Vice-chanceler russo confirma que Assad está na Rússia
Presidente deposto da Síria, Bashar al Assad, e sua família estão em Moscou diante da ofensiva de grupos rebeldes liderados por islamistas radicais
O presidente deposto da Síria, Bashar al Assad, está na Rússia, confirmou o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia nesta terça-feira (10), em uma entrevista transmitida pela emissora americana NBC.
"O presidente Assad está na Rússia", assegurou Serguei Ryabkov ao canal de televisão americano, acrescentando que o líder deposto foi levado ao país "da forma mais segura possível".
"Isto demonstra que a Rússia está agindo como deve em uma situação tão extraordinária", acrescentou.
Citando uma fonte do Kremlin, as agências de notícias russas anunciaram no domingo que Assad, aliado da Rússia, e sua família estão em Moscou após deixar a Síria diante da ofensiva relâmpago de grupos rebeldes liderados por islamistas radicais, que entraram em Damasco durante a noite de sábado e a madrugada de domingo.
Na segunda-feira, entretanto, a presidência russa não quis confirmar a presença de Assad em seu território.
A Rússia atua militarmente desde 2015 em favor de Assad na Síria, onde uma guerra civil teve início em 2011 com a dura repressão a manifestações pró-democracia.
Questionado se Moscou entregaria o presidente deposto para ser julgado a pedido do povo sírio ou do Tribunal Penal Internacional (TPI), Ryabkov respondeu que a Rússia "não é parte do tratado que o TPI estabelece".
Vida na Síria continua sem Assad
Cautelosos, mas felizes por poderem voltar a sair, os habitantes de Damasco se animaram nesta terça-feira (10) a deixar suas casas para fazer compras no mercado ou sentar-se nos cafés, dois dias após uma coalizão de grupos rebeldes tomar a capital síria.
Na cidade onde homens armados com uniformes substituíram soldados e policiais do governo de Bashar al Assad, deposto no domingo, a vida está lentamente voltando ao normal.
"Tínhamos muitos medos e estávamos muito tensos, mas decidimos sair e retomar nossa vida normal", diz Rania Diab, uma médica de 64 anos, que se encontrou com amigos em um café no distrito de Qassaa pela primeira vez desde a queda do governo.
"Mas ainda somos cautelosos, voltamos para casa cedo, a situação ainda não está clara", acrescenta. A médica tem esperança de "viver de maneira normal em nosso país, que nossas liberdades sejam preservadas [...] e que possamos viver com segurança e liberdade de opinião".
Nesse bairro predominantemente cristão, os cafés estão lotados; alguns fumam narguilé, outros jogam cartas. O toque de recolher imposto desde domingo na capital foi flexibilizado e agora começa às 21h locais (15h de Brasília), em vez de 17h, até a manhã seguinte.
Em um mercado popular de Bab Sreijeh, no centro de Damasco, os moradores também respiram aliviados.
Lina al Ustaz se atreve a sair de casa com o marido pela primeira vez desde a queda do governo no domingo para ir ao mercado. Sorri ao ver e sentir o burburinho entre vendedores e clientes.
Ela está voltando às suas atividades, "afinal, é preciso viver bem", diz a mulher de 57 anos. "Estávamos um pouco preocupados, mas desde domingo já não temos medo."
Após hesitar um pouco, confessa que foi presa em 2015 pelas forças governamentais. "Os sírios amam a vida, e a vida continua. Espero que o futuro seja melhor para os jovens", afirma.
Em uma ofensiva relâmpago lançada em 27 de novembro no norte da Síria, uma coalizão de rebeldes liderados por islamistas radicais entrou em Damasco no domingo, encerrando mais de 50 anos de governo do clã Assad.
Sem álcool
Nas ruas, rasgaram cartazes de Bashar al Assad, e a bandeira da revolução - verde, branca e preta - substituiu a bandeira oficial síria - vermelha, branca e preta - adotada sob o governo de Hafez al Assad.
Cartuchos de balas vazios espalham-se pela enorme Praça dos Omíadas, no centro de Damasco, onde as celebrações ocorrem ao som de músicas revolucionárias.
Após mais de meio século de repressão, as pessoas parecem conversar entre si de forma mais livre.
Homens de diferentes grupos rebeldes circulam uniformizados, fortemente armados e às vezes mascarados pelas ruas da capital. Soldados e policiais do regime abandonaram seus postos em massa no domingo.
Na sede da polícia de Damasco, agentes do autoproclamado governo rebelde de Idlib, cujo líder Mohammed al Bashir foi nomeado chefe de um governo de transição nesta terça-feira, estão assumindo posições.
Um homem que se apresenta como o novo chefe da polícia, mas se recusa a dar seu nome, informou à AFP que eles vão começar a exercer suas funções nos próximos dias.
"Vamos garantir a segurança de todos os prédios governamentais e manter a ordem na capital", disse.
No coração histórico de Damasco, os bares do bairro cristão de Bab Tuma, onde normalmente se serve álcool, continuam fechados, e os restaurantes abertos em geral não estão oferecendo bebidas alcoólicas, por precaução, enquanto aguardam as regras dos novos governantes.