EUA e Reino Unido bombardeiam posições rebeldes do Iêmen após ataques no Mar Vermelho
Após os ataques desta sexta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a todas as partes para "que não agravem" a situação volátil no Mar Vermelho
Estados Unidos e Reino Unido bombardearam, nesta sexta-feira (12), posições dos huthis no Iêmen, após ataques destes rebeldes contra embarcações no Mar Vermelho nas últimas semanas em "solidariedade" aos palestinos em Gaza, enquanto o secretário-geral da ONU pediu que se evite uma escalada na região.
Estados Unidos, Reino Unido e oito de seus aliados asseguraram, em um comunicado, que com estes ataques buscam "desescalar as tensões" e "restaurar a estabilidade no Mar Vermelho", por onde passam 12% do comércio mundial.
Os bombardeios desta sexta-feira atingiram instalações militares dos huthis em várias localidades, disse um porta-voz militar do movimento rebelde por meio da plataforma X, destacando que foram 73 ataques e incluíram a capital, Saná, e a cidade portuária de Hodeida.
MORTES DE REBELDES
"Esta agressão (...) não ficará sem resposta", alertou o porta-voz, acrescentando que ao menos cinco rebeldes morreram e seis ficaram feridos.
"Todos os interesses americanos e britânicos se tornaram alvos legítimos das forças armadas iemenitas, após a agressão direta e declarada contra a República do Iêmen", afirmou o Conselho Político Supremo dos huthis.
Após os ataques desta sexta, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou a todas as partes para "que não agravem" a situação volátil no Mar Vermelho, segundo seu porta-voz, Stéphane Dujarric
"O secretário-geral pede, ainda, a todas as partes envolvidas que não escalem ainda mais a situação no interesse da paz e da estabilidade no Mar Vermelho e na região em geral", disse Dujarric.
Os huthis integram o autoproclamado "eixo de resistência", um grupo de movimentos armados hostis a Israel e apoiados pelo Irã, que também inclui o Hamas e o Hezbollah libanês.
CONFLITO COM O IRÃ?
A Casa Branca assegurou que os Estados Unidos "não buscam um conflito com o Irã", nem uma "escalada" bélica.
Desde o início da guerra em Gaza, os huthis lançaram vários ataques no Mar Vermelho, forçando muitos armadores a evitar a área e tornando o transporte entre Europa e Ásia mais caro e demorado.
"As ações de hoje demonstram um compromisso comum com a liberdade de navegação, o comércio internacional e a defesa da vida dos navegantes contra ataques ilegais e injustificáveis", declararam Austrália, Bahrein, Canadá, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Nova Zelândia, Coreia do Sul, Reino Unido e Estados Unidos.
O presidente americano, Joe Biden, descreveu a investida como uma "ação defensiva" em resposta "aos ataques sem precedentes dos huthis a navios internacionais no Mar Vermelho" que ameaçam o comércio global.
ATUAÇÃO DO EXÉRCITO AMERICANO
Segundo o exército americano, desde 19 de novembro, este grupo rebelde que controla parte do Iêmen lançou 27 ataques perto do estreito de Bab al Mandeb, que separa a península arábica da África.
Em resposta, os Estados Unidos mobilizou navios de guerra e, em dezembro, forjou uma coalizão internacional para proteger esta via essencial para o comércio mundial.
Apesar das advertências de Washington e do Conselho de Segurança da ONU, os huthis dispararam, na quinta-feira, um míssil balístico anti-navio, intensificando os rumores de uma intervenção, que ocorreu na primeira hora desta sexta-feira.
Biden advertiu que "não hesitará" em "ordenar outras medidas" militares para proteger os Estados Unidos e o comércio internacional.
ATAQUES A NAVIOS INVASORES
Um porta-voz do grupo iemenita assegurou, no entanto, que vão prosseguir os ataques a navios considerados vinculados a Israel que transitarem por esta área.
Sublinhando que "o Mar Vermelho é um importante ponto de passagem para a logística internacional e o comércio energético", o governo chinês manifestou a sua "preocupação" com a escalada das tensões e pediu "moderação" a todas as partes.
O Irã qualificou os bombardeios britânico-americanos de uma "ação arbitrária" e uma "violação" do direito internacional e a Rússia chamou-os de "ilegítimos", enquanto a Turquia os chamou de uma "resposta desproporcional".
A Otan, no entanto, defendeu-os como ações "defensivas".
"Nosso país enfrenta um ataque maciço de navios, submarinos e aviões americanos e britânicos", declarou o vice-ministro das Relações Exteriores huthi, Hussein Al Ezzi, citado pela imprensa rebelde.
A imprensa americana indicou que os ataques foram realizados com caças e mísseis Tomahawk. O Reino Unido disse ter mobilizado quatro caças Typhoon FGR4 com bombas guiadas a laser.
Após os bombardeios, o preço do barril de Brent disparou, passando de 80 dólares, em alta de quase 3,5%.
DIPLOMACIA NO ORIENTE MÉDIO
O ataque ocorreu logo após o final de uma viagem regional ao Oriente Médio do chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, para evitar uma propagação do conflito em Gaza.
"Condenamos veementemente a agressão flagrante dos EUA e do Reino Unido no Iêmen. Consideramos que são responsáveis pelas repercussões na segurança regional", reagiu pelo Telegram o movimento islamista palestino Hamas, no poder na Faixa de Gaza.
GUERRA EM GAZA
Esse pequeno território palestino é palco de devastadores bombardeios israelenses desencadeados após um ataque sem precedentes do Hamas em solo israelense em 7 de outubro, que deixou 1.140 mortos, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" este movimento islamista que governa Gaza e é classificado como grupo terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Os bombardeios e as operações terrestres israelenses em represália deixaram pelo menos 23.469 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o ministério da Saúde do Hamas.
O Ministério da Saúde do Hamas informou, nesta sexta, que novos bombardeios deixaram "muitos" mortos.
A ONU denunciou os entraves impostos pelas autoridades israelenses ao envio de ajuda humanitária à população.
A guerra em Gaza também elevou a tensão na fronteira entre o norte de Israel e o Líbano, a Cisjordânia ocupada e na Síria e no Iraque, onde aumentaram os ataques contra bases americanas.