Putin diz que relações EUA-Rússia dependerão de Washington após as eleições

Presidente russo elogiou as "declarações sinceras" sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia feitas pelo ex-presidente e candidato republicano Trump

Publicado em 24/10/2024 às 21:43

O presidente russo, Vladimir Putin, avaliou, nesta quinta-feira (24), que a relação da Rússia com os Estados Unidos dependerá de Washington após as eleições presidenciais de novembro e elogiou a sinceridade de Donald Trump sobre seu desejo de alcançar a paz na Ucrânia.

"O desenvolvimento das relações russo-americanas depois das eleições dependerá dos Estados Unidos. Se eles estiverem abertos, nós também estaremos. E se eles não quiserem, não há problema", declarou o presidente russo em coletiva de imprensa ao fim da cúpula do Brics na cidade russa de Kazan.

Putin elogiou as "declarações sinceras" sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia feitas pelo ex-presidente e candidato republicano Donald Trump, que disputa a Casa Branca com a atual vice-presidente democrata, Kamala Harris.

Trump "falou de querer fazer tudo o que for possível para pôr fim ao conflito na Ucrânia. Me parece que são declarações sinceras. E declarações como esta, de onde quer que venham, são bem-recebidas", disse o líder del Kremlin.

Mas alertou que um eventual acordo de paz com a Ucrânia, onde o Exército russo controla 20% do território, deveria se basear "nas realidades" do campo de batalha.

Os adversários da Rússia "não escondem o seu objetivo de proporcionar ao nosso país uma derrota estratégica", "são cálculos ilusórios que só podem ser feitos por aqueles que não conhecem a história da Rússia", disse Putin.

O líder russo enfrentou apelos dos seus aliados do Brics para pôr fim ao conflito na Ucrânia, onde Moscou lançou uma ofensiva em fevereiro de 2022.

O Brics, um grupo de nove países que representam cerca de metade da população mundial e um terço do PIB do planeta, podem ser "uma força estabilizadora para a paz", disse o presidente chinês, Xi Jinping, principal aliado da Rússia.

No âmbito desta cúpula, Putin se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, seu primeiro tête-à-tête em mais de dois anos, severamente criticado por Kiev.

Guterres disse a Putin que "a invasão russa da Ucrânia constitui uma violação" do direito internacional, assinalou um porta-voz do secretário-geral, que também defendeu uma "paz justa".

"O secretário-geral disse que todos deveríamos viver como uma grande família", "infelizmente, nas famílias há disputas, escândalos, disputas de propriedade e por vezes até brigas", respondeu Putin.

Críticas de Kiev

Guterres criticou insistentemente a campanha militar russa na Ucrânia, que descreve como um "precedente perigoso" para o mundo.

Sua última reunião com Putin foi nas primeiras semanas da ofensiva, quando viajou para Moscou durante o cerco de Mariupol, no sul da Ucrânia.

Desde então, Guterres participou nos esforços de paz entre os dois lados e ajudou a negociar um acordo que permitiu à Ucrânia exportar cereais de seus portos em 2022.

Em seu encontro nesta quinta, Guterres insistiu na necessidade de estabelecer "a liberdade de navegação no Mar Negro", essencial para a Ucrânia e para a segurança alimentar e energética do mundo.

A Ucrânia criticou duramente a decisão de Guterres de se reunir com Putin.

O porta-voz da ONU, Farhan Haq, afirmou que o secretário-geral aproveitaria a reunião com Putin para "reafirmar as suas posições conhecidas sobre a guerra na Ucrânia".

Ele acrescentou que Guterres está pronto para oferecer sua mediação, mas esperaria o momento certo para fazê-lo.

Venezuela denuncia veto do Brasil

O grupo Brics nasceu em 2009 com quatro membros – Brasil, Rússia, Índia e China – e posteriormente expandiu-se com África do Sul, Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos.

A Venezuela vem tentando se juntar ao bloco, mas topou com o veto imposto pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que foi mantido por seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

A delegação brasileira "decidiu manter o veto [...] em uma ação que constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil", denunciou o MRE venezuelano em comunicado.

Apesar disso, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusado de fraude em sua reeleição, participou da cúpula em busca de cooperação e investimentos.

"A Venezuela faz parte da família do Brics, agradeço o convite que me fizeram", disse Maduro, que se mostrou a favor de uma "refundação do sistema das Nações Unidas" e "da necessidade de avançar em passos mais ousados na consolidação do novo banco" do bloco.

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