AMÉRICA LATINA

General deposto garante que tentativa de golpe na Bolívia foi ordem de Arce

Luis Arce, que estudou economia em Londres, foi ministro da economia do presidente Evo Morales, cujo mandato de 2006 a 2019 o tornou um ícone

Publicado em 26/06/2024 às 22:51 | Atualizado em 26/06/2024 às 22:52
Notícia

O deposto comandante do Exército boliviano, Juan José Zúñiga, foi detido na noite desta quarta-feira (26) em La Paz, após comandar uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luis Arce, sob as acusações de terrorismo e levante armado.

Zúñiga foi capturado e levado a um veículo policial nos arredores de um quartel militar.

O então comandante do Exército, destituído do cargo de comandante do Exército nesta quarta-feira pelo presidente Arce, estava dando declarações à imprensa quando o vice-ministro do Governo (Interior), Jhonny Aguilera, chegou junto com policiais para detê-lo.

Anteriormente, o general revelou que Arce lhe ordenou que liderasse o movimento de soldados e tanques do Exército.

"No domingo, na escola La Salle [em La Paz], me reuni com o presidente [Arce] e ele me disse que a situação está muito ferrada, esta semana será crítica", afirmou o oficial.

Segundo a versão de Zúñiga, Arce lhe pediu para "preparar algo para aumentar sua popularidade". "Então, mandamos os blindados?", perguntou o oficial, ao que o presidente respondeu: "mande".

A partir de domingo, continuou, vários tanques do Exército começaram a se deslocar para La Paz. Zúñiga liderou a mobilização de militares para a Praça de Armas de La Paz, onde se encontram o Palácio do Governo e os escritórios presidenciais.

"As Forças Armadas pretendem reestruturar a democracia, que seja uma verdadeira democracia. Não de uns poucos", disse Zúñiga, enquanto estava no local.

Após sua substituição no cargo pelo general Wilson Sánchez, Zúñiga deixou a Praça de Armas junto com soldados e pelo menos oito tanques do Exército.

Arce denunciou antes a mobilização "irregular de algumas unidades do Exército Boliviano. A democracia deve ser respeitada".

Depois, ele disse que havia uma tentativa de golpe que foi apaziguada após cerca de cinco horas.

Zúñiga, detido, foi levado às instalações da Força Especial de Luta Contra o Crime (FELCC), onde a promotoria tomará suas declarações.

O ex-chefe do Exército foi foco de polêmica esta semana, após declarar a um canal local que não descartava a detenção do ex-presidente Evo Morales, caso ele persistisse na ideia de se candidatar à presidência nas eleições do ano que vem.

Ele argumentou que o ex-chefe de Estado não pode se candidatar, em conformidade com uma decisão judicial de dezembro do ano passado que afirma que ele não pode aspirar a um novo mandato após ter cumprido três mandatos. Todos os setores políticos criticaram Zúñiga, argumentando que os militares não deliberam.

HISTÓRIA DE ARCE

O presidente da Bolívia, que foi alvo de uma tentativa de golpe é um esquerdista de 60 anos que muitos enxergam como um oponente das políticas neoliberais e de livre mercado apoiadas por Washington

Luis Arce, que estudou economia em Londres, foi ministro da economia do presidente Evo Morales, cujo mandato de 2006 a 2019 o tornou um ícone da esquerda latino-americana.

Depois que Evo deixou o cargo, Arce tornou-se presidente em novembro de 2020, após o curto período de Jeanine Añez no cargo

A televisão boliviana mostrou Arce confrontando o aparente líder da rebelião - o comandante geral do Exército - no corredor do palácio do governo na noite de quarta-feira. "Eu sou seu capitão e ordeno que retire seus soldados e não permitirei essa insubordinação", disse Arce.

CARREIRA ECONÔMICA E POLÍTICA

A carreira de Arce refletiu a trajetória econômica da Bolívia, do auge à falência. Ele trabalhou no Banco Central de 1987 a 2006 e trabalhou para Evo administrando uma bonança nos preços dos metais e hidrocarbonetos que ficou conhecida como o "Milagre Boliviano".

Mas, na época em que Arce assumiu o cargo, a Bolívia foi duramente atingida pela pandemia da covid-19 e pelas tensões sociais desencadeadas pela saída de Evo em 2019, após protestos de rua e extrema pressão dos militares.

As reformas neoliberais na década de 1990 ajudaram a Bolívia a se tornar um importante produtor de energia, e o país passou de uma nação de baixa renda para uma de renda média, de acordo com o Banco Mundial. A porcentagem de pessoas em extrema pobreza caiu para 15%, o Estado construiu rodovias e teleféricos, e as cidades cresceram.

 

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