três combatentes do movimento libanês Hezbollah e um sírio na sexta-feira, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).