Chefe do Canal do Panamá diz que atender a pedido de Trump 'levaria ao caos'

Os Estados Unidos construíram, inauguraram e operaram o canal até que o ex-presidente americano Jimmy Carter chegou a um acordo no ano de 1970

Publicado em 08/01/2025 às 20:04
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Curvar-se à exigência do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que os barcos americanos que passam pelo Canal do Panamá tenham tratamento preferencial "levaria ao caos", disse o administrador da via interoceânica nesta quarta-feira (8).

"Regras são regras e não há exceções", disse o líder da Autoridade do Canal do Panamá, Ricuarte Vásquez Morales, ao Wall Street Journal.

"Não podemos discriminar os chineses nem os americanos nem ninguém", afirmou em entrevista ao jornal americano.

"Isto violaria o tratado de neutralidade, o direito internacional e levaria ao caos", acrescentou.

Os Estados Unidos construíram, inauguraram e operaram o canal até que o ex-presidente americano Jimmy Carter chegou a um acordo na década de 1970 para ceder gradualmente o controle da via marítima às autoridades panamenhas.

Trump é contrário a esse acordo e, na terça-feira, negou-se a descartar o uso da força militar para recuperar o canal. O republicano também ameaçou se apoderar da Groenlândia e a utilizar a "força econômica" contra o vizinho Canadá.

OPOSIÇÃO À CHINA

Trump afirma que a China controla o Canal do Panamá. Por sua vez, Vásquez Morales o contesta e assegura que é uma afirmação "infundada". "A China não está envolvida de nenhuma maneira em nossas operações", disse ele ao Wall Street Journal.

Uma empresa chinesa opera dois portos em cada extremo da via, mas o canal em si é gerido pela Autoridade do Canal do Panamá.

Vásquez Morales insistiu em que a Autoridade do Canal do Panamá não cobra dos navios americanos tarifas mais altas que os demais.

A única exceção a suas normas, acrescentou, é que os navios da Marinha americana recebem tratamento prioritário em virtude do acordo alcançado na década de 1970, o que lhes permite viajar rapidamente entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Na terça-feira, o chanceler panamenho, Javier Martínez-Acha, afirmou que "a soberania" do canal "não é negociável". "É parte de nossa história de luta e uma conquista irreversível".

"As únicas mãos que controlam o canal são panamenhas e continuará sendo assim", frisou.

GROEnLÂNDIA

As declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que não descartou o uso da força para tomar o território autônomo dinamarquês da Groenlândia também geraram "incompreensão" na União Europeia, afirmou nesta quarta-feira (8) o chefe do governo alemão.

"Em minhas conversas com nossos parceiros europeus, houve uma notável incompreensão no que diz respeito às atuais declarações dos Estados Unidos sobre o princípio da inviolabilidade das fronteiras", declarou o social-democrata Olaf Scholz, sem mencionar diretamente Trump.

Esse princípio "se aplica a qualquer país, seja pequeno ou um Estado muito poderoso, é um princípio fundamental do direito internacional", afirmou em uma coletiva de imprensa em Berlim.

Suas declarações são uma reação às de Trump, que reiterou na terça-feira suas ambições de anexar o canal do Panamá e a Groenlândia, não descartando o uso de força para alcançar tal objetivo.

"Qualquer Estado deve aderir" ao princípio da inviolabilidade das fronteiras, independentemente de estarem "a leste ou a oeste", insistiu o chefe do governo alemão, em alusão tanto à Rússia quanto aos Estados Unidos.

O presidente russo, Vladimir Putin, "violou esse princípio" ao invadir a Ucrânia, o que trouxe "a guerra" para a Europa, acrescentou.

O secretário de Estado em fim de mandato dos Estados Unidos, Antony Blinken, rejeitou as ameaças do presidente eleito e afirmou que isso não aconteceria.

"A ideia expressa sobre a Groenlândia obviamente não é boa, mas talvez o mais importante seja que isso obviamente não vai acontecer", disse ele em uma coletiva de imprensa em Paris.

O chanceler dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, por sua vez, afirmou que seu país estava "aberto a um diálogo" com Washington para salvaguardar os interesses dos Estados Unidos no Ártico.

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