Corrupção não é doença

PRISCILA KRAUSE
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PRISCILA KRAUSE
Publicado em 01/08/2020 às 6:00
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Há muitos motivos para o sofrimento coletivo em tempos de pandemia. O mais fácil de ver e difícil de conter é o medo da contaminação. Mesmo com um sistema de saúde bem estruturado, países como a Itália e a Espanha tiveram problemas para atender a população. Nem toda a riqueza que concentram os norte-americanos impede o alastramento da Covid-19 e a liderança disparada no ranking mundial de mortes nos Estados Unidos. E no Brasil, mesmo com a estabilização do contágio em alguns estados, a retomada das atividades tende a ser lenta. Com uma média diária acima de mil óbitos, e a perspectiva de atingir a marca de 100 mil vidas perdidas pela pandemia nas próximas semanas.

Neste cenário desafiador, é digna de aplauso a atuação de profissionais da saúde e de milhares de pessoas em várias áreas, que dedicam parte de seu tempo a cuidar da integridade física e mental dos infectados e suas famílias. Na maioria das vezes, em condições inadequadas, confiando na sorte para dar esperança e conforto a quem precisa. O esforço coletivo conta com os gestores públicos sérios, preocupados com a responsabilidade que carregam, e os possíveis efeitos das decisões que tomam.

Mas o reconhecimento da virtude de tantos não pode fechar os olhos diante do vício de outros. Há um aspecto repugnante da realidade nacional que não deu trégua nem com uma pandemia. Pelo contrário, mostra sua face inescrupulosa se aproveitando das urgentes demandas de saúde pública. A vida de muita gente depende de uma corrida contra o tempo. Ao lado de medidas preventivas, as ações na ponta do tratamento, depois do contágio, devem primar pela agilidade e eficiência. De carona em tais circunstâncias, servidores públicos são tentados a avançar no caminho da corrupção, passando por cima de qualquer vestígio de bom senso e humanidade que porventura possuam. Os órgãos de controle de gastos no Brasil se deparam com um volume inusitado de casos suspeitos, ampliando para além do razoável o arco de preocupações da coletividade. Como se não bastasse o risco de uma doença mortal, vem o temor pela integridade do orçamento público, e até, pela veracidade das afirmações e promessas de alguns gestores. Os tribunais de contas e o Ministério Público não se cansam de recomendar cautela e lisura nos processos que envolvem despesas emergenciais com recursos do contribuinte. Mas nenhum alerta parece parar os corruptos. Até a Polícia Federal foi acionada, fechando o cerco de investigações que têm que ser esclarecidas, em todos os âmbitos possíveis. O cidadão não pode ser vítima duas vezes: da pandemia e da má gestão do dinheiro público. Corrupção não é doença, é desvio de caráter e da lei. Portanto não é erro, é crime.

Priscila Krause, deputada estadual.

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