'Eu sabia que ia morrer', revelou Rafael Zimerman, que sobreviveu ao ataque do Hamas em Israel

Zimerman estava no festival de música eletrônica alvo do Hamas; à Rádio Jornal, ele contou os momentos de tensão e como sobreviveu

Publicado em 11/02/2025 às 11:16 | Atualizado em 11/02/2025 às 13:19
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O brasileiro Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque do Hamas a um festival de música em Israel, detalhou, nesta terça-feira (11), os momentos de tensão que vivenciou no fatídico outubro de 2023. 'Eu sabia que ia morrer, na verdade, eu pedi para morrer diversas vezes', disse ele, em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal.

Segundo Zimerman, sua ida para Israel tinha como principal objetivo a segurança. Ele relatou que, cinco meses antes do atentado, foi vítima de dois assaltos à mão armada, em São Paulo.

"Eu me mudei em maio de 2023 para Israel. Cinco meses antes do atentado, que aconteceu dia 5 de outubro. Eu me mudei pela segurança, porque tentaram me assaltar duas vezes em São Paulo. Então, eu resolvo me mudar para Israel por uma questão de segurança", contou. 

Junior Souza/JC Imagem
Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas em Israel. - Junior Souza/JC Imagem
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Rafael Zimerman, sobrevivente do ataque terrorista do Hamas em Israel. - Junior Souza/JC Imagem

Momentos de tensão

Rafael era um dos presentes no festival de música eletrônica Supernova, no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que foi atacado pelo Hamas. "Tudo começou às 6h29 da manhã, quando eu comecei a ver mísseis, na verdade foguetes, vindo de Gaza em direção a Israel. Nesse horário, estava rolando a festa normalmente, quando eu começo a escutar barulho como se fosse fogos de artifício", disse. De acordo com Rafael, logo após a festa ser paralisada, as pessoas começaram a se proteger.

Zimerman e mais dois amigos saíram correndo para encontrar um bunker e se proteger. "Era um bunker muito pequeno, cabia 15 pessoas no máximo, era até meio desconfortável, no final tinham 40 jovens que estavam na festa", disse Rafael sobre o local onde ficaram por cerca de cinco horas. 

"Depois de uns 30 minutos dentro do bunker, eu começo a sentir um tiro nas minhas costas, eu senti o impacto, como se fossem balas nas minhas costas", completou. 

Durante o tempo que ficou escondido no bunker e se fingindo de morto, Rafael relatou que ouvia os terroristas do lado de fora. "Eu sentia que eles [terroristas] tinham prazer nisso, eles riam. Eu sabia que ia morrer, na verdade, eu pedi para morrer diversas vezes. Você saber que não tem saída e não ter pra onde fugir é terrível", relatou. 

Questionado como ficava no esconderijo, ele respondeu: "É um caos, porque você muda de posição, do nada você está por cima de um corpo, do nada você está por baixo de outro corpo. Foi tanta coisa que aconteceu que eu desmaiei". Segundo Rafael, após os terroristas saírem do bunker, apenas nove pessoas tinham sobrevivido, de um total de 40.

'Pilha de corpos'

Ao ser questionado sobre qual cena lhe marcou mais durante as horas de tensão, ele revelou que viu uma pilha de corpos pegando fogo. "Depois eu descobri que os terroristas pegaram os jovens que estavam lá e colocaram fogo neles", disse.

Apesar de ter vivenciado tudo isso, Zimerman conseguiu escapar com vida, com sua amiga. Porém, o outro amigo, que também estava no bunker, não conseguiu sair com vida.

A volta e a decepção

Questionado sobre como foi a volta para o Brasil, Rafael disse que veio em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB), mas nenhuma autoridade recepcionou os passageiros. "Eu vim no último voo da FAB, ninguém veio recepcionar o avião, nenhuma figura pública, ninguém do governo. Mas o presidente recepcionou os palestinos, que têm dupla nacionalidade. Eu acho isso ótimo, mas eu acho que ele deveria ter feito isso comigo também. Então eu senti um peso e medida diferente", disse. 

"A palavra que me vem é decepção. Eu fui um dos únicos brasileiros que saiu como ferido pelo Itamaraty. Nem eu, nem minha família recebemos uma mensagem, uma ligação para ver como eu estava", complementou. 

Ativista contra o antissemitismo

Após voltar para o Brasil, Rafael Zimerman se tornou ativista contra o antissemitismo e em defesa da paz. "Entendi que eu tinha uma luta, uma luta contra o terrorismo, uma luta pela paz contra o antissemitismo", afirmou. 

Atualmente, ele atua como embaixador do movimento Pin For Peace, e trabalha como analista educacional da ONG StandWithUs, onde organiza palestras e debates sobre o conflito no Oriente Médio. 

"Do fundo do coração, eu não quero vingança, não sinto ódio, eu sinto muito tristeza pelo dois lados, não é um jogo de futebol, não tem um vencedor em uma guerra", disse Rafael. 

"Eu acredito muito no bem, eu acredito muito na vida. Eu sempre comento que eu estava dançando e uma hora depois tentaram tirar minha vida da forma mais bruta possível", completa. 

Visita

Rafael Zimerman desembarcou no Recife para compartilhar sua história de resiliência e superação. Ele realizou visitas a escolas e se reuniu com autoridades e lideranças do Estado. A passagem dele pelo Estado foi organizada pela Federação e o Centro Israelita de Pernambuco e pela instituição judaica “Na’amat Recife - Mulheres Trabalhadoras e Voluntárias.”

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