G20: Clima, fome e conflitos geopolíticos dominam a agenda da cúpula no Rio
Guerras e mudanças climáticas dominam os debates enquanto líderes globais, liderados por Lula, buscam soluções para fome e pobreza
Embora o Brasil quisesse evitá-lo, as guerras na Ucrânia e em Gaza marcaram os debates no início da cúpula do G20 nesta segunda-feira (18) no Rio, enquanto o presidente chinês, Xi Jinping, alertou que o mundo entra em um período de grandes mudanças.
Depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu o encontro dos maiores líderes mundiais com o lançamento de uma ambiciosa aliança global contra a fome, Joe Biden tocou no assunto.
Um dia depois de autorizar Kiev a usar mísseis americanos de longo alcance contra alvos militares russos, o líder democrata pediu apoio à soberania da Ucrânia.
"Os Estados Unidos apoiam fortemente a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Todos nesta mesa deveriam fazer o mesmo", disse Biden no seu discurso, na presença do ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov.
No último fim de semana, a Rússia realizou um dos piores ataques dos últimos meses em solo ucraniano. A autorização de Washington para usar mísseis - de acordo com um alto funcionário dos EUA ,que falou sob condição de anonimato - poderia levar os aliados europeus a rever a sua estratégia.
Biden também pediu aos seus homólogos que "aumentem a pressão" para que o Hamas aceite um cessar-fogo, algo que o movimento islamista "atualmente rejeita", para pôr fim ao conflito com Israel.
"O mundo está entrando em um novo período de grandes mudanças", resumiu Xi Jinping ao se reunir com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, antes da abertura do evento no Museu de Arte Moderna (MAM) na cidade do Rio de Janeiro.
Clime
Mesmo antes da abertura, não estava previsto um consenso fácil sobre as questões dominantes, inclusive a mudança climática.
O texto final do G20 "já está fechado, mas alguns países querem abrir alguns pontos sobre as guerras e o clima", explicou nesta segunda-feira uma fonte do Itamaraty.
Os líderes das principais economias, que representam 85% do PIB global e 80% das emissões de carbono, buscam desbloquear pontos como o financiamento da luta contra a mudança climática e a transição das energias fósseis para energias limpas.
No domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, instou-os a fazer "concessões" para permitir "um resultado positivo na COP29", que acontece em Baku (Azerbaijão).
"O fracasso não é uma opção", disse Guterres, enquanto o mundo caminha para um novo recorde de temperatura global este ano.
Nas negociações climáticas, o retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro é igualmente importante. O republicano garantiu que retirará mais uma vez os Estados Unidos do Acordo de Paris, o que poderia dificultar os esforços da comunidade internacional.
Fome e pobreza
Lula expressou, no domingo, o seu desejo de que as guerras não monopolizassem a cúpula para que os líderes se concentrassem nas necessidades dos mais pobres.
Como havia prometido, lançou uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza para acabar com esta "chaga que envergonha a humanidade", à qual aderiram 82 países.
A aliança propõe erradicar a fome e a pobreza até 2030, além de reduzir as desigualdades.
A Argentina, liderada pelo ultraliberal Javier Milei, aderiu à iniciativa de última hora, após o seu lançamento, explicou uma fonte brasileira à AFP.
Milei e Lula, que mantêm uma relação tensa desde antes de o governante argentino assumir o poder em dezembro, tiveram um encontro frio, para dizer o mínimo.
Os dois dirigentes mal se entreolharam e posaram diante das câmeras com semblante sério e distante, o que contrastou com o restante dos apertos de mão dados pelo anfitrião Lula.
A Argentina levantou objeções ao projeto da declaração final e não tem "necessariamente" motivo para assinar o texto final, indicou o chefe da delegação desse país, Federico Pinedo, sem detalhar os pontos de desacordo.
China: reforçar o Sul global
À margem da cúpula, Xi Jinping reuniu-se com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, nesta segunda-feira, informou a emissora estatal chinesa CCTV, a primeira reunião bilateral entre líderes de ambos os países desde que o próprio líder chinês se encontrou com Theresa May, em fevereiro de 2018.
Após a reunião de dois dias, o presidente chinês irá a Brasília para um encontro com Lula para estreitar os laços entre estes dois gigantes do chamado Sul global.
"Entramos em um cenário global muito mais imprevisível, mas também com muito mais espaço para que os países do Sul (...) articulem suas próprias visões", destaca Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.