Opinião

Quais os projetos estão sendo elaborados pelos pré-candidatos para resolver as questões que inquietam a sociedade?

Sem essas respostas, as análises sobre as movimentações no tabuleiro político ficam um tanto quanto perdidas

PRISCILA LAPA
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Publicado em 14/02/2022 às 6:04
ZECA RIBEIRO/PR
PEC 22/11 fixa regras para a remuneração dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias - FOTO: ZECA RIBEIRO/PR
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A política é, também, a arte de replicar fórmulas de sucesso. Existe uma ansiedade dos políticos em encontrar o caminho para manter-se no poder e não deixar que outros grupos exerçam a liderança sobre determinado eleitorado. Isso é mais do que uma estratégia eleitoral: trata-se de um modus operandi. Reconhecê-lo não é diminuir a importância da política como alicerce da sociedade. É apenas perder um pouco das ilusões, entre elas a de que “desta vez, será tudo diferente”.

A pergunta que deveríamos fazer agora é: quais os projetos estão sendo elaborados pelos partidos e pré-candidatos para resolver as relevantes questões que inquietam a sociedade? Quais são, aliás, as questões prioritárias? Quais as bases dos projetos que embasam as já publicadas pré-candidaturas?

Sem essas respostas, as análises sobre as movimentações no tabuleiro político ficam um tanto quanto perdidas. Tentamos seguir os passos das lideranças para estruturar nossa percepção acerca do que será apresentado ao eleitor como agenda prioritária, sob determinadas bases discursivas. Aliás, interessa muito conhecer os principais argumentos das candidaturas que começam a ser forjadas. Quem é o candidato porta-voz de quais ideias e valores para combater o quê? Quem se coloca como adversário ou inimigo de quem, em nome de que causas?

E que tal se abstrairmos quem são as pessoas e focarmos nas ideias? Seguindo-as, podemos, quem sabe?, chegar aos interesses genuínos que movem os partidos e lideranças e decidir o quanto isso representa os nossos anseios e desejos. Estamos bem ressabiados diante das ideias postas. Ao longo do tempo, aprendemos que há uma distância gigante entre o que se prega e o que se faz. Essa é uma das raízes do descrédito da política no Brasil: as promessas vazias. Mas simplesmente abrir mão de ideias não nos leva a um caminho necessariamente mais valoroso.

Há meses vivemos a discussão sobre a viabilidade de uma terceira via na disputa presidencial, como uma espécie de rota de fuga de uma incômoda percepção de polarização que replica os piores pesadelos de 2018. E de novo os elementos postos têm muito mais a ver com personas do que com ideias. Criamos uma armadilha esquisita: à medida que reafirmamos valores e os associamos a ideologias, esvaziamos o debate sobre o que fazer com elas.

A apatia política é um terreno fértil para essas armadilhas. Ainda que a maior parte das pessoas já declare algum nível de interesse sobre as eleições de 2022, a essência das arrumações das alianças permanece distante dos cidadãos. Os resultados disso já são conhecidos, mas ainda há tempo para ser diferente? Depende de onde se coloca o foco. Arrumando na saída, pode-se chegar a resultados mais promissores.

Priscila Lapa, cientista política

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