TENSÃO NA BOLÍVIA

Militares tentam invadir palácio presidencial em La Paz

Tanques e tropas ocuparam a Praça Murillo, no centro da capital boliviana, onde está a sede presidencial. Um tanque tentou derrubar uma porta metálica

Publicado em 26/06/2024 às 21:07 | Atualizado em 26/06/2024 às 21:15
Notícia

O presidente da Bolívia, Luis Arce, denunciou, nesta quarta-feira (26), uma tentativa de golpe de Estado e juramentou uma nova cúpula militar, provocando a retirada das forças sob o comando do deposto chefe do Exército que tentaram invadir o palácio presidencial.

Tropas militares e tanques foram deslocados nesta quarta-feira para a sede do governo boliviano em La Paz e tentaram derrubar uma portão do palácio presidencial, conforme constataram jornalistas da AFP.

 

O deposto general Juan José Zúñiga, comandante do Exército, entrou em seguida no palácio e, após alguns minutos, deixou o local caminhando, segundo imagens da emissora estatal.

Pouco depois, Arce convocou os bolivianos a se mobilizarem "contra o golpe de Estado" e juramentou os novos comandantes militares.

As tropas sob o comando de Zúñiga abandonaram a praça após várias horas de mobilização.

Arce comemorou a vitória na queda de braço com o general deposto. "Ninguém pode nos tirar a democracia que conquistamos (...) Estamos certos de que vamos continuar e vamos seguir trabalhando", afirmou o presidente de um balcão do palácio de governo diante de centenas de apoiadores.

Zúñiga, que busca impedir a volta do ex-presidente Evo Morales ao poder nas eleições de 2025, garantiu que os militares pretendem "reestruturar a democracia" na Bolívia, e exigiu a libertação dos opositores presos.

"As Forças Armadas pretendem reestruturar a democracia, que seja uma verdadeira democracia. Não de alguns poucos, não de alguns donos que já têm 30, 40 anos dirigindo o país", disse nos arredores da sede presidencial, rodeado de soldados e tanques.

Morales, adversário de Arce dentro do partido governista Movimento Ao Socialismo (MAS), denunciou um "golpe de Estado".

"Convocamos uma Mobilização Nacional para defender a Democracia frente ao golpe de Estado que está sendo articulado sob a liderança" do general Zúñiga, acrescentou.

"Quebra da ordem" 

Desde terça-feira circulam rumores sobre a provável destituição do chefe do Exército, no cargo desde novembro de 2022, que se opõe firmemente ao retorno de Morales ao poder no próximo ano.

Em uma entrevista na segunda-feira com um canal de televisão, o chefe do Exército assegurou que prenderia Morales se ele insistisse em se candidatar à presidência nas eleições de 2025, apesar de ter sido inabilitado pela justiça eleitoral.

"Legalmente, ele está inabilitado, esse senhor não pode voltar a ser presidente deste país", disse Zúñiga.

O partido governante da Bolívia, o Movimento ao Socialismo (MAS), está profundamente dividido entre o presidente Luis Arce e seu antigo aliado e hoje adversário, o ex-presidente Evo Morales.

Amparado nas reformas constitucionais que ele mesmo promoveu, Morales ocupou a presidência entre 2006 e 2019, quando foi forçado a renunciar após ser acusado de fraude eleitoral para obter um quarto mandato.

No final de dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional inabilitou Morales como candidato presidencial para a disputa de 2025, argumentando que a reeleição indefinida não é um "direito humano", como havia declarado em outra sentença de 2017.

Mas Morales busca este ano a nomeação à presidência como candidato do MAS, enquanto o presidente Arce, no poder desde 2020, não se pronunciou sobre se buscará a reeleição.

APOIO INTERNACIONAL

Diante da tensa situação em La Paz, a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou que "não tolerará nenhuma forma de quebra da ordem constitucional" na Bolívia.

"Expressamos nossa solidariedade com o presidente Luis Arce Catacora. A comunidade internacional, a secretaria-geral da OEA, não tolerará nenhuma forma de quebra da ordem constitucional legítima na Bolívia nem em qualquer outro lugar", disse o chefe do organismo, Luis Almagro, em Assunção, onde está sendo realizada até sexta-feira a assembleia geral da organização.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou de imediato um "golpe de Estado". "Presidente Lucho Arce, convoque o povo, só o povo salva o povo. Alerta, Bolívia!", afirmou.

Por sua vez, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, em seu papel de presidente em exercício da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), convocou os países membros do grupo a "condenar o fascismo que hoje atenta contra a democracia na Bolívia e exigir o respeito pleno ao poder civil e à Constituição".

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