GUERRA

Israel bombardeia Faixa de Gaza em meio a negociação de trégua

Horas antes da retomada das conversas, e apesar das advertências internacionais, tanques israelenses tomaram o controle do lado palestino da passagem entre Egito e Rafah

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AFP

Publicado em 08/05/2024 às 19:36
Notícia

Israel bombardeou nesta quarta-feira (8) a Faixa de Gaza e voltou a lançar "operações terrestres seletivas” em Rafah, em meio a negociações com o Hamas para alcançar uma trégua, após sete meses de conflito.

As negociações indiretas foram retomadas ontem no Cairo, com a presença de representantes israelenses e do movimento islamista, bem como dos países mediadores (Catar, Egito e Estados Unidos).

O meio de comunicação egípcio Al Qahera News, ligado aos serviços de inteligência, indicou que houve “pontos de desacordo” durante as conversas, mas também alguma “convergência".

Horas antes da retomada das conversas, e apesar das advertências internacionais, tanques israelenses tomaram o controle do lado palestino da passagem entre Egito e Rafah, principal ponto de entrada de ajuda humanitária no território, onde vivem 2,4 milhões de palestinos que precisam de alimentos, remédios e combustível.

Segundo um oficial do Exército israelense, outro cruzamento, o de Kerem Shalom, também no sul, foi atacado por foguetes lançados de Rafah horas depois da sua reabertura, e um soldado ficou ferido.

Sob pressão dos Estados Unidos, seu principal aliado, Israel anunciou hoje a reabertura da passagem de Kerem Shalom, fechada após um ataque com foguetes matar quatro soldados no domingo. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) informou à AFP que a passagem permanecia fechada.

Segundo o Exército, a passagem de Erez, mais ao norte, também estava aberta para a chegada de ajuda.

Bombardeios em toda a Faixa de Gaza

Os Estados Unidos criticaram o fechamento das passagens, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que essa medida impediu a ONU de levar combustível para o território palestino. “Os hospitais no sul de Gaza têm apenas três dias de combustível, o que significa que deixarão de funcionar em breve”, alertou o chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Washington interrompeu na semana passada o envio de algumas bombas a Israel devido a preocupações com uma ofensiva contra Rafah, informou um funcionário do alto escalão americano, que preferiu não ser identificado. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, confirmou hoje a informação.

Temendo um banho de sangue, Estados Unidos, ONU e União Europeia pediram que Israel desista do plano de invadir Rafah - onde se concentram 1,4 milhão de palestinos, a maioria deslocados pela guerra.

Em Jerusalém, o diretor da CIA, Bill Burns, reuniu-se com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para discutir "a possibilidade de Israel deter a operação Rafah em troca da libertação de reféns" mantidos pelo Hamas, informou um funcionário israelense, que preferiu não ser identificado.

O Exército de Israel ressaltou que faz “incursões seletivas pelo lado palestino da passagem fronteiriça de Rafah, na parte oriental” da cidade. Também informou ter bombardeado mais de 100 alvos no território palestino e anunciou a morte do comandante das forças navais do Hamas Mohammed Ahmed Ali em um ataque aéreo.

Em Gaza, no norte da Faixa, autoridades médicas anunciaram a exumação de 49 corpos no hospital de Al Shifa, o principal do território. Os corpos foram retirados de “uma terceira vala comum”, depois de outros 30 terem sido encontrados no mês passado, disse Motassem Salah, chefe do serviço de emergência do hospital, onde forças israelenses realizaram uma operação de duas semanas em meados de março.

Não houve reação imediata de Israel, que acusa o Hamas de operar a partir de hospitais, algo que o movimento islamista nega.

Rodada decisiva 

O destino de Rafah e dos reféns israelenses sequestrados pelo Hamas está em jogo nas negociações na capital egípcia, mas tanto Israel quanto o grupo islamista são inflexíveis em suas posições. Um funcionário do alto escalão do Hamas disse hoje à AFP que o movimento islamita "insiste nas reivindicações legítimas do seu povo" e afirmou que se trata de uma rodada de negociações decisiva.

As conversas representam "a última oportunidade para Netanyahu e as famílias" dos reféns "de verem seus filhos retornar", advertiu ontem outro líder islamista. Até agora, apenas uma trégua de uma semana em novembro conseguiu travar o conflito que eclodiu em 7 de outubro devido ao ataque do Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Comandos islamistas infiltraram-se no sul de Israel naquele dia, matando 1.170 pessoas e sequestrando cerca de 250, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.

Israel calcula que, após uma troca de reféns por prisioneiros palestinos naquela trégua de novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais acredita-se que 36 morreram.

Israel iniciou uma ofensiva de retaliação que já deixou 34.844 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.

O grupo islamista aceitou a última proposta apresentada pelos mediadores, mas o gabinete de Netanyahu afirmou que estava "muito longe" das suas exigências e decidiu continuar "a operação em Rafah para exercer pressão militar sobre o Hamas".

Segundo Khalil al Hayya, do alto escalão do movimento islamista, a atual proposta contempla três fases, de 42 dias cada. A proposta incluía uma retirada total de Israel da Faixa de Gaza, o retorno das pessoas deslocadas e a troca de reféns por prisioneiros palestinos, com o objetivo de um "cessar-fogo permanente".

Mas Israel opõe-se a uma retirada completa de Gaza e a um cessar-fogo permanente sem primeiro derrotar o Hamas, que, segundo o seu Exército, mantém os seus últimos batalhões em Rafah.

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