GUERRA

Israel quer retirar civis de Rafah, último refúgio para deslocados em Gaza

Nas últimas 24 horas, pelo menos 107 palestinos morreram em bombardeios contra o estreito território de 362 km²

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AFP

Publicado em 09/02/2024 às 20:22
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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou, nesta sexta-feira (9), que seu Exército prepare a retirada de civis de Rafah, após os Estados Unidos e a ONU expressarem preocupação por uma operação militar contra este último refúgio dos palestinos deslocados pela guerra na Faixa de Gaza.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou a resposta israelense em Gaza como "excessiva", em uma crítica incomum a seu aliado, Israel, pela intensa ofensiva que desencadeou há mais de quatro meses contra o movimento islamista palestino Hamas, que governa o território de quase 2,4 milhões de habitantes.

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram mais de 250 em um ataque no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em represália, Israel lançou uma campanha de bombardeios e operações terrestres contra Gaza que deixou 27.947 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Em uma primeira etapa, as forças israelenses concentraram suas operações na Cidade de Gaza, norte da Faixa, e depois avançaram para Khan Yunis, sul do território.

Na quarta-feira (7), Netanyahu ordenou a preparação de uma ofensiva em Rafah, uma localidade próxima da fronteira com o Egito, onde estão cerca de 1,3 milhão de palestinos.

O número corresponde a mais de metade da população da Faixa de Gaza, o que provoca receios de que uma ofensiva militar resulte em um banho de sangue.

Segundo seu gabinete, o premiê israelense pediu ao Exército que apresente um "plano combinado [...] para a evacuação da população e a destruição dos batalhões do Hamas" em Rafah.

Contudo, o chefe do governo israelense, que prometeu "aniquilar" o Hamas, não está disposto a conceder a trégua exigida por grande parte da comunidade internacional.

"É impossível atingir o objetivo da guerra sem eliminar o Hamas e deixando quatro batalhões do Hamas em Rafah" e, para isso, também é necessário que "os civis deixem as zonas de combate", afirmou ele no comunicado.

Na quinta-feira, Washington advertiu que Rafah pode se tornar o cenário de um "desastre" humanitário e afirmou que não apoia uma operação "sem planejamento e sem reflexão" a respeito do destino dos civis.

O alto representante da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, considerou nesta sexta-feira que as informações sobre uma ofensiva militar em Rafah são "alarmantes", já que uma operação do Exército israelense "teria consequência catastróficas" e agravaria "uma situação humanitária já desastrosa".

A presidência palestina, que exerce uma autoridade limitada na Cisjordânia ocupada, afirmou em um comunicado que os planos de Netanyahu representam "uma ameaça real e um prelúdio perigoso" à aplicação do projeto israelense de "deslocar os palestinos de sua terra".

O comunicado acrescenta que o governo dos Estados Unidos tem "a responsabilidade particular de impedir o que pode se tornar uma escalada perigosa".

Tragédia sem fim

Nesta sexta, o chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA na sigla em inglês), Philippe Lazzarini, voltou a fazer um apelo por um "cessar-fogo humanitário" e alertou que qualquer ofensiva militar israelense em Rafah agravaria a "tragédia sem fim" da população.

"Se (Israel) executar um ataque (terrestre) contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir", declarou Jaber Al Bardini, morador desta localidade, de 60 anos.

Fotógrafos da AFP viram vários edifícios em Rafah destruídos pelos bombardeios israelenses desta sexta-feira, realizados de madrugada e de manhã. Várias pessoas transportavam os corpos de três crianças, mortas em um dos ataques.

Nas últimas 24 horas, pelo menos 107 palestinos morreram em bombardeios contra o estreito território de 362 km², segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

Em Khan Yunis, sitiada há várias semanas, as Forças Armadas israelenses invadiram o hospital de Al Amal e "começaram a revistá-lo", informou o Crescente Vermelho palestino, que administra o estabelecimento.

Cerca de 40 deslocados, 80 pacientes e 100 funcionários permaneceram no estabelecimento médico, que foi evacuado no início da semana.

Consultado pela AFP, o Exército israelense confirmou a operação, indicando ter recebido "informações de que o Hamas realizava atividades terroristas" no estabelecimento.

Novo ciclo de negociações

No campo diplomático, um "novo ciclo de negociações", com mediação do Egito e do Catar, e com a participação do Hamas, começou na quinta-feira, no Cairo, com o objetivo de alcançar uma "calma na Faixa de Gaza" de várias semanas e uma troca de prisioneiros palestinos por reféns que estão em poder do movimento islamista, segundo um funcionário de alto escalão egípcio.

Uma trégua de uma semana em novembro permitiu a troca de mais de 100 reféns por prisioneiros palestinos detidos em Israel. Estima-se que 132 permaneçam em cativeiro em Gaza e que 29 deles tenham morrido.

Em uma declaração à AFP, uma fonte do Hamas estimou que as negociações no Cairo estão sendo "positivas".

A guerra em Gaza também exacerbou as tensões no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã executaram ataques em apoio ao Hamas. Essa ofensiva provocou represálias por parte de Israel, Estados Unidos e seus aliados.

O norte de Israel foi atingido por quase 30 foguetes lançados do sul do Líbano, depois de um ataque israelense contra um integrante de alto escalão do grupo Hezbollah que ficou gravemente ferido.

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