Sobre a guerra, Hamilton Mourão foi quem deu a declaração mais lúcida

Se sua recomendação de enfrentamento militar não é possível pelas consequências catastróficas que poderia provocar, que as sanções econômicas adotadas pelo mundo sejam as mais duras possíveis
RAUL HENRY
Publicado em 10/03/2022 às 14:37
UCRÂNIA Tropas russas têm tido dificuldade de tomar cidades ucranianas, enquanto governo Putin sofre pressões internas e externas cada vez maiores em múltiplas frentes Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP


Uma guerra injustificável

O mundo vive um momento sombrio da sua história contemporânea.

O que está acontecendo na Europa é uma agressão premeditada, covarde e criminosa de uma potência nuclear contra uma nação que aceitou se desfazer do seu arsenal atômico para viver de maneira soberana.

A atitude russa viola todos os princípios de convivência internacional, que pressupõem o respeito à integridade territorial, à soberania nacional e à autodeterminação dos povos. Nenhum país tem o direito de decidir sobre a existência de outro.

A agressão do autocrata Vladimir Putin à Ucrânia não se justifica sob qualquer hipótese. Não existe versão do Ocidente e versão da Rússia e sim fatos que o mundo está acompanhando em tempo real pela mídia. Buscar ações imperialistas passadas para justificar o injustificável não passa de retórica ideológica maniqueísta que apenas serve para relativizar um ato inadmissível.

Qual foi a violência cometida contra a Rússia, por qualquer país, depois da Segunda Guerra? Esse, inclusive, é um argumento estapafúrdio já que seria impossível ameaçar a maior potência nuclear do planeta. Se alguns pequenos países do leste europeu buscaram abrigo em uma aliança militar é por razões defensivas, por saberem dos perigos de uma vizinhança obscura, militarista e paranoica. O que seria deles se não pertencessem à Otan?

O outro argumento utilizado é igualmente ridículo. Como a Ucrânia poderia ser governada pelo neonazismo se seu presidente é um judeu democraticamente eleito pelo seu povo? Um povo que busca aproximar-se da identidade europeia e afastar-se da autocracia russa, como ficou explícito na revolução de 2014. E se o presidente fosse, de fato, um neonazista, caberia a sua população julgá-lo, e não a uma potência estrangeira.

Depois dos traumas das duas Grandes Guerras, a Europa adotou uma postura pacifista. A União Europeia é a arquitetura institucional e política mais bem realizada de todos os tempos. Países como França e Alemanha, inimigos mortais nesses dois eventos devastadores, tiveram a sabedoria de liderar um tempo de paz e de promover a integração econômica do continente.

Não há um único ato de agressão à Rússia que justifique a cruel iniciativa de Putin contra a Ucrânia. Mais uma vez, o método escolhido por ele é o da violência e o da opressão. O mesmo usado contra jornalistas, opositores e cidadãos que se atrevem a denunciar seus crimes políticos.

A postura vacilante, ambígua e amoral adotada pelo presidente Bolsonaro é inadmissível diante da gravidade dos fatos.

Foi o vice-presidente Mourão quem deu a declaração mais lúcida entre todas as autoridades brasileiras. Se sua recomendação de enfrentamento militar não é possível pelas consequências catastróficas que poderia provocar, que as sanções econômicas adotadas pelo mundo sejam as mais duras possíveis. Se é inevitável pagar um preço para frear a mente doentia de Putin, que ele seja pago.

Não podemos permitir que se repita a tragédia promovida pelo nazismo. Que os estadistas do mundo se inspirem no discernimento e na coragem de Winston Churchill para enfrentar este momento nebuloso da nossa história.

Raul Henry, deputado federal

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