Torcedores israelenses chegam a Tel Aviv após ataques na Holanda

Os atos de violência de quinta deixaram vários feridos. A prefeita da capital dos Países Baixos denunciou o que chamou de "explosão de antissemitismo"

Publicado em 08/11/2024 às 18:07

Um primeiro avião com torcedores israelenses evacuados de Amsterdã aterrissou nesta sexta-feira (8) no Aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, no dia seguinte aos incidentes violentos que ocorreram no contexto de uma partida de futebol, que provocaram reações de indignação ao redor do mundo.

Os atos de violência da noite de quinta-feira deixaram vários feridos. A prefeita da capital dos Países Baixos denunciou o que chamou de "explosão de antissemitismo" e as autoridades israelenses mandaram aviões para repatriar seus cidadãos.

Um primeiro avião "acaba de chegar a Tel Aviv", declarou uma porta-voz das autoridades aeroportuárias israelenses, Liza Dvir, à AFP. Segundo a companhia aérea El Al, trata-se de um voo regular no qual viajavam israelenses retirados de Amsterdã.

Além dos voos regulares, as autoridades organizaram outros quatro voos especiais de evacuação para esta sexta-feira. Outros dois sairão no sábado, indicou Shira Kesselgross, uma porta-voz da companhia, à AFP.

"Todos os voos que aterrissarão a partir de agora são voos de evacuação", disse. "Somando os voos desta manhã, isto significa que uns 1.850 israelenses retornarão para Tel Aviv partindo de Amsterdã", detalhou.

Os confrontos estouraram no centro de Amsterdã, após uma partida da Liga Europa entre Ajax e Maccabi Tel Aviv, que terminou com vitória do time da casa (5-0).

A prefeita da capital holandesa, Femke Halsema, explicou que gangues em motocicletas atacaram torcedores do clube israelense, agredindo-os e chutando-os antes de fugirem, deixando cinco pessoas hospitalizadas.

"Nossa cidade foi profundamente machucada. A cultura judaica foi profundamente ameaçada. É uma explosão de antissemitismo que espero nunca mais ver", declarou.

Os agentes efetuaram 62 prisões, mas o chefe da polícia, Peter Holla, afirmou que as táticas de ataque e fuga dificultaram "excepcionalmente" a prevenção dos incidentes.

A prefeita anunciou medidas de segurança mais rigorosas na cidade, como a proibição temporária de manifestações e um maior reforço policial.

Onda de indignação

O chefe de polícia afirmou que a tensão já era alta 24 horas antes do jogo. Segundo ele, torcedores do Maccabi "destruíram um táxi". "Uma bandeira palestina foi incendiada na Praça Dam", acrescentou, em referência à praça no centro de Amsterdã.

Durante a noite, "a polícia teve que intervir várias vezes para proteger os torcedores israelenses e escoltá-los até seus hotéis", indicou a corporação.

Tanto as Nações Unidas quanto a União Europeia (UE) expressaram sua indignação.

"Ninguém deveria ser objeto de discriminação ou violência por sua origem nacional, religiosa, étnica ou de outro tipo", declarou Jeremy Laurence, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou, por sua vez, que o "antissemitismo não tem lugar na Europa".

O presidente da França, Emmanuel Macron, assinalou que o ocorrido em Amsterdã "traz lembranças das horas mais indignas da história" e o chanceler britânico, David Lammy, declarou-se "horrorizado" pelos incidentes que classificou de "ataques antissemitas".

Nesse mesmo sentido se manifestou o presidente em fim de mandato dos Estados Unidos, Joe Biden, que condenou nesta sexta-feira a violência "antissemita".

"Os ataques antissemitas contra torcedores de futebol israelenses em Amsterdã são abjetos e remetem a momentos sombrios da história quando os judeus eram perseguidos", escreveu Biden no X.

Em Israel, onde as cenas de violência provocaram indignação, o Exército proibiu a todo o seu pessoal viajar aos Países Baixos até segundo aviso.

O chefe da diplomacia israelense, Gideon Saar, falou com seu par holandês, Caspar Veldkamp, para lhe pedir "que garanta a segurança imediata de todos los que estão em perigo".

'Ataques antissemitas'

A violência acontece em um contexto de aumento do antissemitismo em todo o mundo desde o início da guerra entre Israel e Hamas.

O primeiro-ministro holandês, Dick Schoof, denunciou "ataques antissemitas contra israelenses", classificando-os como "inaceitáveis", em uma mensagem no X.

"Estou em contato direto com todas as pessoas envolvidas. [O primeiro-ministro israelense, Benjamin] Netanyahu insistiu em que os autores desses atos sejam encontrados e levados à Justiça", garantiu.

Em Israel, as autoridades reagiram com força e Netanyahu declarou que encarava "o espantoso incidente com máxima seriedade".

Netanyahu ordenou ao Mossad, o serviço de inteligência externa israelense, que elaborasse um plano de ação para prevenir a violência em futuros acontecimentos esportivos.

"O fato de que me atacaram por ser judeu e vir apoiar minha equipe não tem sentido. Não se trata de futebol, mas de antissemitismo e ódio", acrescentou Amit Ganor, um torcedor de 21 anos, no aeroporto de Amsterdam-Schiphol.

Fundado com outro nome em 1906, o Maccabi Tel Aviv é o clube mais antigo e vitorioso de Israel.

Um vídeo não verificado divulgado nas redes sociais e supostamente gravado na quinta-feira parece mostrar alguns torcedores do Maccabi gritando em hebraico: "Acabem com os árabes! Vamos ganhar!"

Cerca de 100 torcedores israelenses haviam se reunido na praça de Dam na quinta-feira, cercados por um grande dispositivo policial, antes de seguirem para o estádio do Ajax, Johan Cruyff.

Ao lado do estádio, estava prevista uma manifestação pró-Palestina que acabou sendo deslocada para uma área mais afastada por motivos de segurança.

As autoridades israelenses instaram nesta sexta-feira os torcedores do time de basquete do Maccabi Tel Aviv a evitarem uma partida na Itália, por temor de "uma onda de ações similares".

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