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Venezuela troca com EUA 'presos políticos' por Alex Saab, 'embaixador' de Maduro

Saab foi detido em Cabo Verde, em junho de 2020, e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021

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AFP

Publicado em 20/12/2023 às 21:31
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Os Estados Unidos libertaram, nesta quarta-feira (20), Alex Saab, um empresário acusado de ser testa de ferro do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em troca da liberdade de 10 presos americanos e 16 venezuelanos no país caribenho.

Saab chegou à Venezuela logo após receber um indulto do presidente Joe Biden, em uma troca mediada pelo Catar.

"Conseguimos, conseguimos!", disse Maduro a Saab ao recebê-lo no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas. "Quero dar as boas-vindas a este homem valente [...] Depois de 1.280 dias e sequestro, a verdade triunfou", comemorou o mandatário.

"Hoje, o milagre da liberdade, o milagre da justiça se tornou realidade", respondeu o empresário colombiano, que recebeu de Maduro a cidadania venezuelana e o título de embaixador.

"Obrigado, senhor presidente, por sua perseverança", acrescentou Saad, que minutos antes se reencontrou com a esposa, Camilla Fabri, e os filhos.

Biden confirmou a libertação de 10 americanos e que 20 prisioneiros políticos venezuelanos foram libertos, que se juntam aos outros cinco soltos em outubro, como parte de um acordo alcançado entre o governo e a oposição em uma mesa de negociação da qual os Estados Unidos são um ator-chave.

Ao mesmo tempo, outros 14 "presos políticos" venezuelanos foram libertos, confirmou a AFP.

"Reunir americanos detidos injustamente com seus entes queridos tem sido uma prioridade para o meu governo desde o primeiro dia", expressou Biden em um comunicado no qual não menciona Saab, que estava sendo julgado na Flórida por lavagem de dinheiro.

O indulto foi confirmado por funcionários do alto escalão em Washington.

Ainda há companheiros lá

Maduro falou da troca, embora não tenha mencionado os prisioneiros que deixaram as prisões venezuelanas, como os americanos Luke Alexander Denman e Airan Berry, que cumpriam uma sentença de 20 anos por uma incursão armada fracassada na Venezuela em 2020.

Também está Savoi Jadon Wright, acusado de fazer parte de uma tentativa de boicote ao referendo realizado pelo país sul-americano em 3 de dezembro, em meio a uma disputa territorial centenária com a vizinha Guiana. No referendo, aprovou-se a criação de uma província venezuelana no Essequibo, região rica em petróleo.

Como parte da troca, Leonard Glenn Francis, o 'Fat Leonard' - empresário malaio que se declarou culpado no pior escândalo de corrupção da história da Marinha dos Estados Unidos - foi "preso e devolvido" ao país, informou Washington.

Entre os venezuelanos soltos estão seis sindicalistas detidos em julho de 2022 e condenados a 16 anos de prisão em um julgamento por "conspiração" e "associação criminosa".

"Sentimentos mistos porque ainda há companheiros lá", disse Alcides Bracho, um desses líderes sindicais, ao portal de notícias Efecto Cocuyo.

Também foi solto Roberto Abdul, membro da ONG Súmate, que organizou as primárias da oposição, acusado de "traição à pátria".

Saab, moeda de troca

Saab foi detido em Cabo Verde em junho de 2020 e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021.

A procuradoria americana o acusava, junto com seu sócio Álvaro Pulido, detido na Venezuela em outra trama de corrupção relacionada à estatal PDVSA, de transferir 350 milhões de dólares (1,71 bilhão de reais, na cotação atual) obtidos ilegalmente na Venezuela para lavagem de dinheiro nos EUA.

A prisão foi classificada como um "sequestro" pelo governo venezuelano, que garante que o empresário exercia funções de enviado especial de Caracas ao ser detido e que sua imunidade diplomática foi violada.

Saab se tornou uma moeda de troca para Maduro, que exigia sua libertação para desbloquear suas negociações com a oposição com mediação da Noruega.

A mesa foi suspensa em 2021 pela extradição de Saab e retomada recentemente sob pressões de Washington, que agora mantém um canal direto de comunicação com Maduro, apesar do rompimento das relações diplomáticas há mais de quatro anos.

Em outubro, governo e oposição concordaram em realizar eleições presidenciais no segundo semestre de 2024, com observação internacional, e criar um mecanismo para suspender as inabilitações políticas contra líderes opositores. Em resposta, os Estados Unidos levantaram temporariamente sanções ao petróleo, gás e ouro venezuelanos.

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