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Macron faz apelo aos franceses por 'escolha correta' nas eleições antecipadas

A França amanheceu sob o impacto de um terremoto político após a antecipação das eleições legislativas

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AFP

Publicado em 10/06/2024 às 13:41
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O presidente francês, Emmanuel Macron, fez um apelo nesta segunda-feira (10) aos franceses para que optem pela "escolha correta", um dia após surpreender o país com a convocação de eleições legislativas antecipadas, devido à contundente vitória da extrema direita nas eleições europeias.

"Tenho confiança na capacidade do povo francês de fazer a escolha correta para si e para as gerações futuras. Minha única ambição é ser útil ao nosso país que tanto amo", afirmou Macron em uma mensagem publicada na rede social X.

A França amanheceu sob o impacto de um terremoto político após a antecipação das eleições legislativas, previstas para 2027 e que acontecerão nos dias 30 de junho e 7 de julho, após a vitória do partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) com 31,37% dos votos nas europeias, um dos melhores resultados de sua história.

A vitória na França aconteceu no âmbito do avanço da extrema direita em outros países da União Europeia, como Alemanha, Áustria e Itália, mas a coalizão governante nas instituições comunitárias - conservadores, socialistas e liberais - conseguiu manter a maioria absoluta.

Mas o impacto mais forte aconteceu na França. Na Alemanha, o chefe de Governo, Olaf Scholz, descartou a convocação de eleições antecipadas, apesar do revés de sua coalizão de social-democratas, ecologistas e liberais na votação europeia.

Macron, Nero?

"Nunca esqueçamos os danos causados na Europa pelo nacionalismo e pelo ódio", alertou nesta segunda-feira o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, durante uma cerimônia para relembrar o massacre de 643 pessoas pela Alemanha nazista em Oradour-sul, no sudoeste da França, em 1944.

Macron tentou vincular as cerimônias do 80º aniversário do Desembarque dos Aliados na Normandia com as eleições europeias e alertou inclusive que a Europa "pode morrer" com a guerra que a Rússia trava na Ucrânia.

Embora o objetivo fosse também distanciar-se do RN, partido considerado próximo de Moscou, seus esforços foram em vão: sua candidata terminou com 14,60% dos votos.

Da Rússia, o porta-voz do presidente russo garantiu que Vladimir Putin acompanha "de perto" a ascensão dos partidos de extrema direita na Europa e na França, apesar de a "maioria [do Parlamento Europeu] ser pró-europeia e pró-Ucrânia".

Veículos da imprensa alertaram nesta segunda-feira para a "aposta arriscada" do presidente francês. "Assim como o imperador romano [Nero] incendiou a Roma antiga, Emmanuel Macron acendeu o fósforo que incendiará a sua própria cidadela?", questionou o editorial do jornal liberal L’Opinion.

Diante da crise política aberta, a Bolsa de Paris abriu com queda de 2,37%, limitada a 1,55% no início da tarde.

Temor olímpico

As eleições antecipadas não devem afetar Macron, que tem mandato como presidente até 2027, mas ele poderia ser obrigado a dividir o poder com um governo de outra tendência política em uma mudança pouco antes dos Jogos Olímpicos de Paris-2024.

"Uma dissolução antes dos Jogos é muito preocupante", disse a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, que discordou do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, que acredita que as eleições "não perturbarão" o evento.

A antecipação das eleições dividiu o partido no poder. Alguns dos seus membros defenderam outra solução: tecer uma coalizão com o partido Os Republicanos (LR, direita), com o qual acordou as suas principais reformas desde que perdeu a maioria absoluta em 2022.

O RN, que venceu em 93% dos municípios franceses e pela primeira vez na região de Paris, já anunciou que o seu candidato a primeiro-ministro será o seu chefe de lista vitorioso nas eleições europeias, o eurodeputado Jordan Bardella, de 28 anos.

A sua vitória também confirma a estratégia da líder do RN, Marine Le Pen, de estabelecer uma imagem mais moderada para a antiga Frente Nacional (FN) que ela herdou em 2018 de seu pai, Jean-Marie Le Pen, conhecido por seus comentários racistas e antissemitas.

A incógnita das esquerdas

Ao contrário das eleições europeias, de turno único e com uma lista por partido a nível nacional, os franceses escolhem os 577 deputados da Assembleia Nacional em suas respectivas circunscrições, em um sistema majoritário uninominal e com dois turnos.

Para os analistas, o anúncio rápido e inesperado de Macron pretende dificultar um acordo para uma aliança entre as forças de esquerda, que, segundo Brice Teinturier, do instituto de pesquisas Ipsos, seria o "árbitro" das próximas eleições, e posicionar o presidente no centro da campanha.

As forças de esquerda – socialistas, ecologistas, comunistas e esquerda radical – disputaram as eleições de 2022 reunidas na aliança 'Nupes', que foi rompida por divergências entre sua ala social-democrata e a ala mais radical, o que deixou o partido RN como principal força de oposição.

Jean-Luc Mélenchon, do partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical), liderou há dois anos a aliança de esquerda, algo que parece complicado de reeditar devido à mudança de equilíbrio de forças, embora todas as correntes tenham manifestado interesse em uma nova aliança.

Do bloco de esquerda, os socialistas foram os mais votados nas eleições europeias na França, com 13,83% dos votos, à frente da candidatura do LFI (9,89%), dos ecologistas (5,5%) e dos comunistas (2,36%).

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