Apoiado pelos Brics, Putin mostra força ao Ocidente antes de cúpula crucial

Com essa cúpula dos Brics, realizada na cidade russa de Kazan, Putin aspira a demonstrar o fracasso da política ocidental de isolamento

Publicado em 22/10/2024 às 20:12

O presidente russo, Vladimir Putin, manteve nesta terça-feira (22) reuniões com os líderes de Índia, China e África do Sul, no contexto de uma cúpula dos Brics que lhe permite reafirmar sua força frente às potências ocidentais, que por sua vez tentam isolá-lo pela invasão à Ucrânia.

O presidente chinês, Xi Jinping, destacou "a profunda amizade" com a Rússia no momento em que o mundo atravessa uma situação "caótica". Já Putin defendeu reforçar as relações bilaterais com Pequim "ainda mais (...) para garantir a segurança global e uma ordem mundial justa".

Pouco antes, o presidente russo havia elogiado, diante do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, as excelentes relações entre seus países, tanto diplomáticas quanto comerciais.

Com essa cúpula dos Brics — grupo de países emergentes —, realizada na cidade russa de Kazan, Putin aspira a demonstrar o fracasso da política ocidental de isolamento e sanções contra Moscou pelo conflito na Ucrânia.

A Rússia ganha terreno militarmente na ex-república soviética e estabeleceu alianças com China, Irã e Coreia do Norte, os maiores adversários dos Estados Unidos.

"Acreditamos que as disputas devem ser resolvidas pacificamente. Apoiamos totalmente os esforços para restaurar rapidamente a paz e a estabilidade", declarou Modi diante do presidente russo.

Desde o início do conflito na Ucrânia, a Índia tenta manter um delicado equilíbrio entre as relações historicamente fortes com Moscou e seu desejo de se aproximar do Ocidente para contrapor a influência da China, seu principal rival regional.

Modi tem evitado condenar a ofensiva russa iniciada em fevereiro de 2022 na Ucrânia, defende o diálogo e até se ofereceu como mediador.

Putin também se reuniu com os presidentes sul-africano, Cyril Ramaphosa, e egípcio, Abdel Fatah al Sisi, e falou por telefone com seu contraparte Luiz Inácio Lula da Silva, que cancelou sua viagem após uma queda em casa, e participará do evento por videoconferência.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, chegou a Kazan de olho em novos investimentos petroleiros, em sua primeira viagem ao exterior após sua contestada reeleição.

Contra a hegemonia do dólar

Putin iniciou sua maratona diplomática nesta terça-feira com uma entrevista com a ex-presidente Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como banco dos Brics.

O presidente russo reiterou o desejo de "um aumento dos pagamentos em moedas nacionais" entre os países dos Brics, o que segundo ele "reduzirá os riscos políticos externos".

A Rússia, sujeita às sanções econômicas ocidentais e com os seus principais bancos excluídos da plataforma internacional de pagamentos Swift, defende a criação de um sistema alternativo à hegemonia do dólar.

O chefe de Estado russo manterá diálogos na quarta-feira com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo país, membro da Otan, pediu para aderir aos Brics, e com o presidente iraniano, Masud Pezeshkian.

Na quinta-feira, ele se reunirá com o secretário-geral da ONU, António Guterres, um encontro anunciado pelo Kremlin, mas não confirmado pelas Nações Unidas.

O presidente russo tem limitado seus deslocamentos no exterior desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de prisão contra ele em março de 2023 por seu suposto envolvimento na deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia, o que Moscou nega.

Portanto, o Kremlin considera "crucial" demonstrar que "existe uma alternativa às pressões ocidentais (…) e que o mundo multipolar é uma realidade", segundo o analista político russo Konstantin Kalachev.

Apesar da anexação da Crimeia em 2014 e de outras regiões ucranianas que reivindica como suas, a Rússia apresenta a sua ofensiva como um conflito provocado pelas ambições hegemônicas dos Estados Unidos.

No entanto, as potências ocidentais e o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acreditam que o Kremlin deseja dominar os seus vizinhos, que estiveram na órbita de Moscou até o final da Guerra Fria.

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