ORIENTE MÉDIO

Autoridades relembram Holocausto e alertam sobre avanço 'alarmante' do antissemitismo

Dia em memória do Holocausto traz de volta ao debate ódio crescente aos judeus

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Estadão Conteúdo

Publicado em 27/01/2024 às 14:07
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No Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, autoridades europeias fizeram um aceno à data e relembram as vítimas do nazismo. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu em sua conta na rede social X (antigo twitter) que, "no dia em Memória do Holocausto, nós lembramos das vítimas e pronunciamos seus nomes em voz alta". Ela afirmou ainda que os atos antissemitas estão aumentando "de forma alarmante" e que "é nosso dever proteger e fazer prosperar a vida judaica na Europa".

O chanceler alemão Olaf Scholz se manifestou ao dizer "nunca mais à exclusão social e à privação de direitos, à ideologia racista, à desumanização e à ditadura". Em sua conta no X, ele escreveu que "nosso 'nunca mais' tem milhões de vozes e a nossa democracia milhões de rostos".

O presidente da França, Emmanuel Macron, também se pronunciou. "Há 79 anos, o campo de extermínio de Auschwitz foi libertado. A humanidade estava finalmente perfurando as trevas do nazismo. Na memória eterna dos milhões de vítimas da Shoah (palavra hebraica para "catástrofe"), lembremo-nos que o antissemitismo e o ódio conduzem às piores atrocidades", escreveu.

Já o primeiro ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, compartilhou uma foto sua ao lado da sobrevivente de Auschwitz Lily Ebert, que comemorou recentemente seu aniversário de 100 anos. "Temos o dever de recordar os crimes horríveis do Holocausto. É por isso que conhecer sobreviventes como Lily Ebert é tão importante. Lily comemorou recentemente seu 100º aniversário. Por favor, reserve um tempo para ouvir sua história nas suas próprias palavras", falou.

DEBATE HISTÓRICO

"Não aceito a comparação simplista com o Holocausto, por mais que haja semelhanças com as intenções genocidas, o sadismo e a barbárie do Hamas", disse à AFP o presidente do memorial israelense Shoah, palavras com peso especial em meio a uma acalorado debate histórico no país.

Dani Dayan, ex-diplomata, dirige o Yad Vashem, o grande memorial criado em 1953 em Jerusalém em memória dos seis milhões de judeus exterminados na Europa pelo nazismo e seus colaboradores.

Em entrevista à AFP, ele traça o limite de um debate que surgiu após a ofensiva do movimento palestino Hamas em 7 de outubro, que matou quase 1.200 pessoas em solo israelense, a maioria civis decapitados, baleados, queimados vivos e mutilados em suas próprias casas.

GUERRA EM GAZA

"Os crimes ocorridos em 7 de outubro estão no mesmo nível dos crimes nazistas, mas não são o Holocausto", enfatiza Dani Dayan, diretor do Yad Vashem desde 2021.

Dayan distingue os mecanismos do genocídio perpetrado contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial e os do ataque surpresa do Hamas, executado em uma manhã de sábado que coincidiu com o feriado judaico de Simchat Torá.

"A associação de ideias [com o Holocausto] é evidente para qualquer judeu que tenha ouvido histórias de famílias que taparam a boca do bebê para que não chorasse; Todos já pensamos nisso", reconhece.

No entanto, o que aconteceu no mês passado em Israel "não pode ser comparado ao período da Shoah, porque aqui há um Exército que luta e faz o Hamas pagar o preço".

Desde 7 de outubro, Israel bombardeia diariamente e cerca a Faixa de Gaza. Segundo o governo do Hamas, que governa o território, mais de 14 mil pessoas foram mortas pelas bombas israelenses, a grande maioria delas civis.

As declarações de Dayan são parte de um debate delicado. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou os massacres como "o pior crime contra os judeus desde o Holocausto".

MEMORIAL TRANSFORMADO EM ESCOLA


No final de outubro, Dayan criticou o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, que colocou no peito uma estrela amarela de seis pontas, símbolo que os judeus foram obrigados a usar como distintivo durante a Segunda Guerra Mundial em muitos países europeus sob o jugo nazista.

Erdan decidiu usar esse símbolo no Conselho de Segurança e disse que continuaria a usá-lo "com orgulho" enquanto o órgão não condenasse as "atrocidades" do Hamas.

"Este ato desonra as vítimas da Shoah e do Estado de Israel", escreveu Dani Dayan na rede social X.

"A estrela amarela simboliza a impotência do povo judeu e a sua dependência dos outros. Agora temos um Estado independente e um Exército forte (...). O que vestimos agora no nosso peito é uma bandeira azul e branca [as cores do bandeira israelense], e não uma estrela amarela".

CRÍTICAS À ONU

Mas foi outra afirmação que mais o irritou, a do secretário-geral da ONU, António Guterres, quando disse que os massacres do Hamas não ocorreram "fora de qualquer contexto", em uma alusão à ocupação israelense dos territórios palestinos.

"Perguntei a ele qual contexto pode explicar a decapitação de crianças, os estupros ou os disparos contra jovens em um festival de música", recorda Dayan.

Desde 7 de outubro, os seminários de formação sobre o ensino do Holocausto foram cancelados no Yad Vashem e alguns espaços vazios da instituição foram transformados em salas de aula para cerca de 400 estudantes retirados do sul de Israel.

"Retiramos as fotos das paredes, para não agregar traumas aos traumas mais recentes", explica Dayan.

O memorial também está entre as vítimas do ataque do Hamas, uma vez que ainda não há notícias de um dos seus instrutores, o polonês-israelense Alex Dancyg, e de um dos seus guias, Liat Atzili, reféns em Gaza.

 

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