eleições

Quando o candidato rouba a cena do eleitor

O comportamento eleitoral não é tão simples assim de ser interpretado, afinal, a complexidade dos indivíduos em sua atuação individual e coletiva, requer análises, no mínimo, mais sofisticadas.

PRISCILA LAPA
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PRISCILA LAPA
Publicado em 06/06/2022 às 5:00
ANTONIO AUGUSTO/ASCOM/TSE
Urna eletrônica - FOTO: ANTONIO AUGUSTO/ASCOM/TSE
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O eleitor, verdadeiro protagonista em um arranjo democrático, nem sempre é o centro das análises eleitorais, quando tem início o período das disputas. Nessas horas, os candidatos roubam a cena e as análises têm como foco o seu perfil, a sua capacidade política, a sua eloquência (ou a falta dela).

Mas a chave de resposta para se compreender os movimentos e resultados eleitorais está nas motivações e razões de escolhas do eleitor, para além dos rótulos que se possam estabelecer para ele.

No Brasil contemporâneo, o debate parece estar “resolvido” em dizer como vota o eleitor de direita e o de esquerda. E parece óbvio que a escolha é simples: os de esquerda votam massivamente em Lula e os de direita, em Bolsonaro. Ser de esquerda seria assumir todo o conjunto do que o lulismo abarca; ser de direita seria abraçar integralmente o bolsonarismo.

Todavia, o comportamento eleitoral não é tão simples assim de ser interpretado, afinal, a complexidade dos indivíduos em sua atuação individual e coletiva, requer análises, no mínimo, mais sofisticadas.

Ser de esquerda ou de direita é assumir um posicionamento político que congrega um conjunto de valores. Valores são alicerces de uma visão de mundo. Eles podem ser dispersos ou concentrados, mas remetem a vários elementos da vida em sociedade, entre

Por isso que não é trivial definir, em um mundo cada vez mais complexo, o que seria um posicionamento político de direita, de esquerda e de centro.

Geralmente queremos fazer com que os conceitos caibam como uma forma e determinem como as pessoas se comportam. Mas não é bem assim que acontece.

Exercemos diversos papéis na sociedade, o que contribui de diversas formas para a formatação dos nossos valores.

Os comportamentos são voláteis e, muitas vezes, reféns das circunstâncias. Entre a forma como enxergamos o mundo e o nosso comportamento, há distâncias consideráveis.

Pesquisa Datafolha, realizada nos dias 25 e 26 de maio, detectou nuances interessantes sobre a identificação do eleitor brasileiro com a direita e a esquerda. O estudo abrangeu temas que separam as duas visões de mundo, como drogas, armas, criminalidade, migração, homossexualidade e impostos.

Os resultados mostram que 49% se identificam com ideias próximas à esquerda; 34% têm ideias próximas à direita e 17% se localizam ao centro.

E dentro de cada um do conjunto de temas, há variações específicas, ora mais à direita, ora mais à esquerda, ora com afirmação dos valores considerados de centro.

Quanto mais fugirmos de rótulos que simplificam e não explicam, mais podemos compreender as movimentações atuais na sociedade, que se refletem na política. É um bom exercício interpretativo, que nos liberta de rótulos que não nos cabem.

Priscila Lapa, cientista política

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