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Parlamento Europeu terá mais deputados de extrema direita do que nunca: 1/4 das cadeiras

Partidos como a Reunião Nacional, na França, os Irmãos da Itália, e a Alternativa para a Alemanha precisam trabalhar em conjunto para terem impacto

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Estadão Conteúdo

Publicado em 17/06/2024 às 18:20
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O próximo Parlamento Europeu terá mais deputados de extrema direita do que nunca: eles ocuparão quase um quarto das 720 cadeiras. Mas eles precisarão superar as diferenças se quiserem maximizar sua influência sobre as políticas da UE que preocupam seus eleitores: migração, regras climáticas, e agricultura.

A vaga coligação centrista que vem controlando o único órgão diretamente eleito da União Europeia há décadas manteve uma estreita maioria na votação da semana passada. Mas os surpreendentes resultados dos partidos de extrema direita na França, na Alemanha, e em outros lugares abalaram o bloco, que foi fundado após a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

Partidos como a Reunião Nacional, na França, os Irmãos da Itália, e a Alternativa para a Alemanha (AfD) precisam trabalhar em conjunto para terem impacto significativo sobre as políticas europeias.

Seus deputados estão atualmente distribuídos por diferentes grupos no Parlamento Europeu: os nacionalistas Reformistas e Conservadores Europeus, o Grupo Identidade e Democracia - que abriga a maior parte das facções de extrema direita - e um grande número de partidos não alinhados.

De acordo com as últimas projeções da semana passada, os Reformistas e Conservadores Europeus terão 73 parlamentares, e o Identidade e Democracia terá 58. A AfD, atualmente não alinhada, deve ter 15 deputados, e o ultranacionalista Fidesz, da Hungria, terá 11.

A AfD, que está sob vigilância na Alemanha por suspeita de extremismo, expulsou o polêmico eurodeputado Maximilian Krah esta semana, numa tentativa de retornar ao grupo Identidade e Democracia.

Rússia x Ucrânia - grande cisma da extrema direita

Agrupar forças tão díspares de 27 países da UE não será simples, especialmente diante das profundas cisões em relação à guerra na Ucrânia. Os políticos do grupo Reformistas e Conservadores Europeus apoiam Kiev estreitamente, alinhados à política dominante da UE, enquanto os integrantes do Identidade e Democracia tendem a ser pró-Rússia.

Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, cujo partido tem raízes neofascistas, vem cortejando com sucesso os conservadores tradicionais com seu forte apoio à Ucrânia e à OTAN, ao mesmo tempo em que reiteradamente conclama a direita a se unir. Ela vem presidindo uma ampla coligação de direita em Roma há quase dois anos, e emergiu como a principal mediadora de poder na extrema direita europeia.

Além de estreitar os laços com a presidente de centro-direita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Meloni entrou em contato com Marine Le Pen, do partido francês Reunião Nacional, o principal nome dentro do Grupo Identidade e Democracia, geralmente mais radical.

Outro ator importante é o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que é aliado próximo do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, o aliado europeu mais próximo do presidente russo Vladimir Putin, e que já foi um entrave a vários pacotes de ajuda da UE para Kiev.

Orbán foi forçado a sair em 2021 do Partido Popular Europeu, de von der Leyen, devido a um conflito de valores. O Identidade e Democracia convidou o Fidesz a integrar suas fileiras, embora Orbán tenha manifestado interesse em se juntar aos Reformistas e Conservadores Europeus. Seu posicionamento em relação à Ucrânia torna isso improvável.

Le Pen e Meloni - uma reaproximação difícil

Le Pen, que é mais firmemente contrária à UE e ao sistema tradicional, já criticou Meloni por sua proximidade com von der Leyen. Mas ela já baixou o tom, como parte de uma reformulação mais ampla do Reunião Nacional ao longo da última década, para atingir um público mais amplo. O partido tradicionalmente tem laços estreitos com a Rússia.

As duas grandes damas da extrema direita europeia divergem nas questões sociais. O governo de Meloni tem buscado políticas de apoio aos modelos "tradicionais" de família, que os ativistas LGBTQ italianos apontam como discriminatórias.

Em contrapartida, Le Pen vem tentando se distanciar do antissemitismo, do racismo e da homofobia do partido que seu pai fundou 50 anos atrás. Nos últimos anos, ela abandonou a promessa de revogar o direito ao casamento igualitário, e contratou vários importantes assessores políticos gays. Ela também apoiou a consagração do aborto como direito constitucional na França, no ano passado.

União é complicada, mas não é pré-requisito para influência

Apesar de suas diferenças, os partidos de extrema direita compartilham objetivos políticos, como reduzir a imigração e fechar ainda mais as fronteiras do bloco. Eles também querem restringir as principais políticas climáticas mais ambiciosas da UE, que a direita radical vem criticando amplamente por onerarem desproporcionalmente motoristas e agricultores.

Sophia Russack, pesquisadora do instituto de pesquisa Centro de Estudos de Política Europeia, acredita que os três grupos provavelmente permanecerão divididos, em vez de se unirem.

"O número de cadeiras não é tudo. No Parlamento Europeu, importa muito o quanto eles estão unidos", disse Russack à Associated Press.

"Em um parlamento, é necessário ter 50% para tomar e moldar decisões. Então, eles não decidirão. Mas, claro, o que eles podem fazer é dar um tom diferente, mudar a narrativa, e gradualmente normalizar de certa forma seu pensamento e suas posturas de extrema direita", diz.

 

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