NOVOS ATAQUES

Guerra em Gaza não dá sinais de trégua no primeiro dia do ramadã

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para "silenciar as armas" em Gaza

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AFP

Publicado em 11/03/2024 às 21:07
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A população de Gaza viveu, nesta segunda-feira (11), o primeiro dia do ramadã, mês sagrado dos muçulmanos, sob bombardeios e atingida pela fome que assola o território palestino após mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas, sem sinais de trégua.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu para "silenciar as armas" em Gaza e libertar os reféns mantidos em cativeiro desde o início da guerra, em 7 de outubro, "para honrar o espírito do ramadã".

Os bombardeios israelenses em vários pontos do território palestino - em particular na Cidade de Gaza, no norte, e em Khan Yunis e Rafah, no sul -, deixaram 67 mortos nas últimas 24 horas, segundo o Ministério de Saúde de Gaza, onde o Hamas governa desde 2007.

RAMADÃ OFUSCADO

"O início do ramadã está coberto de escuridão, com gosto de sangue e mau cheiro por toda parte", disse à AFP Awni al Kayyal, um deslocado de 50 anos em Rafah. "Não teremos comida na mesa" depois da quebra do jejum na noite desta segunda-feira, acrescentou.

"A crise de desnutrição em Gaza se acelera a um ritmo sem precedentes diante da alarmante escassez de alimentos, água e serviços de saúde", denunciou o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

A guerra eclodiu em 7 de outubro, com o ataque sem precedentes de comandos do Hamas em solo israelense, no qual morreram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados israelenses. Além disso, cerca de 250 pessoas foram sequestradas e 130 permanecem cativas em Gaza, das quais 31 morreram, segundo as autoridades de Israel.

Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e lançou uma campanha militar contra o enclave palestino. Até agora, o conflito deixou 31.112 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

NAVIO COM SUPRIMENTOS


Para tentar aliviar a crise humanitária em Gaza, um primeiro navio fretado pela ONG espanhola Open Arms e carregado com 200 toneladas de suprimentos, está pronto para zarpar de Chipre para Gaza, no âmbito de um corredor marítimo anunciado pela União Europeia.

"O programa está andando conforme planejado, o navio zarpará em breve" do porto mediterrâneo de Larnaca, a 370 quilômetros de Gaza, informou o governo cipriota nesta segunda-feira.

A World Central Kitchen, uma das organizadoras da operação, "nunca anunciou uma data de partida. Portanto, estamos dentro do prazo. Anunciaremos a partida quando ocorrer", assegurou o famoso chef espanhol José Andrés, naturalizado americano e fundador da ONG.

Paralelamente, um navio militar dos Estados Unidos partiu no sábado do país com o equipamento necessário para construir um cais para descarregar a ajuda, o que pode levar até 60 dias.

A ONU alerta para o risco de uma fome generalizada neste território palestino, submetido por Israel a um cerco total desde 9 de outubro, e as agências humanitárias afirmam que o envio de ajuda por mar e ar não pode substituir os suprimentos terrestres.

A ajuda internacional, controlada por Israel, chega com dificuldade a Gaza frente às enormes necessidades da população, especialmente no norte do território, de acesso muito difícil.

A maior parte chega do Egito por Rafah, cidade fronteiriça onde, segundo a ONU, 1,5 milhão de palestinos vivem amontoados, a maioria deslocados.

'ACABAREMOS COM TODOS'


O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou nesta segunda-feira sua intenção de derrotar o Hamas, apesar dos avisos internacionais contra uma anunciada ofensiva terrestre em Rafah.

"Estamos a caminho da vitória total", declarou em um vídeo, afirmando que o exército "já eliminou o nº 4 do Hamas", sem especificar sua identidade.

"Acabaremos com todos", disse, referindo-se aos outros líderes do movimento palestino considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e UE.

Apesar de uma nova rodada de discussões no Egito no início de março, Estados Unidos, Catar e Egito - os países mediadores - não conseguiram fazer com que as partes concordassem com um cessar-fogo.

O Hamas exige um cessar-fogo definitivo e a retirada das tropas israelenses antes de qualquer acordo sobre a libertação dos reféns mantidos em Gaza.

Israel exige que o movimento islamista forneça uma lista dos reféns que ainda estão vivos, mas o Hamas declarou que não sabe quem entre eles está "vivo ou morto".

O clima gerado pela guerra em Gaza levanta temores de surtos de violência em Jerusalém Oriental, onde fica a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar mais sagrado do Islã, onde dezenas de milhares de muçulmanos se reúnem todas as tardes durante o ramadã.

LIBERDADE DE CULTO RESPEITADA

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, assegurou nesta segunda-feira que Israel respeitará a liberdade de culto na mesquita de Al-Aqsa e em outros locais sagrados, mas também advertiu que está "pronto" para responder a qualquer excesso.

"O mês do ramadã também pode ser um mês de jihad, e dizemos a todos: não nos provoquem. Estamos prontos, não se enganem", advertiu Gallant.

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