Biden e Trump discutem suas decisões antagônicas e deixam de lado propostas para os EUA
Apesar de um debate bem menos acalorado, as melhorias necessárias para a população dos Estados Unidos não protagonizaram o encontro
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, e o seu rival republicano, Donald Trump, participaram nesta quinta-feira (27) do primeiro debate eleitoral deste ano, promovido pela CNN, em um encontro que ofereceu uma oportunidade para ambos remodelarem a narrativa política - o que pareceu não muito proveitoso.
Biden, o atual democrata, tinha a chance de garantir aos eleitores que, aos 81 anos, é capaz de guiar os EUA através de uma série de desafios. Enquanto isso, Trump, de 78 anos, conseguiu aproveitar o momento para tentar superar sua condenação por crime em Nova York e convencer uma audiência de dezenas de milhões de pessoas de que seu temperamento é adequado para retornar ao Salão Oval.
DEBATE SOBRE AÇÕES DO EX E DO ATUAL PRESIDENTE
Apesar de um debate bem menos acalorado, as melhorias necessárias para a população dos Estados Unidos não protagonizaram o encontro, dando vez à troca de acusações entre a ex e atual gestão em temas como a economia, política externa, imigração, crise climática e a pauta de costumes que envolve, entre outras questões, a legislação sobre o aborto.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou o seu rival republicano de exagerar e mentir sobre a crise migratória na fronteira com o México.
"Dizer que os Estados Unidos abrem os braços aos migrantes que entram ilegalmente no país simplesmente não é verdade", disse Biden. "Não há dados que sustentem o que ele disse. Mais uma vez, ele está exagerando. Ele está mentindo", insistiu.
O confronto ocorre logo depois que a Casa Branca de Biden tomou medidas executivas para restringir os pedidos de asilo na fronteira entre os EUA e o México, em um esforço para reduzir o número de migrantes que entram no país. Trump fez da imigração ilegal uma peça central da sua campanha.
Sobre a economia, Trump criticou Biden por manter uma inflação que está "matando nosso país". "Ele não fez um bom trabalho. Fez um trabalho ruim. E a inflação está matando nosso país. Está absolutamente nos matando", disse Trump no fórum realizado na sede da rede CNN em Atlanta.
O aumento dos preços foi o primeiro assunto sobre o qual ambos os candidatos foram questionados, um dos principais temas de preocupação para os eleitores americanos.
Desde 2021, os preços dos alimentos, habitação, automóveis e combustíveis dispararam, impulsionados pela recuperação após a pandemia de covid-19, pela guerra na Ucrânia e pelos amplos planos de recuperação do governo americano durante a emergência sanitária. A inflação alcançou 9,1% nos Estados Unidos em junho de 2022, seu nível mais alto desde o início da década de 1980. Desde então, desacelerou e situou-se em 3,3% em maio, segundo o índice IPC, sobre o qual estão indexadas as pensões.
As guerras na Ucrânia e em Gaza pairaram sobre o debate, tal como as opiniões fortemente divergentes dos candidatos sobre o papel dos EUA no mundo e as suas alianças. Também no contexto político: o Supremo Tribunal está prestes a anunciar a sua decisão sobre se Trump está legalmente imune ao seu alegado papel na insurreição de 6 de Janeiro. Isso aconteceu semanas depois de Trump ter sido condenado em Nova York por participar num esquema que os procuradores alegaram ter a intenção de influenciar ilegalmente as eleições de 2016, tema que não ficou de fora da discussão.
Também houve tensões sobre o direito ao aborto. "Seu papel em restringir o acesso ao aborto no país foi algo terrível", disse o democrata ao republicano depois que seu rival se gabou de ter nomeado juízes da Suprema Corte que ajudaram a anular o direito constitucional ao aborto.
No meio deste tenso intercâmbio, Biden soltou para seu rival: "Você é o trouxa, você é o perdedor".
Cada uma de suas palavras e gestos estão sendo analisados minuciosamente pelos americanos em um país politicamente muito polarizado, onde o voto dos moderados e dos indecisos em novembro pode ser vital. Ambos os candidatos não são apreciados pela maioria dos americanos, de acordo com as pesquisas eleitorais, e oferecem visões antagônicas sobre praticamente todas as questões fundamentais. Trump prometeu planos abrangentes para refazer o governo dos EUA se regressar à Casa Branca, e Biden argumenta que o seu oponente representaria uma ameaça existencial à democracia do país.
Foco estará na Geórgia
Atlanta, a cidade anfitriã do debate, oferece um significado simbólico e prático para a campanha. Em 2020, Biden garantiu os 16 votos eleitorais da Geórgia com uma margem inferior a 12 mil votos, de um total de 5 milhões. Trump pressionou a liderança republicana do estado a anular a sua vitória com base em teorias de fraude eleitoral.
Ambas as campanhas realizaram uma série de eventos em Atlanta que levaram ao debate, incluindo eventos concorrentes em empresas locais de propriedade de negros. Trump convocou na sexta-feira, 21, uma reunião na Rockys Barbershop, na comunidade de Buckhead, para falar sobre seu confronto com Biden e questionar se os moderadores da CNN, Jake Tapper e Dana Bash, o tratariam com justiça.
Saindo do debate, tanto Biden quanto Trump iniciam viagens para estados que esperam conquistar neste outono. Trump está a caminho da Virgínia, um antigo campo de batalha que se deslocou para os democratas nos últimos anos.
Biden deve embarcar para a Carolina do Norte, onde deverá realizar o maior comício de sua campanha em um estado que Trump venceu por pouco em 2020.
O debate marca uma série de novidades
Trump e Biden não estiveram no mesmo palco nem sequer se falaram desde o último debate, semanas antes da eleição presidencial de 2020. Trump faltou à posse de Biden depois de liderar um esforço sem precedentes e malsucedido para reverter sua derrota para Biden, que culminou na insurreição do Capitólio em 6 de janeiro por seus apoiadores.
A transmissão desta quinta-feira pela CNN foi o primeiro debate eleitoral geral da história. É o primeiro debate presidencial sobre eleições gerais televisionado nos EUA, organizado por um único meio de comunicação, depois que ambas as campanhas abandonaram a Comissão bipartidária de Debates Presidenciais, que organizou todos os confrontos desde 1988.
Com o objetivo de evitar uma repetição dos confrontos caóticos de 2020, Biden insistiu - e Trump concordou - em realizar o debate sem audiência no local e em permitir que a rede silenciasse os microfones dos candidatos quando não fosse a sua vez de falar.