Lula: se Zelensky 'fosse esperto', diria que a solução para guerra é diplomática e não militar

Presidente também disse ser "inaceitável" que a América Latina e a África não tenham um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU

Publicado em 25/09/2024 às 20:07

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira (25) que se o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, "fosse esperto", diria que a solução para a guerra entre seu país e a Rússia tem solução diplomática em vez de militar. O ucraniano disse mais cedo na Assembleia Geral da ONU duvidar do interesse pela paz de Brasil e China, que pressionam para que os beligerantes discutam uma forma de encerrar a guerra.

"O que estamos propondo não é fazer a paz por eles. Estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir a Ucrânia enquanto um país soberano e que a Rússia sobreviva. Eles não precisam aceitar a proposta da China e do Brasil porque não tem proposta. Tem uma tese de que é importante começar a conversar. Ele, se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não é militar", disse o presidente brasileiro.

Segundo Lula, Zelensky "só falou o óbvio" em partes de seu discurso. "Ele tem que defender a soberania, é obrigação dele. Ele tem que ser contra a ocupação territorial, é obrigação dele. O que ele não está conseguindo fazer é a paz", disse o petista.

O brasileiro também minimizou as críticas do presidente do Chile, Gabriel Boric, a setores da esquerda que não condenam o regime venezuelano. "Essência da democracia é as pessoas falarem o que querem falar. E a gente escutar o que a pessoa falou. Ele falou o pensamento dele, e eu jamais vou contestar. Se ele pensa aquilo que falou, ótimo. Não vi nenhuma coisa agressiva que o presidente Boric falou", declarou o petista.

Lula deu as declarações em Nova York antes de embarcar de volta ao Brasil depois de participar da Assembleia Geral da ONU.

GUERRA EM ISRAEL

O presidente condenou ainda o governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na atuação na guerra do Oriente Médio, e cobrou que os países que apoiam a nação israelense façam "esforço maior" para que o "genocídio" na região acabe.

Segundo Lula, o mundo não pode aceitar "com normalidade" os conflitos que acometem a Faixa de Gaza, o Líbano e a Cisjordânia

"É importante lembrar que o primeiro-ministro Netanyahu foi julgado pelo Tribunal Internacional que julgou o presidente da Rússia, Vladimir Putin; está condenado da mesma forma que o Putin. É importante lembrar que já foram feitas várias discussões aqui no Conselho de Segurança da ONU, várias tentativas de paz e de cessar-fogo foram aprovadas, e que ele Netanyahu não cumpre. Simplesmente não cumpre", enfatizou o presidente, em coletiva de imprensa realizada em Nova York, após ter participado de atividades relativas à Assembleia Geral das Nações Unidas nesta quarta-feira, 25.

O presidente classificou como "genocídio" os conflitos em curso na Faixa de Gaza.

Lula afirmou que o fortalecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) será importante para que o órgão seja um instrumento que tenha força para tomar decisão - "e as coisas acontecerem". Na esteira, ele criticou os países que "dão sustentação" aos discursos do primeiro-ministro israelense e pediu atuação de tais nações para acabar com o "genocídio".

"Eu, sinceramente, acho que os países que dão sustentação aos discursos do primeiro-ministro Netanyahu precisam começar a fazer um esforço maior para que esse genocídio pare", afirmou Lula. "Eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel, porque tenho certeza de que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio." O brasileiro citou os mortos pelo conflito no Líbano e disse que o número é o maior desde a guerra civil no país.

O chefe do Executivo também disse que o Brasil está "brigando" para libertar os reféns do grupo terrorista Hamas. "Não tem sentido fazer refém pessoas inocentes. E é importante que o Hamas contribua (...), liberar os reféns para que as coisas voltem ao normal", disse. "Acho que a humanidade não pode conviver e aceitar com normalidade o que está acontecendo em Israel, o que está acontecendo na Faixa de Gaza, o que está acontecendo no Líbano, o que está acontecendo na Cisjordânia ocupada", afirmou.

CRISE CLIMÁTICA E ONU

É "inaceitável" que a América Latina e a África não tenham um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, denunciou nesta terça-feira (24) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante da Assembleia Geral da ONU.

"A exclusão da América Latina e da África de postos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável das práticas de dominação do passado colonial", afirmou Lula, lembrando que "estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziadas e paralisadas".

É hora, disse ele, de "restituir à organização as prerrogativas inerentes à sua condição de fórum universal" e dotá-la dos meios necessários para "enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional", onde cresce a "angústia, a frustração, as tensões e o medo".

Lula pediu uma "ampla revisão da Carta" da ONU, o coração do direito internacional, assim como a revitalização do papel da Assembleia Geral e a reforma do Conselho de Segurança para torná-lo mais eficaz e representativo da "realidade contemporânea".

Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção de instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, "não haverá mudança efetiva", disse.

"Não tenho ilusões sobre a complexidade de uma reforma como essa, que enfrentará interesses cristalizados em manter o status quo", afirmou, após seus fracassos anteriores para efetivar a reforma de instituições criadas há quase 80 anos, no fim da Segunda Guerra Mundial.

MEIO AMBIENTE

O presidente brasileiro se comprometeu a apresentar este ano uma Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) alinhada com o objetivo climático de 1,5 ºC e a erradicar a destruição da Amazônia até 2030.

No entanto, ONGs como a 350.org denunciam que o Brasil está expandindo a produção petrolífera, especialmente na Amazônia, algo que o tornará o quarto maior produtor de petróleo do mundo, uma "posição insustentável para um país que busca a liderança climática", afirmam.

O Brasil sediará a COP 30 no próximo ano.

Lula também denunciou a "segunda década perdida" que a América Latina vive desde 2014. O crescimento médio da região nesse período foi de 0,9%, exacerbando as desigualdades, o que tem efeitos "nefastos sobre a paisagem política", lembrou.

Lula promoveu nesta terça-feira um fórum com o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, para defender a democracia frente aos ataques do extremismo e à desinformação.

Tags

Autor