Venezuela denuncia 'agressão' e veto do Brasil à sua entrada no Brics

Relação entre Brasil e Venezuela esfriou desde as eleições presidenciais venezuelanas de 28 de julho, nas quais Nicolás Maduro foi proclamado reeleito

Publicado em 24/10/2024 às 21:14 | Atualizado em 24/10/2024 às 21:33

O governo da Venezuela denunciou, nesta quinta-feira (24), que o Brasil vetou sua entrada no Brics durante a reunião de cúpula realizada na cidade russa de Kazan, um ato que considerou uma "agressão" e um "gesto hostil" contra o país.

A Venezuela contou com o "respaldo e apoio dos países participantes nesta cúpula para a formalização de sua entrada neste mecanismo de integração", mas "a representação da chancelaria brasileira [Itamaraty], liderada pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que [o ex-presidente Jair] Bolsonaro aplicou contra a Venezuela durante anos", manifestou-se a o Ministério das Relações Exteriores venezuelano em comunicado.

Esta ação "constitui uma agressão à Venezuela e um gesto hostil", continuou o MRE venezuelano, que qualificou o veto de "inexplicável e imoral".

A relação entre Brasil e Venezuela esfriou desde as eleições presidenciais venezuelanas de 28 de julho, nas quais Nicolás Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato, em meio a denúncias de fraude. Desde então, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva insiste na divulgação das atas eleitorais.

Os dois países retomaram as relações bilaterais em janeiro de 2023, depois da ruptura diplomática ocorrida em 2019 pelo reconhecimento de Bolsonaro ao opositor Juan Guaidó como presidente interino.

Maduro e Lula, de fato, falaram de uma "nova época" nas relações em maio de 2023, quando se reuniram no Palácio do Planalto, em Brasília.

A Venezuela buscava há meses ser membro ativo do bloco. Maduro viajou a Kazan, na Rússia, para se reunir com os parceiros do Brics e o presidente russo, Vladimir Putin, manifestou-lhe apoio.

O bloco do Brics foi fundado em 2009 com quatro membros: Brasil, China, Índia e Rússia. Em 2010, a África do Sul se uniu ao grupo. Em 2024, somaram-se Etiópia, Irã, Egito e Emirados Árabes Unidos.

PUTIN A FAVOR

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, encerrou a cúpula do Brics marcada por uma expansão de países parceiros do bloco. Em entrevista coletiva na cidade de Kazan, ele defendeu a inclusão da Venezuela, mas garantiu que o país só entra se houver consenso - por enquanto, o governo brasileiro é contra. "Sabemos a posição do Brasil. Mas não concordamos. A Venezuela está lutando por sua sobrevivência", disse Putin.

A cúpula terminou com a aprovação de uma nova expansão para incorporar 13 países, que poderiam integrar a recém-criada categoria de "parceiros". Cuba e Bolívia fariam parte da lista. A Venezuela, não. O ditador Nicolás Maduro esteve em Kazan para tentar reverter o quadro, se reuniu com Putin, mas voltou de mãos abanando.

Durante a cúpula, Putin abriu as portas do Brics para Nicarágua e Venezuela, com apoio do líder chinês, Xi Jinping. A ideia foi barrada pelo governo brasileiro, por ordem direta de Luiz Inácio Lula da Silva, que tem tido vários atritos com Maduro e com Daniel Ortega, ditador nicaraguense.

Putin falou sobre a objeção de Lula e explicou que a adesão da Venezuela depende do Brasil. "Temos uma regra de consenso para adotar novos associados. Precisamos de um acordo entre os membros. É impossível (a adesão) sem consenso", disse.

 

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