No Brasil, também estamos em guerra
"A 'guerra' contra a covid-19 ainda não acabou e o mundo está vivenciando outra guerra, igualmente desastrosa, tanto pelas muitas vidas já perdidas como pelas consequências econômicas e sociais que despontam no horizonte."
A “guerra” contra a covid-19 ainda não acabou e o mundo está vivenciando outra guerra, igualmente desastrosa, tanto pelas muitas vidas já perdidas como pelas consequências econômicas e sociais que despontam no horizonte.
Embora o cenário físico do conflito, causado pela invasão da Ucrânia por tropas russas, ocorra a mais de dez mil quilômetros de distância do Brasil, o alastramento de suas consequências ocorreu mais rapidamente do que o avanço da variante mais transmissível do SARS-Cov-2, a Ômicron.
Segundo os especialistas, a economia brasileira será “atacada” por três flancos: os combustíveis, os alimentos e o câmbio. No mundo, a Rússia ocupa o primeiro e o segundo lugar na produção de gás natural e de petróleo, respectivamente, propiciando, portanto, que os preços internacionais destas commodities disparem na direção da estratosfera.
Seremos, também, afetados pela vertente dos alimentos uma vez que a Rússia ocupa, também, a primeira colocação mundial na produção de trigo e a Ucrânia, por sua vez, é a quarta maior produtora do referido grão.
Para tornar a situação mais complexa, a nossa maior parceira na exportação de trigo, a Argentina, amargura uma seca que está comprometendo a safra local. Na esteira desta interlocução, o país comandado pelo Sr. Putin, o “dono da guerra”, é o maior produtor global de fertilizantes, sendo responsável por, aproximadamente, 24% do total (41,58 milhões de toneladas em 2021) do produto importado pelo Brasil.
Vale ressaltar, ainda, que o aumento do diesel se reflete diretamente no preço do frete e, indiretamente, nas nossas mesas, com alimentos mais caros. Finalmente, o terceiro fator pelo qual o conflito no leste europeu pode impactar a economia brasileira será por meio do câmbio desfavorável.
A subida do dólar e da inflação podem forçar o Banco Central brasileiro a aumentar a taxa básica de juros (Selic) além do desejado, comprometendo ainda mais, o crescimento econômico do Brasil.
Se tudo isto não bastasse, a crise humanitária desencadeada pela guerra tem provocado, mundo afora, grande preocupação de chefes do Poder Executivo, sobretudo, daqueles conscientes de sua dignidade, conforme manifestação do Papa Francisco: “Toda guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal”.
Quanto à “guerra” contra a covid-19, ainda não é tempo de abandonar as eficazes medidas protetoras (uso de máscara, distanciamento físico e higienização das mãos) e, devemos, ainda, continuar insistindo no avanço da vacinação da população, sobretudo em crianças e adolescentes, cujos pais ainda ficam hesitantes em consentirem a imunização de seus filhos, graças às ações negacionistas de muitos.
Em tempos de guerra é oportuno citar o lendário primeiro ministro britânico, Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e os animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”.
Antônio Carlos Sobral Sousa, professor Titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação