Adeus, meu velho!

BRUNO BAPTISTA
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BRUNO BAPTISTA
Publicado em 17/08/2020 às 6:00
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Após uma longa batalha contra a covid-19, o meu velho se foi. Luiz Carlos Fontes Baptista foi um apaixonado pela vida. Comer, beber, amar, fumar (pelo menos até o AVC, em 2015), trabalhar, contar histórias engraçadas era com ele mesmo. Sempre intensamente, como ele gostava. Compensou o fato de ser filho único tendo logo quatro. Depois vieram noras, genro e os cinco netos enchendo a casa, como ele adorava. E tinha um orgulho danado dessa prole.

Dentre os muitos ensinamentos, transmitidos pelo exemplo, mostrou ser é possível conciliar seriedade e ética com bom humor e leveza. Como médico, pregava o valor da honestidade e do trabalho. Obstetra, trouxe várias vidas ao mundo e como ginecologista brincava, bem no estilo dele, dizendo que era "porteiro de boate" (trabalhava onde os outros se divertiam). Depois levou pioneiramente a ultrassonografia para o interior do estado e finalizou a carreira fazendo saúde da família e medicina do trabalho. Desde pequeno, ouvi incontáveis vezes ele dizer que a única herança que deixaria seria um nome honesto para nos orgulharmos. E cumpriu.

Com a minha mãe, Rosario, foram quase 50 anos de amor e companheirismo. Sempre ouvimos eles dizerem que priorizavam um ao outro em relação aos filhos, já que nos criavam para a vida e, na velhice, teriam apenas um ao outro. E assim foi. Impossível ouvir a música "My Way" e não lembrar dele, já que em todas as festas, a qualquer banda que estivesse tocando, até mesmo de brega, pedia: "Toca My Way!". Agora, é a nossa vez de pedir esta canção, meu velho, em sua homenagem, com a letra que se ajusta tão bem à sua vida: "Arrependimentos, eu tive alguns. Mas então, tão poucos para mencionar. Eu fiz, o que eu tinha que fazer. E eu vi tudo, sem exceção. Eu planejei cada caminho do mapa. Cada passo, ao longo da estrada. Oh, mais, muito mais que isso. Eu fiz do meu jeito".

Quando ele estava sendo levado para o hospital, nos falamos ao telefone. O que pude dizer foi: "vá tranquilo que vai dar tudo certo!" E no momento da nossa despedida, na última quarta-feira, minutos antes dele partir, disse novamente: "vá tranquilo, meu velho! Iremos nos guiar no seu exemplo para que tudo dê certo. E dê um beijo grande em vovô Vannyldo e vovó Teté por mim!".

Nestas singelas linhas que escrevi sob o calor da emoção para o meu pai, deixo aqui uma homenagem, com meu respeito e solidariedade, às mais de 100.000 famílias brasileiras que perderam entes queridos nesta verdadeira batalha campal contra o coronavírus. A doença é muito grave e não pode ser minimizada, já que cada vida importa, eis que não são meras estatísticas. Rogo que, no refúgio da espiritualidade e na resiliência que nos recobram as forças, possamos trilhar o caminho do exemplo dos que já se foram e do respeito para com todos que estão, no dia a dia, expostos nesta luta. Enquanto não chega a esperada vacina, que esses valores preciosos imunizem a nossa alma.

Bruno Baptista, advogado e filho de Luiz Carlos Baptista

 

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