Trump pode explorar imagem de força em contraste à de Biden, dizem especialistas
Por outro lado, os democratas provavelmente argumentarão que a maior circulação de armas é nociva à população, inclusive aos presidente
Ao permanecer vivo após sofrer uma tentativa de assassinato durante um comício na Pensilvânia, no sábado, 13, o ex-presidente americano Donald Trump deve trabalhar a sua imagem como um homem "resiliente e viril", o que pode reforçar um contraste com o seu adversário, Joe Biden, segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast Político do Estadão.
Tiros interromperam no sábado um evento do candidato republicano, que foi retirado às pressas com um ferimento na orelha. Ensanguentado, saiu em fotos com o punho erguido. O caso é investigado como tentativa de assassinato, segundo o FBI.
Para Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), o acontecimento não deve revolucionar o quadro eleitoral, mas dá oportunidades de uma campanha mais favorável aos republicanos.
Primeiramente, aponta o especialista, o evento abre espaço a vitimização de Trump, uma vez que ocorreu na presença de um grande público, foi amplamente registrado por imagens e deve gerar desdobramentos devido às apurações policiais.
Na análise de Cortez, o ex-presidente poderá enfatizar atributos que reforcem diferenças físicas com relação a Biden. Ambos têm idades elevadas, mas o adversário tem sido alvo de questionamentos sobre as suas condições físicas para uma reeleição.
"O evento deve propiciar imagens de um Trump resiliente, reforçando uma força do Trump e uma fraqueza do Biden", projeta Cortez. "As redes sociais já mostram isso, com a circulação de imagens de forte apelo nessa ótica."
Para Cortez, porém, ainda é preciso verificar como os eleitores vão interpretar os acontecimentos. Por um lado, segundo ele, o atentado a Trump pode aumentar a presença dos republicanos nas urnas, em um sistema eleitoral cujo voto não é obrigatório. Por outro, parte dos americanos pode se posicionar com desconfiança e crer que houve manipulação. Ou seja, o mesmo evento será passível de opiniões muito distintas.
Roberto Goulart Menezes, pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os Estados Unidos, também avalia que a exploração dessa imagem de "virilidade" é uma possibilidade para Trump, mas pondera que o sucesso dessa estratégia depende das investigações.
Para Menezes, Trump deve sustentar a ideia de que é perseguido e de que estão tentando tirá-lo da competição à força. Por outro lado, os democratas provavelmente argumentarão que a maior circulação de armas é nociva à população, inclusive aos presidentes.
"Um Trump inabalável é uma imagem possível de ser explorada por eles. A imagem auto-atribuída de um Trump viril", aponta o especialista, que também é professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "No entanto, é preciso aguardar a investigação e saber as conexões com a candidatura em si do Trump."
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O Serviço Secreto dos EUA informou que o atirador começou o tiroteio por volta de 18h15 (horário local), disparando múltiplos tiros de uma posição elevada fora do local onde aconteceu o comício, e foi morto logo em seguida pelas forças de segurança.
Diante de comparações do atentado a Trump com a facada em Jair Bolsonaro (PL) na campanha eleitoral de 2018, os professores veem situações divergentes.
Embora a vitória de Bolsonaro naquele ano sugira que Trump trilhe o mesmo caminho, Cortez e Menezes destacam que, na época, o candidato brasileiro era mais desconhecido. Com curto espaço na televisão, Bolsonaro cresceu nas pesquisas após o atentado. De 19% no Datafolha de agosto, passou do 1º turno com 46%. Na disputa, também houve uma troca do principal candidato adversário, devido à prisão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Trump, por sua vez, já foi presidente dos Estados Unidos e tem espaço na mídia, portanto, sua imagem está mais estabelecida para seus eleitores e seus opositores. O quadro, portanto, é de uma polarização ainda maior.
"No caso do Trump, o cenário já está polarizado. Com Bolsonaro, em 2018, ainda não estava polarizado tal como nos tempos de agora nos Estados Unidos", pontua Menezes.
A campanha da candidatura republicana diz que Trump irá à convenção do partido entre os dias 15 e 18 de julho, em Milwaukee, onde será anunciado oficialmente como o nome da legenda para a Casa Branca. Os assessores do ex-presidente dizem que ele está "bem". As eleições estão marcadas para novembro deste ano.
Em pronunciamento à imprensa, Biden condenou a violência política no País. "A ideia de que existe violência política ou violência como esta na América é simplesmente inédita. Simplesmente não é apropriado. Todos devem condená-la", disse o presidente.