Por Joaquim Falcão*
Votar evidencia laço entre eleitor e político tecido por várias identidades: ideologia comum, empatia, interesses econômicos, crença religiosa, carisma, opção partidária e tantas outras.
O que é um voto senão um ato de confiança?
Qualquer gesto, sorriso, fala, a distância entre pensamento e a ação, poderia dizer Hamlet, são hoje tecnologicamente captados, visualizados e traduzidos pelo eleitor. Para o bem ou para o mal.
Vejam a eleição agora nos Estados Unidos. A personalidade conta.
Donald Trump passa a mensagem de agressivo e onipotente. Sua mensagem é a luta pelo poder. Enfatiza perigos, disputas, competições, medos, armas e etnocentrismo. O egocentrismo pessoal fundamenta o unilateralismo americano. A exclusão – você está demitido! (you’re fired!) – em vez da inclusão. Para Trump, conviver com o outro é risco. Ato quase desagradável.
Biden busca a agradabilidade entre polos interativos, eleitor e político, diria Cláudio Souto. Família convergente.
Nesta semana, Jarbas Vasconcelos fez aniversário. Perguntei-me qual laço que tem ligado o eleitor que vota em Jarbas?
Lembrei então do laço da amizade, da empatia e do pertencimento.
Primeiro, nasce a amizade de Jarbas por seu partido, o PMDB. Quase obsessão. Foi e é PMDBista, sobretudo nas horas incertas. Através do partido, fez-se e é amigo dos eleitores. Amizade verdadeira exige certa permanência.
Foi candidato em 12 eleições: deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito e governador. Só perdeu 2 vezes: em 1978 e 1990. Depois, nunca mais. Amizade de quase 50 anos na vida pública.
A amizade vai além da confiança eleitoral.
É mútua e convergente com a cultura popular pernambucana. Coleciona arte popular e artesanato como o ar que respira. Sabe tudo sobre esses seus amigos. Todos. Em sua casa. Partilham mútua estética. J. Borges, Maria Amélia ou Zezinho de Tracunhaém.
Amigos também em nossa comida. Não na gastronomia de refinamentos e elegâncias. Mas na comida de verdade. O cozido dionisíaco e pantagruélico, temperado de seu próprio entusiasmo. O sarapatel, calicezinho de pitu, caju, bode, cabrito, dobradinha, buchada e tudo mais. E cartola.
Nélida Piñon, famosa escritora e ativista da Academia Brasileira de Letras, diante de um muito alemão chucrute alemão com salsichas, repolhos, defumados e Barolo, no jantar, se suspirou quase exaurida: “Só gosto de comida que mata!”. Tal como Jarbas.
Amigos no frevo e carnaval. Não esqueço do espanto de turista carioca em prévia do Eu Acho é Pouco, em Olinda, apontando: “Mas aquele ali, em pé, balançando em cima da mesa, é o prefeito?” Era Jarbas. Em francês, un homme à femmes.
Partilham pertencimento a Pernambuco e ao Brasil. Não aquele produzido em estatística e laboratórios. Líder nacional, nunca se desfez de ser líder local.
Não é amizade imprevisível ou fugaz. O eleitor espera inclusive rompantes de coragem, pessoal e política. Cara braba as vezes. De enfezado, como dizem. Silêncios enigmáticos.
A amizade entre Jarbas e o eleitor nos educa na democracia.
“Oi, amigo!”. É assim que responde no celular. E na vida.
*Joaquim Falcão é jurista e membro da Academia Brasileira de Letras
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