Os horrores da prisão de Saidnaya, símbolo das piores atrocidades do clã Assad

No domingo, após entrarem em Damasco, os rebeldes sírios anunciaram que tomaram o controle da prisão de Saidnaya e libertaram detidos

Publicado em 14/12/2024 às 10:43 | Atualizado em 14/12/2024 às 10:44
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A prisão de Saidnaya, ao norte de Damasco, é tristemente famosa por suas condições desumanas e seu papel central na repressão violenta exercida pelo clã Assad, especialmente desde o início da guerra civil em 2011.

O centro penitenciário, onde ocorreram diversas execuções extrajudiciais, torturas e desaparecimentos forçados, simboliza as atrocidades cometidas pelo presidente Bashar al Assad contra seus opositores.

No domingo, após entrarem em Damasco, os rebeldes sírios anunciaram que tomaram o controle da prisão de Saidnaya e libertaram detidos, alguns encarcerados desde os anos 1980.

Segundo a Associação de Detidos e Desaparecidos da Prisão de Saidnaya (ADMSP), mais de 4 mil prisioneiros foram libertados pelos rebeldes.

As imagens de prisioneiros desnutridos e desorientados, alguns carregados por companheiros devido à extrema fraqueza, deram a volta ao mundo, revelando as terríveis condições desse centro penitenciário que a Anistia Internacional qualificou de "matadouro humano".

Tortura e crematório

A prisão foi construída nos anos 1980 durante o mandato de Hafez al Assad, pai de Bashar.

Originalmente destinada a abrigar prisioneiros políticos, principalmente opositores ao governo, incluindo membros de grupos islamistas e ativistas curdos, foi se tornando ao longo do tempo um símbolo do controle impiedoso do Estado sírio sobre seus cidadãos.

Em 2016, investigadores da ONU declararam que "o governo é responsável por atos que constituem extermínio e são equivalentes a um crime contra a humanidade", incluindo os cometidos em Saidnaya.

Em 2017, a Anistia Internacional documentou milhares de execuções na prisão, referindo-se a uma "política de extermínio".

Pouco depois, os Estados Unidos apontaram a existência de um "crematório" utilizado para destruir os restos de milhares de prisioneiros executados.

Em 2022, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou que aproximadamente 30 mil pessoas foram detidas em Saidnaya, muitas submetidas a torturas extremas. Somente 6 mil delas foram libertadas.

Execuções e necrotério improvisado

A ADMSP estima que mais de 30 mil prisioneiros foram executados ou morreram em Saidnaya entre 2011 e 2018 devido a torturas, falta de atendimento médico ou fome.

A associação acusa as autoridades de criarem necrotérios improvisados para conservar os cadáveres com sal, na ausência de câmaras frigoríficas.

A maioria dos detidos restantes é oficialmente considerada desaparecida. As famílias raramente recebem certificados de óbito, a menos que paguem subornos exorbitantes em um esquema generalizado de extorsão.

Em 2022, a ADMSP publicou um relatório que descreve pela primeira vez as "câmaras de sal" criadas em Saidnaya.

Segundo o relatório, a primeira câmara de sal foi estabelecida em 2013, um dos anos mais sangrentos do conflito sírio.

Estrangeiros presos

A prisão de Saidnaya, para a qual foram até domingo milhares de familiares de desaparecidos na esperança de encontrar seus entes queridos em celas subterrâneas, está agora vazia.

Vários estrangeiros estiveram detidos nas prisões sírias, como o jordano Usama Beshir Hasan al Bataynah, repatriado na terça-feira após passar 38 anos preso na Síria. Ele foi encontrado "inconsciente e amnésico", segundo Amã.

De acordo com a Organização Árabe de Direitos Humanos na Jordânia (OADHJ), "o número de jordanianos detidos nas prisões sírias chega a 236, a maioria em Saidnaya, perto de Damasco".

Um libanês, Suheil Hamawi, de 61 anos, retornou na segunda-feira ao seu país após passar 33 anos em prisões sírias, incluindo Saidnaya.

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